1. Início
  2. / Economia
  3. / O “novo dólar” chinês? Yuan ganha espaço e muda o equilíbrio financeiro global com avanço no comércio internacional e influência inédita desde a 2ª Guerra
Tempo de leitura 6 min de leitura Comentários 0 comentários

O “novo dólar” chinês? Yuan ganha espaço e muda o equilíbrio financeiro global com avanço no comércio internacional e influência inédita desde a 2ª Guerra

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 15/08/2025 às 10:20
O “novo dólar” chinês? Yuan ganha espaço e muda o equilíbrio financeiro global com avanço no comércio internacional e influência inédita desde a 2ª Guerra
Foto: O “novo dólar” chinês? Yuan ganha espaço e muda o equilíbrio financeiro global com avanço no comércio internacional e influência inédita desde a 2ª Guerra
  • Reação
  • Reação
2 pessoas reagiram a isso.
Reagir ao artigo

O yuan ganha espaço no comércio internacional e desafia a hegemonia do dólar, criando influência inédita no FMI desde a 2ª Guerra.

A ascensão da moeda chinesa no comércio internacional está se tornando um dos movimentos econômicos mais significativos desde o fim da Segunda Guerra Mundial. De uma participação quase irrelevante há duas décadas para uma presença cada vez mais sólida nas transações bilaterais e nas reservas de diversos países, o yuan — ou renminbi — está se consolidando como uma alternativa estratégica ao dólar. E esse avanço não é apenas econômico: ele carrega implicações geopolíticas profundas, colocando o Fundo Monetário Internacional (FMI) e os Estados Unidos diante de um cenário inédito em mais de 70 anos.

Do plano doméstico à ofensiva global: como a China construiu a força do yuan

A estratégia de internacionalização do yuan começou timidamente nos anos 2000, quando a China iniciou reformas cambiais para permitir que sua moeda fosse usada em transações comerciais externas.

O verdadeiro impulso veio após a crise financeira de 2008, que expôs a vulnerabilidade de países excessivamente dependentes do dólar.

YouTube Video

Pequim aproveitou o momento para fechar acordos bilaterais de swap cambial com dezenas de países, permitindo que empresas e governos pudessem negociar diretamente em yuan. Hoje, mais de 60 países têm linhas de liquidez com a China, abrangendo regiões estratégicas como América Latina, África, Ásia Central e Oriente Médio.

O avanço no comércio internacional e a diversificação das reservas globais

Segundo dados da Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication (SWIFT), a participação do yuan nos pagamentos internacionais superou 5% em 2024 — um salto expressivo em relação aos 2% registrados apenas quatro anos antes. Embora ainda distante do domínio do dólar (cerca de 46% das transações), o crescimento é acelerado e constante.

No campo das reservas internacionais, o Fundo Monetário Internacional estima que aproximadamente 3% dos ativos mantidos por bancos centrais já estão denominados em yuan.

Pode parecer pouco, mas esse número é estratégico: até 2016, o yuan nem sequer fazia parte da cesta de moedas que compõem os Direitos Especiais de Saque (DES) do FMI. Sua inclusão foi um marco que reconheceu oficialmente a moeda chinesa como parte do núcleo financeiro global.

YouTube Video

A dívida dos países com a China e o peso da Iniciativa do Cinturão e Rota

Outro vetor fundamental da expansão do yuan é o financiamento de infraestrutura global pela China por meio da Belt and Road Initiative (BRI), ou Iniciativa do Cinturão e Rota.

Estima-se que mais de US$ 1 trilhão já tenham sido emprestados a países participantes, grande parte em condições que incentivam o uso do yuan como moeda de pagamento e quitação da dívida.

Essa prática cria uma teia de dependência financeira: ao deverem em yuan, países se veem compelidos a usar a moeda em suas operações comerciais, fortalecendo seu papel nas economias locais e reduzindo a influência direta do dólar.

Setores estratégicos onde o yuan ganha terreno

O avanço da moeda chinesa não acontece de forma homogênea, mas é particularmente visível em setores estratégicos:

  • Energia: contratos de petróleo e gás liquefeito com países como Rússia, Irã e Arábia Saudita já são liquidados parcialmente em yuan.
  • Minérios e metais raros: acordos com países africanos e latino-americanos têm usado o yuan como moeda preferencial, especialmente no fornecimento de lítio, cobre e cobalto.
  • Tecnologia: pagamentos e investimentos em telecomunicações, incluindo parcerias com empresas como a Huawei, frequentemente incluem cláusulas de liquidação em moeda chinesa.

O desafio ao FMI e ao sistema liderado pelo dólar

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o FMI e o Banco Mundial têm funcionado como pilares do sistema financeiro global, com o dólar como base das reservas internacionais e das operações de crédito.

A crescente relevância do yuan desafia essa estrutura, não apenas pela participação no comércio, mas pelo fato de criar redes de liquidez e financiamento paralelas às tradicionais.

O “novo dólar” chinês? Yuan ganha espaço e muda o equilíbrio financeiro global com avanço no comércio internacional e influência inédita desde a 2ª Guerra
Foto: O “novo dólar” chinês? Yuan ganha espaço e muda o equilíbrio financeiro global com avanço no comércio internacional e influência inédita desde a 2ª Guerra

Isso significa que, pela primeira vez em décadas, países endividados têm a opção de buscar recursos fora da órbita do FMI — e sem necessariamente aderir às condicionalidades impostas pelo fundo, que incluem reformas econômicas e políticas.

O papel do BRICS e o alinhamento com parceiros estratégicos

O fortalecimento do yuan está intimamente ligado ao bloco BRICS, onde a China atua como principal força econômica. A ampliação do grupo, com a entrada de países como Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes Unidos, cria novas oportunidades para acordos de comércio em moedas locais, reduzindo a conversão em dólar.

A integração do yuan com iniciativas como o BRICS Pay e sistemas de moeda digital emitida por bancos centrais pode acelerar ainda mais a tendência de desdolarização parcial.

Limites e obstáculos ao “novo dólar” chinês

Apesar do avanço, o yuan ainda enfrenta obstáculos significativos para substituir ou rivalizar o dólar. A moeda chinesa não é totalmente conversível, o que limita seu uso livre nos mercados internacionais.

Além disso, o controle rígido do governo sobre fluxos de capital pode gerar desconfiança entre investidores que valorizam a transparência e a estabilidade institucional do sistema americano.

Outro ponto é que, mesmo com o aumento do comércio em yuan, a liquidez global ainda está amplamente concentrada no dólar, que possui décadas de confiança construída e um mercado de capitais profundo e aberto.

O que esperar para os próximos anos

Analistas divergem sobre o potencial do yuan se tornar um verdadeiro “novo dólar”. Alguns acreditam que a moeda chinesa pode atingir participação de 10% a 15% no comércio global até 2035, especialmente se combinada a moedas digitais de bancos centrais e sistemas alternativos de liquidação. Outros, porém, argumentam que a falta de liberalização total do câmbio e a centralização política da China limitarão essa ascensão.

De todo modo, a expansão do yuan já é suficiente para alterar estratégias comerciais e diplomáticas, forçando governos e empresas a repensar sua exposição ao dólar e suas alternativas de financiamento.

O avanço do yuan não significa a morte do dólar — pelo menos não a curto prazo. Mas, pela primeira vez desde 1945, a arquitetura financeira global está diante de um competidor com peso econômico real, suporte político e ambição de remodelar o comércio mundial. O “novo dólar” chinês pode não substituir o original, mas já está escrevendo seu capítulo na disputa pelo poder econômico planetário.

Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x