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O gel brilhante que saiu do fundo do poço de petróleo e virou item essencial em hospitais, salões de beleza e religiões pelo Brasil

Escrito por Débora Araújo
Publicado em 27/06/2025 às 18:15
O gel brilhante que saiu do fundo do poço de petróleo e virou item essencial em hospitais, salões de beleza e religiões pelo Brasil
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A vaselina, derivada direta do petróleo, surgiu como resíduo de poço e virou item essencial em hospitais, salões de beleza e rituais religiosos. Descubra sua trajetória surpreendente.

Poucas substâncias conseguem atravessar fronteiras tão distintas quanto a vaselina. O que começou como um subproduto do petróleo bruto extraído em poços nos Estados Unidos no século XIX se transformou, com o tempo, em um verdadeiro coringa do cotidiano. Hoje, esse gel brilhante e inodoro — oficialmente classificado como um derivado do petróleo — é presença garantida em casas, hospitais, salões de beleza e até altares religiosos pelo Brasil.

Ao contrário do que muitos imaginam, a vaselina não é apenas um cosmético barato ou uma pomada improvisada. Sua origem está diretamente ligada à indústria petrolífera, e sua trajetória revela muito sobre como os derivados do petróleo foram incorporados de forma surpreendente à vida cotidiana da população.

Do resíduo pegajoso ao produto milagroso

A história da vaselina começa em 1859, quando operários de campos de petróleo nos Estados Unidos notaram a formação de uma substância pastosa nos equipamentos das perfuratrizes. Aquilo, que parecia um problema, foi identificado como um resíduo de parafina e óleo mineral.

Logo perceberam que, ao aplicar a substância sobre cortes e queimaduras, ela ajudava na cicatrização. Um jovem químico chamado Robert Chesebrough viu ali uma oportunidade.

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Depois de anos de purificação e testes, ele fundou a empresa que daria origem à marca Vaseline, lançando o produto como um gel de petróleo purificado com propriedades protetoras e cicatrizantes. Em 1872, o produto já era vendido em larga escala — e décadas depois, chegaria ao Brasil como sinônimo de cuidado, improviso e versatilidade.

No Brasil: o sucesso silencioso da vaselina no cotidiano

Enquanto outros produtos químicos dependem de modismos ou campanhas publicitárias para ganhar espaço, a vaselina se firmou no Brasil pelo boca a boca, pela utilidade e pelo preço acessível.

Nas décadas de 1950 e 1960, tornou-se comum encontrar vaselina em casas de família, principalmente em áreas rurais. Ela era usada para tratar rachaduras na pele, assaduras de bebê, queimaduras de sol e até como lubrificante para ferramentas e dobradiças de portas. E essa tradição permaneceu.

Hoje, mesmo com o avanço dos cosméticos sofisticados e das pomadas de laboratório, a vaselina segue forte nos seguintes contextos:

Onde a vaselina ainda é indispensável no Brasil

Hospitais e unidades de saúde

A vaselina branca (grau farmacêutico) é usada como base de pomadas dermatológicas, além de atuar como barreira protetora para pele ferida, prevenindo infecções e mantendo a umidade. Profissionais da saúde a utilizam em sondagens e exames para reduzir atrito, além de sua função em curativos.

Salões de beleza e barbearias

É comum seu uso para hidratação de lábios, cutículas e calcanhares ressecados, bem como para proteger a pele na hora de tingir os cabelos. Algumas barbearias ainda utilizam a vaselina sólida como finalizador para dar brilho aos cabelos ou bigodes em estilos retrô.

A vaselina também entrou no universo simbólico e espiritual. Em terreiros de candomblé e umbanda, é usada para proteger a pele de ervas quentes ou banhos de descarrego. Em celebrações católicas, serve como base para perfumes sagrados ou para dar brilho a objetos religiosos, como imagens de santos.

Oficinas e usos caseiros

Na indústria mecânica e em oficinas domésticas, a vaselina industrial é empregada para lubrificar peças delicadas, proteger superfícies contra ferrugem e preservar vedações de borracha. É uma alternativa mais segura que graxas industriais em equipamentos sensíveis.

Derivado do petróleo — mas purificado

É importante frisar que a vaselina não é simplesmente petróleo em forma de gel. Trata-se de uma substância altamente purificada, livre de hidrocarbonetos tóxicos. Ainda assim, sua origem é o petróleo bruto — mais especificamente, os compostos pesados obtidos na destilação fracionada.

Ou seja: aquilo que um dia seria descartado na indústria de refino se transformou em um produto multifuncional e seguro para uso humano. Isso mostra a capacidade da indústria de gerar valor mesmo a partir do que parece ser sobra.

Por que a vaselina ainda resiste em tempos modernos?

Mesmo com o avanço de produtos mais caros e especializados, a vaselina permanece popular por três razões principais:

Custo muito baixo: um pote de vaselina pode durar meses e custa menos que qualquer produto concorrente com função semelhante.

Versatilidade: é usada para mais de 20 finalidades diferentes, do cuidado com a pele à proteção de metais.

Aprovação cultural: foi passada de geração em geração, consolidando-se como um item de confiança — quase sempre presente na gaveta da avó, do farmacêutico local e da benzedeira do bairro.

    Um símbolo do Brasil que se reinventa com o tempo

    Assim como o botijão de gás ou o lampião a querosene, a vaselina é um daqueles produtos que provam que a utilidade vence o tempo, a tecnologia e a moda. Por trás de sua aparência simples, ela carrega a complexidade da indústria do petróleo, a engenhosidade da química e a sabedoria popular que a adaptou para centenas de usos.

    Hoje, seja para um bebê com assadura, um mecânico lubrificando peças, ou um fiel em um ritual religioso, o gel que um dia brotou dos poços de petróleo segue presente — silencioso, brilhante e indispensável.

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    Débora Araújo

    Débora Araújo é redatora no Click Petróleo e Gás, com mais de dois anos de experiência em produção de conteúdo e mais de mil matérias publicadas sobre tecnologia, mercado de trabalho, geopolítica, indústria, construção, curiosidades e outros temas. Seu foco é produzir conteúdos acessíveis, bem apurados e de interesse coletivo. Para sugestões de pauta, correções ou contato direto: deborasthefanecruz@gmail.com

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