Operado pela Saudi Aramco, o campo de Ghawar foi a pedra angular da energia mundial por décadas, mas seu declínio agora força uma nova era para a Arábia Saudita.
Por mais de 70 anos, a economia global foi sustentada por um gigante adormecido no deserto da Arábia Saudita: Ghawar, o maior campo de petróleo em terra do mundo. Operado pela estatal Saudi Aramco, este colosso geológico, sozinho, forneceu a energia barata que alimentou o crescimento industrial do pós-guerra e garantiu a influência geopolítica do Reino Saudita.
Contudo, após décadas de segredos, a abertura de capital da Aramco em 2019 revelou o que muitos suspeitavam: o gigante está em declínio. Em 2025, embora ainda seja um produtor formidável, a história de Ghawar não é mais sobre petróleo, mas sobre a transição estratégica para o gás, um movimento que define o futuro da Arábia Saudita e o equilíbrio do mercado de energia mundial.
A descoberta em 1948 e a ascensão de um gigante no deserto saudita
A saga de Ghawar começou em 1948, quando geólogos americanos da antecessora da Aramco perfuraram o poço ‘Ain Dar No. 1 e confirmaram a existência de um reservatório colossal. A produção comercial iniciou em 1951, e ao longo da década, novas áreas como Shedgum, ‘Uthmaniyah e Haradh foram colocadas em operação.
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O desenvolvimento metódico revelou a real dimensão do campo: uma única estrutura contínua de 280 km de comprimento por 30 km de largura. Em 1981, Ghawar atingiu seu pico histórico de produção, com uma média de 5,7 milhões de barris por dia, a maior taxa já alcançada por um único campo de petróleo na história, consolidando-se como o ativo mais importante do planeta.
Como a Saudi Aramco gerenciou a produção por 70 anos
A produtividade de Ghawar é fruto de uma geologia quase perfeita. Seu principal reservatório é uma formação de calcário do período Jurássico com altíssima porosidade e permeabilidade, a uma profundidade relativamente rasa, o que facilita a extração.
No entanto, a longevidade do campo é um feito da engenharia. Desde a década de 1970, a Aramco utiliza um programa massivo de injeção de água, bombeando cerca de 7 milhões de barris de água do mar por dia para as bordas do campo. Essa técnica, chamada “waterflooding”, empurra o óleo em direção aos poços produtores e mantém a pressão do reservatório. A gestão dessa “inundação” controlada, combinada com a perfuração de poços horizontais e o uso de “poços inteligentes”, tem sido a chave para sustentar a produção de Ghawar por décadas.
2019: a grande revelação sobre a capacidade real do maior campo de petróleo em terra do mundo
Durante 40 anos, os dados de produção de Ghawar foram um segredo de estado. Isso mudou em abril de 2019, quando a Saudi Aramco, em preparação para sua abertura de capital (IPO), publicou um prospecto com dados auditados. A revelação foi um choque para o mercado.
O documento mostrou que a Capacidade Máxima Sustentável (MSC) de Ghawar era de 3,8 milhões de barris por dia. Esse número era muito inferior às estimativas do mercado, que acreditava que o campo poderia produzir mais de 5 milhões de barris por dia. A própria Agência de Informação de Energia dos EUA (EIA) listava a capacidade de Ghawar em 5,8 milhões de barris em 2017. A divulgação confirmou que o maior campo de petróleo em terra do mundo estava, de fato, em uma fase de maturidade e declínio gerenciado.
Ghawar em 2025: o declínio do petróleo e a nova aposta no gás
Em 2025, Ghawar continua sendo um pilar da produção saudita, mas opera em um novo ritmo. Estima-se que sua produção de petróleo em 2023 foi de cerca de 3,06 milhões de barris por dia, bem abaixo de sua capacidade máxima, refletindo os cortes de produção da OPEP+ e a necessidade de gerenciar o reservatório com cuidado.
A grande mudança estratégica, no entanto, está abaixo do petróleo. A Aramco está investindo pesado para desenvolver as vastas reservas de gás não convencional que existem em formações mais profundas do campo. Em novembro de 2023, a empresa anunciou o início da produção no projeto de gás de South Ghawar, com uma capacidade inicial de 300 milhões de pés cúbicos por dia. A meta é usar esse gás para abastecer a crescente demanda interna de energia, liberando mais petróleo para exportação.
O impacto do declínio de Ghawar na Arábia Saudita e no mercado global
A maturação de Ghawar marca o fim de uma era. Por décadas, a imensa capacidade excedente do campo permitiu que a Arábia Saudita atuasse como o “produtor swing” do mundo, capaz de aumentar a produção rapidamente para equilibrar os mercados. Com a capacidade de Ghawar agora limitada, esse papel se tornou mais complexo e depende de um portfólio de vários outros campos.
O declínio do maior campo de petróleo em terra do mundo forçou a Arábia Saudita a se adaptar. O futuro energético do Reino não depende mais de uma única anomalia geológica, mas da gestão sofisticada de múltiplos ativos e de uma transição estratégica para o gás. Ghawar, a joia da coroa que construiu o mundo moderno, agora impulsiona a transformação de seus próprios guardiões para uma nova era.