O Boeing 777X, herdeiro da bem-sucedida família 777, enfrenta uma jornada turbulenta de certificação, mas sua tecnologia promete redefinir a eficiência em voos de longo curso
O Boeing 777X é uma aeronave de paradoxos. É o avião comercial mais comprido já construído e o maior avião bimotor do mundo, mas foi projetado para se ‘encolher’ e caber nos mesmos espaços de seu antecessor. No entanto, sua jornada para os céus tem sido marcada por uma série de desafios técnicos e um rigoroso processo de certificação que atrasou sua estreia em mais de seis anos.
No centro de seu projeto estão duas inovações revolucionárias: os gigantescos motores General Electric GE9X e, a mais visível de todas, as pontas de asas dobráveis. Essa tecnologia, inédita na aviação comercial, foi a solução de engenharia encontrada pela Boeing para criar uma aeronave extremamente eficiente, sem torná-la grande demais para os aeroportos atuais. Com as primeiras entregas agora previstas para 2026, a expectativa da indústria pela chegada do novo gigante é enorme.
A inovação das asas dobráveis, a solução para caber nos aeroportos
A característica mais marcante do Boeing 777X é sua imensa asa de fibra de carbono. Com as pontas estendidas, a envergadura total chega a 71,75 metros. Uma asa tão longa é excelente para a aerodinâmica, pois aumenta a sustentação e reduz o arrasto, o que se traduz em uma economia de combustível significativa. No entanto, essa dimensão criaria um problema operacional imenso, pois a aeronave seria grande demais para a maioria dos portões de embarque existentes.
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Para resolver esse dilema, a Boeing apostou em uma solução inédita e audaciosa: os últimos 3,5 metros de cada ponta de asa se dobram para cima. Em um processo que leva cerca de 20 segundos, as pontas se dobram para cima quando o avião está no solo, reduzindo a envergadura para 64,85 metros. Isso permite que o 777X use a mesma infraestrutura de seu antecessor, o 777-300ER, sem a necessidade de obras caras por parte dos aeroportos.
O motor GE9X, a força por trás do gigante
O maior avião bimotor do mundo é impulsionado pelos maiores e mais potentes motores a jato comerciais já feitos: os General Electric GE9X. A escala do motor é difícil de imaginar: o diâmetro de sua ventoinha (fan), com 3,4 metros, é maior que a fuselagem de um Boeing 737.
Durante os testes, o GE9X estabeleceu um recorde mundial de empuxo, atingindo 134.300 libras-força. No entanto, na operação diária, sua potência é limitada a 110.000 lbf. Essa prática aumenta a durabilidade do motor e reduz os custos de manutenção para as companhias aéreas. Combinado com as novas asas, o motor GE9X torna o 777X cerca de 10% mais eficiente que seu antecessor.
Uma jornada turbulenta, a longa espera pela certificação
A jornada de desenvolvimento do 777X foi uma tempestade perfeita de problemas. O avião, originalmente prometido para 2020, enfrentou uma série de contratempos que testaram os limites da Boeing. Em 2019, um problema de durabilidade foi encontrado no motor GE9X. No mesmo ano, durante um teste de pressurização em solo, uma das portas de carga explodiu.
O primeiro voo só aconteceu em janeiro de 2020. O maior obstáculo, contudo, veio do novo cenário regulatório pós-acidentes com o Boeing 737 MAX. A agência de aviação americana (FAA) e a europeia (EASA) passaram a adotar um escrutínio muito mais rigoroso, especialmente para uma aeronave com tantas inovações, o que atrasou repetidamente o cronograma.
Como o 777X enfrenta seu rival, o Airbus A350-1000
O 777X foi a resposta da Boeing à ameaça do Airbus A350. A competição entre os dois gigantes é focada na eficiência. Por ser mais leve, o A350-1000 tem um custo menor por viagem. A aposta da Boeing com o 777-9, que é mais pesado mas leva mais passageiros (426 em duas classes, contra cerca de 400 do A350), é ter um menor custo por assento.
Para os passageiros, a escolha envolve um dilema. O A350-1000 geralmente oferece assentos mais largos na classe econômica. O 777-9, por sua vez, terá janelas 29% maiores e posicionadas em uma altura melhor, garantindo uma vista superior para todos a bordo.
O status em 2025 e o futuro do maior avião bimotor do mundo
Em meados de 2025, o programa finalmente parece ter ganhado tração. Após resolver um problema nos elos que prendem o motor à asa, os voos de teste foram retomados em janeiro de 2025. A frota de protótipos já acumulou quase 4.000 horas de voo, e a aeronave com cabine de passageiros completa foi reativada, um sinal de que o programa avança para as fases finais de certificação.
A Boeing reafirma que a primeira entrega do maior avião bimotor do mundo acontecerá em 2026 para a companhia alemã Lufthansa. A maior parte de sua robusta carteira de mais de 500 encomendas, no entanto, está concentrada em clientes do Oriente Médio, como a Emirates. Essa dependência de poucos clientes será crucial para definir se o gigante dos céus se tornará um sucesso comercial duradouro ou um caro lembrete dos riscos da inovação.