Concebido como o primeiro edifício giratório do mundo, o Suite Vollard prometia luxo e tecnologia nos anos 1990; duas décadas depois, acumula leilões fracassados, abandono e a pergunta central: por que a inovação não virou caso de sucesso?
O primeiro edifício giratório do mundo nasceu para que o morador mudasse a vista da janela com um comando de voz. Idealizado em 1994 e lançado em 2004, o Suite Vollard, em Curitiba (PR), elevou a régua da engenharia residencial ao permitir que cada andar girasse 360° de forma independente, com a promessa de redefinir a experiência doméstica.
A ambição técnica, porém, não se converteu em adesão de mercado. De acordo com o portal do G1, os apartamentos encalharam, a construtora acumulou dívidas e a torre entrou num ciclo de penhora, vandalismo e leilões vazios. O edifício que girava ficou estático e virou estudo de caso sobre produto, público e timing.
A inovação: um cilindro rotativo para morar

O Suite Vollard é um edifício cilíndrico de 11 pavimentos, cada um com um único apartamento que pode girar 360° sem interferir nos demais. O movimento, acionado por motores dedicados, permite configurar ambientes e vistas ao longo do dia, até com andares rodando simultaneamente em sentidos opostos.
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A proposta era transformar a planta em experiência dinâmica, aproximando morador, sol e paisagem.
Concebido como “edifício conceito” por Bruno de Franco, com desenvolvimento da Moro Construções, o projeto mirava alto padrão e buscava impacto urbano.
A narrativa era futurista: rotacionar sala, quarto e mesa de jantar para o melhor enquadramento possível amanhecer, pôr do sol, skyline.
A forma circular sintetizava a ideia: tecnologia a serviço do cotidiano.
O produto e o mercado: quem compraria 11 unidades?
A conta central do lançamento era simples e dura: existiam 11 compradores para um apartamento giratório em Curitiba?
Em 2004, cada unidade de 164,75 m² saía por cerca de R$ 835 mil (aproximadamente R$ 2,5 milhões em valores atuais).
O ticket alto exigia um público disposto a pagar pela inovação antes da prova de uso, num mercado local conservador e pragmático.
Houve sinalização inicial de vendas, mas renegociações e desistências devolveram unidades à empresa. O ciclo imobiliário virou, e o edifício perdeu tração.
Sem moradores, não houve efeito vitrine; sem vitrine, o diferencial virou risco. O que deveria ser “experiência” ficou no terreno da curiosidade.
Leilões, abandono e burocracia: quanto custa parar de girar
Penhorado para pagar dívidas, o conjunto enfrentou leilões em 2022: lance inicial de R$ 1,4 milhão por unidade sem interessados; nova rodada a partir de R$ 849 mil arrematou apenas um apartamento.
Nem a venda direta com 50% de desconto mudou o quadro. Em 2023, a Construtora Moro entrou em recuperação judicial.
Sem manutenção e sem habite-se válido, a torre não pode ser ocupada, segundo a prefeitura. Fiscalizações dependem de solicitação via 156, e um vigia particular mantém a segurança mínima.
A estrutura envelhece, e o ativo imobilizado perde valor de uso um círculo vicioso em que cada mês custa mais e resolve menos.
O diagnóstico: “prédio redondo em cidade quadrada”
Para o arquiteto Bruno de Franco, a síntese é direta: o produto não encontrou cidade e tempo. Em suas palavras, “prédio redondo em uma cidade quadrada”.
A inovação era real, mas o mercado local mudou mais imediatista, com projetos menos conceituais e maior sensibilidade a preço e manutenção. Sem lastro de demanda, tecnologia vira custo fixo.
O ex-gerente Sérgio Luiz Silka reforça o ponto: a Moro buscava propostas diferenciadas, mas media o apetite do comprador.
O preço, a cultura de consumo e a percepção de risco formaram um tripé difícil de sustentar. Quando o ciclo econômico apertou, o projeto perdeu oxigênio.
Engenharia e operação: por que a lógica giratória pesa no bolso
Rotação independente por pavimento implica motores, controle, manutenção preventiva e protocolos de segurança.
O ciclo de vida desse sistema pede síndico especializado, OPEX estável e fornecedores de nicho. Sem ocupação, o condomínio vira inviável; sem condomínio, a manutenção falha; sem manutenção, o giro para.
Além disso, a curva de aprendizado do usuário não é trivial. Operar vista, insolação e layout dinâmico exige servitização: treinamento, atendimento e contratos claros.
Sem serviços, a tecnologia vira obstáculo. No primeiro edifício giratório do mundo, essa camada não amadureceu.
Viabilidade e reuso: como tirar o ícone da hibernação
Converter a torre em hotel é hipótese apontada por Bruno: estada curta, experiência intensa, alta rotatividade. No turismo de experiência, o giro vira atração, reduz a barreira de compra e monetiza curiosidade. Outra via: modelo híbrido (hotel + eventos + visitas técnicas guiadas), com plano de restauro, retrofit de sistemas e certificações.
Para sair do papel, o caminho passa por estruturar um business case: CAPEX de recuperação, OPEX de operação, governança condominial (ou Proprietário Único), licenças e linha de financiamento.
Sem plano financeiro, a engenharia não anda; sem licenças, o marketing não vende. Viabilidade é sequência, não salto.
Repercussão e legado: o que o mundo viu e o que ficou
O primeiro edifício giratório do mundo projetado em Curitiba ganhou vitrines internacionais, atraindo curiosos, mídia e investidores.
A prova física ele gira distinguiu o Suite Vollard de promessas que nunca saíram do papel. O legado técnico existe: estrutura, sistemas e narrativa de um projeto experimental real.
O legado de mercado, no entanto, é ambivalente. Sem ocupação, não há case de usuário; sem case, não há escala.
O aprendizado permanece valioso para startups de construção, incorporadoras e gestores de ativos: produto disruptivo exige encaixe fino entre técnica, público, preço, manutenção e cidade.
O Suite Vollard permanece marco de criatividade e audácia o primeiro edifício giratório do mundo e, ao mesmo tempo, alerta sobre timing e demanda. A engenharia funcionou; o mercado não.
A reativação depende de reposicionar o “giro” como experiência vendável, com gestão profissional e rota de licenças que destrave a ocupação.
Você moraria ou se hospedaria no primeiro edifício giratório do mundo se ele reabrisse como hotel de experiência? Quanto você pagaria por uma diária que inclui “girar a cidade” da sua cama? Para quem atua no mercado: retrofit com operação hoteleira fecha conta em Curitiba ou dependeria de marca internacional e incentivos urbanos? Deixe nos comentários seu olhar técnico ou de usuário: o que faria esse ícone voltar a girar de forma sustentável?



Construtora Moro, em Curitiba…
Me lembra outra coisa que deu ruim.
Mais um **** relinchando!
No caso, você mesmo quem ta relinchando.
A Justiça Divina virá e fará todos esses juízes, promotores desonestos paguem por ter facilitado a entrada de um polítiqueiro incompetente que freiou(gagou) a economia e mau geriu a saúde na pandemia.E que despertou nas mentes fracas dos facistóides a idolatria, a revolta com as instituições, o medo do fracassado comunismo e o receio e discriminação de dividir espaços, estudos e empregos com aqueles que vieram de categorias sociais mais baixas.
Como hotel, poderia me hospedar por um final de semana, pois é uma novidade, entretanto poderia ser por hora, para ser acessível ao público. É com ficar num brinquedo chapéu mexicano. Serve como ponto turístico para visitação. Já que financeiramente ficou inviável para moradia. Virou um elefante branco que gira.
Acho que deveria ser transformado em shopping e nos dois últimos andares restaurantes aí sim os dois últimos giratórios.. diga se Santiago no Chile!