O 5º leilão do pré-sal, realizado em junho de 2025, não vendeu novos campos, mas sim o óleo do governo, em uma disputa que arrecadou um valor recorde e redesenhou as forças do mercado.
O mercado de energia brasileiro foi agitado em junho de 2025 por um leilão do pré-sal que gerou uma arrecadação potencial recorde de R$ 28 bilhões para a União. O evento, que comercializou milhões de barris de petróleo dos campos mais produtivos do país, foi um sucesso, atraindo a competição de gigantes globais como Equinor, ExxonMobil e estatais chinesas.
No entanto, é crucial entender o que realmente estava em jogo. Diferente de outros leilões, este não negociava o direito de explorar ou participações em campos. A disputa foi pela compra do óleo físico que já pertence ao governo, uma operação que, apesar de menos famosa, revela a nova e aquecida dinâmica do setor de petróleo no Brasil.
Entendendo o leilão: a venda de óleo da PPSA, e não de blocos da ANP
A confusão sobre o leilão do pré-sal é comum, pois existem diferentes tipos de certames. O leilão de 26 de junho de 2025 foi organizado pela PPSA, a empresa estatal que gerencia a parcela de petróleo do governo nos contratos de partilha. O objetivo era simplesmente vender essa produção.
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Isso é diferente dos leilões da ANP, que vendem o direito de as empresas explorarem novos blocos. A proximidade das datas, já que a ANP realizou outro leilão em 17 de junho, contribuiu para a mistura de informações.
Os números do sucesso: uma arrecadação recorde para o governo
Empresa/Consórcio | Volume Arrematado (Milhões de Barris) | Participação no Total (%) |
Petrobras | 36,5 | 49,0% |
Equinor | 14,0 | 18,8% |
Galp / ExxonMobil | 14,0 | 18,8% |
Petrochina / Acelen | 10,0 | 13,4% |
TOTAL | 74,5 | 100,0% |
Fonte: Dados consolidados do 5º Leilão de Petróleo da União, realizado pela PPSA em 26 de junho de 2025.
O 5º Leilão de Petróleo da União foi um marco. Foram vendidos 74,5 milhões de barris de petróleo dos supercampos de Mero, Búzios, Itapu e Sépia, no pré-sal da Bacia de Santos.
A arrecadação potencial de R$ 28 bilhões superou todas as expectativas do governo e do mercado, que previam um valor em torno de R$ 25 bilhões. Essa receita é um importante reforço para o caixa da União, ajudando o governo a cumprir suas metas fiscais.
Quem foram os vencedores? A disputa entre gigantes pelo óleo do pré-sal
A disputa foi acirrada e contou com dez grandes empresas. A Petrobras foi a maior compradora, arrematando três dos sete lotes e garantindo quase metade de todo o óleo ofertado.
No entanto, a competição foi forte. A norueguesa Equinor venceu uma disputa a viva-voz por um dos lotes. O consórcio entre a portuguesa Galp e a americana ExxonMobil também saiu vitorioso. Mas a grande surpresa foi a parceria entre a chinesa Petrochina e a Refinaria de Mataripe (Acelen), que arrematou dois lotes com lances agressivos.
A estratégia por trás dos lances
A participação de cada empresa revela uma estratégia clara. A Petrobras, ao comprar grande parte do óleo, garante matéria-prima de alta qualidade para suas próprias refinarias, mantendo sua competitividade no mercado de combustíveis.
A aliança entre a Petrochina e a Acelen, por sua vez, representa o surgimento de um novo e poderoso concorrente. A Acelen, dona da antiga refinaria da Petrobras na Bahia, garante o suprimento de petróleo para sua operação, enquanto a Petrochina assegura um mercado para o óleo que comercializa globalmente. É um movimento que cria, pela primeira vez, um rival integrado à Petrobras no refino nacional.
O futuro do leilão do pré-sal: a aposta na previsibilidade
O sucesso do leilão consolidou o modelo de venda da PPSA. O governo já anunciou que pretende realizar um certame ainda maior em 2026, com a oferta de cerca de 100 milhões de barris. A ideia é criar um calendário de leilões previsível, o que dá mais segurança para as empresas se planejarem.
No entanto, a estratégia cria um paradoxo. Ao mesmo tempo em que maximiza a receita com combustíveis fósseis, o Brasil se prepara para sediar a COP30, a conferência do clima da ONU, buscando se posicionar como um líder ambiental. Equilibrar esses dois objetivos será o grande desafio da política energética brasileira para os próximos anos.