Fazendo jus à sua história, Minas Gerais se consolida como o maior produtor de ouro do Brasil em valor, mas enfrenta a ascensão do Pará, uma nova e pujante fronteira de mineração na Amazônia.
O estado de Minas Gerais, cujo nome e história estão ligados à mineração, continua a ser o maior produtor de ouro do Brasil. A liderança, sustentada por um setor industrial maduro e por algumas das maiores minas do mundo, é confirmada pelos dados de faturamento e arrecadação de impostos, que colocam o estado no topo do ranking nacional.
No entanto, essa hegemonia é desafiada pela ascensão do Pará. A nova fronteira de mineração na Amazônia, impulsionada por novos projetos e pela força do garimpo, trava uma competição acirrada pelo posto de maior produtor em volume. A disputa entre os dois estados define o presente e o futuro da produção de ouro no país.
A liderança em números: por que Minas Gerais é o número 1?
Os dados financeiros e fiscais não deixam dúvidas sobre a liderança de Minas Gerais. O estado é o que mais gera riqueza com a mineração no país, respondendo por 41,7% de todo o faturamento do setor em 2023.
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Quando se trata de ouro, a dominância é ainda mais clara. Em 2023, Minas Gerais foi responsável por 44,3% de toda a arrecadação de royalties (CFEM) sobre o ouro no Brasil, consolidando sua posição como o epicentro da produção formal e tributada do metal no país.
Os gigantes de Minas: as mega-minas que sustentam a produção
A liderança mineira não se baseia em pequenas operações, mas sim na produção concentrada de gigantes da mineração global. Duas empresas, em particular, ancoram a produção do estado:
AngloGold Ashanti: De origem sul-africana, a empresa opera o Complexo Cuiabá, nos municípios de Sabará e Caeté. Em 2024, a operação foi responsável pela produção de cerca de 7,7 toneladas de ouro.
Kinross Gold: A empresa canadense opera a mina Morro do Ouro, em Paracatu. A operação é tão gigantesca que, sozinha, responde por aproximadamente 22% de toda a produção de ouro do Brasil, com uma produção que já atingiu 17,6 toneladas em um único ano.
A produção combinada apenas desses dois complexos já supera 25 toneladas anuais, mais de um terço de toda a produção industrial de ouro do Brasil.
Pará, o desafiante: a nova fronteira do ouro e a força do garimpo
O Pará se consolidou como a segunda maior potência mineral do Brasil, travando uma competição direta com Minas Gerais. O estado é hoje um dos principais destinos de investimentos para novos projetos de mineração de ouro.
Um exemplo é o projeto Tocantinzinho, da G Mining Ventures, que produziu seu primeiro ouro em meados de 2024 e deve se tornar a terceira maior mina do Brasil. O Pará, no entanto, tem uma característica que torna a comparação de volume complexa: a forte presença do garimpo, tanto legal quanto ilegal. A produção vinda dessa atividade, que é muito significativa, nem sempre é registrada nas estatísticas oficiais, o que pode mascarar o volume total de ouro extraído no estado.
Dois modelos de mineração: a indústria de MG contra a fronteira do PA
A disputa pela liderança reflete dois modelos distintos de mineração. Minas Gerais representa um setor industrial maduro. Os investimentos no estado são focados em otimizar e estender a vida útil de minas que já existem há décadas. O principal desafio é a gestão de passivos ambientais históricos, como as barragens de rejeitos.
O Pará, por outro lado, é a fronteira de expansão. Os investimentos são para projetos “greenfield”, ou seja, a construção de minas totalmente novas. O desafio aqui é outro: os complexos riscos socioambientais de se operar na Amazônia, como o desmatamento e os conflitos com povos indígenas.
Quem é, afinal, o maior produtor de ouro do Brasil?
A resposta para quem é o maior produtor de ouro do Brasil depende da métrica.
Em valor econômico e produção industrial registrada, a liderança é, sem dúvida, de Minas Gerais.
Em volume físico total (toneladas), a disputa é mais acirrada e a liderança mineira é menos conclusiva, pois a produção informal do garimpo no Pará é subnotificada.
O que é certo é que a competição entre a tradição industrial de Minas e a nova fronteira amazônica do Pará definirá o futuro da produção de ouro no Brasil nos próximos anos.