Entenda as razões históricas, as áreas de atuação e as missões da Armada Boliviana, uma marinha de guerra poderosa em seu contexto, apesar da ausência de mar
A existência de uma marinha de guerra em um país sem acesso ao mar, como a Bolívia, pode parecer um paradoxo. No entanto, a Armada Boliviana é uma instituição ativa, com profundas raízes históricas e funções cruciais que vão além do simbolismo, configurando-se como uma marinha de guerra poderosa dentro de seu teatro de operações específico.
Entenda o mistério por trás da Armada Boliviana, explorando sua justificativa histórica ligada à perda do litoral, suas áreas de atuação em rios e lagos, suas missões de segurança e desenvolvimento, e como ela se compara a outras forças navais de países sem litoral.
A história da perda do litoral e a perene reivindicação marítima
A chave para entender a Armada Boliviana está na Guerra do Pacífico (1879-1883), na qual a Bolívia perdeu seu acesso soberano ao Oceano Pacífico para o Chile. Desde então, a Bolívia mantém uma reivindicação contínua por uma saída para o mar, consagrada em sua Constituição e celebrada anualmente no “Dia do Mar” (23 de março).
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A Armada Boliviana existe, em grande parte, como símbolo dessa aspiração nacional, mantendo viva a “consciência marítima”. Seu lema é “O mar nos pertence por direito, recuperá-lo é um dever”. O Registro Internacional de Buques da Bolívia (RIBB) também reforça essa política de Estado, permitindo que navios arvorem a bandeira boliviana em águas internacionais.
Onde atua e o que faz a surpreendente marinha boliviana?
Apesar da ausência de costa marítima, a Armada Boliviana opera intensamente em suas vastas águas interiores. Suas principais áreas de atuação incluem o Lago Titicaca (o lago navegável mais alto do mundo, compartilhado com o Peru) e as extensas redes fluviais das bacias Amazônica (rios Beni, Mamoré) e do Prata (rio Paraguai).
Suas funções são diversas: patrulha fluvial e lacustre, combate a atividades ilícitas como contrabando e narcotráfico, controle de fronteiras hidrográficas, apoio a comunidades ribeirinhas com suprimentos e assistência médica, pesquisa científica e proteção ambiental. Unidades de elite como a Força-Tarefa “Diablos Azules” e o Batalhão de Comandos Anfibios são especializadas em operações ribeirinhas e táticas. O Centro de Instrução de Buceo en Altura (CIBA) treina mergulhadores para operações em altitude.
As capacidades reais da Armada Boliviana em águas doces
A frota da Armada Boliviana é composta por aproximadamente 173 embarcações adaptadas para rios e lagos. Destacam-se lanchas de patrulha como a PR-51 “Santa Cruz de la Sierra” (navio insígnia) e as modernas da classe Capitan Bretel (Tipo 928 YC) de origem chinesa. A força também possui três navios hospitalares fluviais e embarcações de transporte e instrução.
O efetivo da Armada Boliviana era de aproximadamente 5.000 militares em 2018, dos quais cerca de 2.000 são fuzileiros navais. A formação de oficiais ocorre na Escola Naval Militar da Bolívia. Projetos de modernização incluem a aquisição de novas lanchas patrulheiras rápidas e a construção de uma nova e moderna base naval em Puerto Suárez, na fronteira com o Brasil, para fortalecer a presença na Bacia do Prata.
Uma marinha de guerra poderosa? A força relativa da Bolívia em seu contexto
O termo “marinha de guerra poderosa” aplicado à Armada Boliviana é relativo. Em termos de capacidade de combate naval tradicional em alto-mar, ela não se enquadra. No entanto, sua força reside na capacidade de cumprir suas missões específicas nas complexas hidrovias bolivianas e em seu imenso peso simbólico como guardiã da reivindicação marítima.
Comparada a outras marinhas de países sem litoral, como a do Paraguai (que possui acesso ao Atlântico pela Hidrovia Paraguai-Paraná e uma forte tradição naval), a Armada Boliviana se distingue pela ênfase no simbolismo da perda e da esperança de retorno ao mar.
Desafios e o futuro da Armada Boliviana
A Armada Boliviana enfrenta desafios, incluindo o recente envolvimento de seu então comandante na tentativa de golpe de estado de junho de 2024. Questões orçamentárias, a complexidade da geopolítica regional e os desafios ambientais também são fatores importantes.
Contudo, a instituição continua buscando modernização e cooperação internacional. A construção da base em Puerto Suárez é um movimento estratégico chave. A Armada Boliviana provavelmente continuará sendo um pilar da identidade nacional e um instrumento vital de governança, equilibrando seu legado simbólico com contribuições tangíveis para a segurança e o desenvolvimento do país.