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O ‘lítio verde’ tem suas polêmicas: em salares como o do Atacama, a mineração consome centenas de m³ de salmúria e água doce por tonelada e já afeta populações de flamingos

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 04/09/2025 às 15:27
Estudos mostram que o chamado lítio verde consome grandes volumes de salmúria e água doce, afetando ecossistemas frágeis e colocando aves andinas em risco
Estudos mostram que o chamado lítio verde consome grandes volumes de salmúria e água doce, afetando ecossistemas frágeis e colocando aves andinas em risco
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Mineração de lítio: dados inéditos revelam consumo de até 673 m³ de água por tonelada e queda de flamingos no Atacama

O lítio verde, apontado como pilar da transição energética mundial, está longe de ser ambientalmente neutro. Segundo dados compilados pela revista Nature Reviews e relatórios de mineradoras, a extração nos salares da América do Sul exige centenas de metros cúbicos de salmúria e água doce por tonelada produzida, em uma das regiões mais áridas do planeta.

Além da pressão hídrica, pesquisadores já identificaram impactos diretos sobre populações de flamingos no Atacama, no Chile.

Embora o mineral seja estratégico para baterias de carros elétricos e sistemas de armazenamento de energia, especialistas alertam que a cadeia de produção precisa ser revista.

O consumo intensivo de recursos hídricos, somado ao avanço da mineração em áreas ecologicamente sensíveis, revela que a “energia limpa” também carrega contradições ambientais.

Como funciona a extração de lítio nos salares

Nos salares andinos de Chile, Argentina e Bolívia, o método predominante consiste em bombear salmúrias subterrâneas para tanques de evaporação a céu aberto.
Nos salares andinos de Chile, Argentina e Bolívia, o método predominante consiste em bombear salmúrias subterrâneas para tanques de evaporação a céu aberto.

Mais de 90% dessa água evapora, restando sais concentrados que passam por processamento químico.

As mineradoras argumentam que salmúria não equivale a água doce, mas estudos mostram a interconexão entre aquíferos salinos e aquíferos de água doce, o que compromete lagoas superficiais e ecossistemas da região.

No Atacama, a maior produtora local, a SQM, informou à SEC dos Estados Unidos que extraiu 39,6 milhões de m³ de salmúria em 2023, o equivalente a 1.256 litros por segundo.

Um ano antes, foram 31,7 milhões de m³, o que mostra uma escalada na exploração hídrica em um dos desertos mais secos do mundo.

Quanto se consome por tonelada de lítio

Pesquisas recentes revelaram números concretos sobre o impacto hídrico da produção.

No projeto Olaroz (Argentina), o processo por evaporação exige 51 m³ de água doce e 537 m³ de salmúria por tonelada de carbonato de lítio.

Já em Fénix/Hombre Muerto, onde é usado o método de extração direta (DLE), são necessários 135,5 m³ de água doce e 319,6 m³ de salmúria por tonelada.

Ou seja, embora o DLE reduza a quantidade de salmúria utilizada, pode aumentar o consumo de água doce, recurso ainda mais escasso na região.

A escolha da tecnologia depende não apenas da eficiência industrial, mas também da disponibilidade hídrica local.

Impactos sobre a biodiversidade

Pesquisas de longo prazo no Salar de Atacama apontaram uma redução de 10% a 12% nas populações de flamingo-andino e flamingo-de-James em apenas 11 anos.
A mineração de lítio verde já mostra reflexos na fauna.

Pesquisas de longo prazo no Salar de Atacama apontaram uma redução de 10% a 12% nas populações de flamingo-andino e flamingo-de-James em apenas 11 anos.

A combinação de mudanças climáticas e atividades de mineração reduziu os níveis de água em lagoas utilizadas como habitat dessas aves.

Segundo o ecólogo Jorge Gutiérrez, “a mineração de lítio está reduzindo os níveis de água e aumentando as perturbações para os flamingos”.

Esses dados evidenciam que o impacto vai além do meio físico, atingindo diretamente a biodiversidade andina.

A promessa e os limites da extração direta

A extração direta de lítio (DLE) é apresentada como alternativa “mais sustentável”. Ela dispensa as lagoas de evaporação e permite a reinjeção parcial da salmúria.

No entanto, análises publicadas em Nature Reviews indicam que o método ainda consome água doce, demanda energia e gera resíduos químicos.

Seus efeitos variam conforme a geologia e a química de cada salar, o que impede classificá-lo como solução definitiva.

Empresas do setor tentam melhorar sua imagem com metas ambientais.

A SQM prometeu reduzir em 50% a extração de salmúria até 2030 e cortar 65% do consumo de água doce até 2040.

A Albemarle estabeleceu como meta reduzir 25% da intensidade do uso de água doce até 2030.

Os dados mostram que cada tonelada de lítio extraída nos salares exige centenas de metros cúbicos de recursos hídricos, em regiões onde água é um bem escasso.

A expansão dessa atividade ameaça comunidades locais e espécies nativas, como os flamingos do Atacama.

Você acredita que os benefícios do lítio verde na transição energética compensam os impactos ambientais nos salares andinos? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem acompanha esse dilema de perto.

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Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites CPG, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil. Sugestão de pauta? Manda no brunotelesredator@gmail.com

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