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O prédio que girava e parou no tempo: a ascensão e o abandono do Suite Vollard, o primeiro edifício giratório do mundo

Publicado em 19/10/2025 às 21:05
Atualizado em 21/10/2025 às 16:06
O Suite Vollard, em Curitiba, foi o primeiro edifício giratório do mundo — um marco de engenharia e inovação que acabou esquecido no tempo.
O Suite Vollard, em Curitiba, foi o primeiro edifício giratório do mundo — um marco de engenharia e inovação que acabou esquecido no tempo.
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Concebido como o primeiro edifício giratório do mundo, o Suite Vollard prometia luxo e tecnologia nos anos 1990; duas décadas depois, acumula leilões fracassados, abandono e a pergunta central: por que a inovação não virou caso de sucesso?


O primeiro edifício giratório do mundo nasceu para que o morador mudasse a vista da janela com um comando de voz. Idealizado em 1994 e lançado em 2004, o Suite Vollard, em Curitiba (PR), elevou a régua da engenharia residencial ao permitir que cada andar girasse 360° de forma independente, com a promessa de redefinir a experiência doméstica.

A ambição técnica, porém, não se converteu em adesão de mercado. De acordo com o portal do G1, os apartamentos encalharam, a construtora acumulou dívidas e a torre entrou num ciclo de penhora, vandalismo e leilões vazios. O edifício que girava ficou estático e virou estudo de caso sobre produto, público e timing.

A inovação: um cilindro rotativo para morar

O prédio que girava e parou no tempo: a ascensão e o abandono do Suite Vollard, o primeiro edifício giratório do mundo

O Suite Vollard é um edifício cilíndrico de 11 pavimentos, cada um com um único apartamento que pode girar 360° sem interferir nos demais. O movimento, acionado por motores dedicados, permite configurar ambientes e vistas ao longo do dia, até com andares rodando simultaneamente em sentidos opostos.

A proposta era transformar a planta em experiência dinâmica, aproximando morador, sol e paisagem.

Concebido como “edifício conceito” por Bruno de Franco, com desenvolvimento da Moro Construções, o projeto mirava alto padrão e buscava impacto urbano.

A narrativa era futurista: rotacionar sala, quarto e mesa de jantar para o melhor enquadramento possível amanhecer, pôr do sol, skyline.

A forma circular sintetizava a ideia: tecnologia a serviço do cotidiano.

O produto e o mercado: quem compraria 11 unidades?

A conta central do lançamento era simples e dura: existiam 11 compradores para um apartamento giratório em Curitiba?

Em 2004, cada unidade de 164,75 m² saía por cerca de R$ 835 mil (aproximadamente R$ 2,5 milhões em valores atuais).

O ticket alto exigia um público disposto a pagar pela inovação antes da prova de uso, num mercado local conservador e pragmático.

Houve sinalização inicial de vendas, mas renegociações e desistências devolveram unidades à empresa. O ciclo imobiliário virou, e o edifício perdeu tração.

Sem moradores, não houve efeito vitrine; sem vitrine, o diferencial virou risco. O que deveria ser “experiência” ficou no terreno da curiosidade.

Leilões, abandono e burocracia: quanto custa parar de girar

Penhorado para pagar dívidas, o conjunto enfrentou leilões em 2022: lance inicial de R$ 1,4 milhão por unidade sem interessados; nova rodada a partir de R$ 849 mil arrematou apenas um apartamento.

Nem a venda direta com 50% de desconto mudou o quadro. Em 2023, a Construtora Moro entrou em recuperação judicial.

Sem manutenção e sem habite-se válido, a torre não pode ser ocupada, segundo a prefeitura. Fiscalizações dependem de solicitação via 156, e um vigia particular mantém a segurança mínima.

A estrutura envelhece, e o ativo imobilizado perde valor de uso um círculo vicioso em que cada mês custa mais e resolve menos.

O diagnóstico: “prédio redondo em cidade quadrada”

Para o arquiteto Bruno de Franco, a síntese é direta: o produto não encontrou cidade e tempo. Em suas palavras, “prédio redondo em uma cidade quadrada”.

A inovação era real, mas o mercado local mudou mais imediatista, com projetos menos conceituais e maior sensibilidade a preço e manutenção. Sem lastro de demanda, tecnologia vira custo fixo.

O ex-gerente Sérgio Luiz Silka reforça o ponto: a Moro buscava propostas diferenciadas, mas media o apetite do comprador.

O preço, a cultura de consumo e a percepção de risco formaram um tripé difícil de sustentar. Quando o ciclo econômico apertou, o projeto perdeu oxigênio.

Engenharia e operação: por que a lógica giratória pesa no bolso

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Rotação independente por pavimento implica motores, controle, manutenção preventiva e protocolos de segurança.

O ciclo de vida desse sistema pede síndico especializado, OPEX estável e fornecedores de nicho. Sem ocupação, o condomínio vira inviável; sem condomínio, a manutenção falha; sem manutenção, o giro para.

Além disso, a curva de aprendizado do usuário não é trivial. Operar vista, insolação e layout dinâmico exige servitização: treinamento, atendimento e contratos claros.

Sem serviços, a tecnologia vira obstáculo. No primeiro edifício giratório do mundo, essa camada não amadureceu.

Viabilidade e reuso: como tirar o ícone da hibernação

Converter a torre em hotel é hipótese apontada por Bruno: estada curta, experiência intensa, alta rotatividade. No turismo de experiência, o giro vira atração, reduz a barreira de compra e monetiza curiosidade. Outra via: modelo híbrido (hotel + eventos + visitas técnicas guiadas), com plano de restauro, retrofit de sistemas e certificações.

Para sair do papel, o caminho passa por estruturar um business case: CAPEX de recuperação, OPEX de operação, governança condominial (ou Proprietário Único), licenças e linha de financiamento.

Sem plano financeiro, a engenharia não anda; sem licenças, o marketing não vende. Viabilidade é sequência, não salto.

Repercussão e legado: o que o mundo viu e o que ficou

O primeiro edifício giratório do mundo projetado em Curitiba ganhou vitrines internacionais, atraindo curiosos, mídia e investidores.

A prova física ele gira distinguiu o Suite Vollard de promessas que nunca saíram do papel. O legado técnico existe: estrutura, sistemas e narrativa de um projeto experimental real.

O legado de mercado, no entanto, é ambivalente. Sem ocupação, não há case de usuário; sem case, não há escala.

O aprendizado permanece valioso para startups de construção, incorporadoras e gestores de ativos: produto disruptivo exige encaixe fino entre técnica, público, preço, manutenção e cidade.

O Suite Vollard permanece marco de criatividade e audácia o primeiro edifício giratório do mundo e, ao mesmo tempo, alerta sobre timing e demanda. A engenharia funcionou; o mercado não.

A reativação depende de reposicionar o “giro” como experiência vendável, com gestão profissional e rota de licenças que destrave a ocupação.

Você moraria ou se hospedaria no primeiro edifício giratório do mundo se ele reabrisse como hotel de experiência? Quanto você pagaria por uma diária que inclui “girar a cidade” da sua cama? Para quem atua no mercado: retrofit com operação hoteleira fecha conta em Curitiba ou dependeria de marca internacional e incentivos urbanos? Deixe nos comentários seu olhar técnico ou de usuário: o que faria esse ícone voltar a girar de forma sustentável?

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Rafael
Rafael
21/10/2025 12:27

Construtora Moro, em Curitiba…
Me lembra outra coisa que deu ruim.

Valmir
Valmir
Em resposta a  Rafael
21/10/2025 20:11

Mais um **** relinchando!

Maria
Maria
Em resposta a  Valmir
22/10/2025 11:22

No caso, você mesmo quem ta relinchando.

Nilson
Nilson
Em resposta a  Rafael
26/10/2025 04:35

A Justiça Divina virá e fará todos esses juízes, promotores desonestos paguem por ter facilitado a entrada de um polítiqueiro incompetente que freiou(gagou) a economia e mau geriu a saúde na pandemia.E que despertou nas mentes fracas dos facistóides a idolatria, a revolta com as instituições, o medo do fracassado comunismo e o receio e discriminação de dividir espaços, estudos e empregos com aqueles que vieram de categorias sociais mais baixas.

Ronaldo
Ronaldo
21/10/2025 06:50

Como hotel, poderia me hospedar por um final de semana, pois é uma novidade, entretanto poderia ser por hora, para ser acessível ao público. É com ficar num brinquedo chapéu mexicano. Serve como ponto turístico para visitação. Já que financeiramente ficou inviável para moradia. Virou um elefante branco que gira.

Cezar Manfron
Cezar Manfron
21/10/2025 04:58

Acho que deveria ser transformado em shopping e nos dois últimos andares restaurantes aí sim os dois últimos giratórios.. diga se Santiago no Chile!

Maria Heloisa Barbosa Borges

Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

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