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O mar de Aral, que já foi o quarto maior lago do mundo e hoje é um cemitério de navios enferrujados na areia

Publicado em 22/06/2025 às 21:17
A tragédia do mar que virou deserto e se tornou um cemitério de navios enferrujados
A tragédia do mar que virou deserto e se tornou um cemitério de navios enferrujados
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Entenda como uma decisão da União Soviética nos anos 60 transformou o quarto maior lago do mundo em um assustador cemitério de navios enferrujados

O que antes era um imenso mar interior, cheio de vida e que sustentava milhares de pessoas, hoje é a imagem mais poderosa de um desastre ecológico. A história do Mar de Aral é a história de como a ação humana transformou um oásis no deserto em um cemitério de navios enferrujados. Localizado na fronteira entre o Cazaquistão e o Uzbequistão, este local serve, em 2025, como o maior alerta sobre as consequências de ignorar os limites da natureza.

A tragédia começou de forma deliberada. Em poucas décadas, o quarto maior lago do mundo foi reduzido a menos de 10% do seu tamanho original. Onde antes navegavam barcos de pesca, hoje se estende uma vasta planície de areia tóxica. As embarcações, agora inúteis, foram abandonadas onde o mar secou, criando a paisagem desoladora que choca o mundo.

Como era o Mar de Aral antes da catástrofe?

Antes dos anos 60, o Mar de Aral era um ecossistema vibrante. Com uma área de 68.000 km², ele era alimentado principalmente por dois grandes rios, o Amu Darya e o Syr Darya. Suas águas sustentavam uma rica biodiversidade e uma gigantesca indústria pesqueira, que era a espinha dorsal da economia local.

Cidades portuárias como Moynaq, no Uzbequistão, e Aralsk, no Cazaquistão, prosperavam com a pesca. A frota pesqueira do Aral chegava a capturar mais de 43.000 toneladas de peixe por ano, o que representava uma parte significativa de toda a produção da União Soviética. Ninguém imaginava que esse cenário de prosperidade estava prestes a desaparecer.

A decisão soviética que criou um deserto

O mar de aral, que já foi o quarto maior lago do mundo e hoje é um cemitério de navios enferrujados na areia

A catástrofe foi resultado de um plano ambicioso e imprudente da União Soviética. Nos anos 60, sob a liderança de Nikita Khrushchev, os planejadores de Moscou decidiram transformar as áridas planícies da Ásia Central no novo “cinturão do algodão” do país. Para isso, era preciso uma quantidade monumental de água.

A solução encontrada foi desviar massivamente a água dos rios Amu Darya e Syr Darya para irrigar as novas plantações. A engenharia foi brutalmente ineficiente: os canais escavados no deserto não tinham revestimento, e estima-se que até 75% da água era perdida por evaporação e infiltração antes de chegar às lavouras. O mar foi sentenciado à morte, considerado um “sacrifício aceitável” em nome do progresso agrícola.

O legado da destruição, o cemitério de navios enferrujados e a poeira tóxica

As consequências do desvio dos rios foram rápidas e devastadoras. Com sua principal fonte de água cortada, o mar começou a encolher e sua salinidade aumentou drasticamente, matando quase todas as espécies de peixes. A indústria pesqueira entrou em colapso total por volta de 1982. As frotas, agora sem função, foram abandonadas, criando o icônico cemitério de navios enferrujados no meio do novo deserto.

O leito seco do mar, chamado de Deserto de Aralkum, expôs um solo impregnado de sal e resíduos químicos da agricultura. Fortes ventos espalham anualmente milhões de toneladas dessa poeira tóxica pela região, contaminando terras, causando doenças respiratórias e câncer na população local, e até mesmo acelerando o derretimento de geleiras a milhares de quilômetros de distância.

Uma luz de esperança para o norte, um futuro incerto para o sul

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Em meio à devastação, uma história de sucesso surgiu. O governo do Cazaquistão, com apoio do Banco Mundial, construiu a Barragem de Kokaral, concluída em 2005. A barragem separou o Mar de Aral do Norte do Sul, impedindo que a pouca água que chegava ao norte escoasse para a bacia sul, que é mais funda.

Os resultados foram impressionantes. O nível da água no norte subiu, a salinidade diminuiu e os peixes voltaram. A pesca, que havia desaparecido, renasceu e revitalizou a economia local. Em contraste, o Mar de Aral do Sul, no Uzbequistão, continua em declínio terminal. Os esforços por lá se concentram em plantar arbustos para tentar conter as tempestades de poeira, uma aceitação de que o mar, como era antes, não voltará.

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Maria Heloisa Barbosa Borges

Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

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