Após 10 anos de obras e R$ 12 bilhões em investimentos, o gasoduto Rota 3 foi inaugurado na reta final de 2024 com 355 km de extensão e já escoa até 21 milhões m³/dia de gás do pré-sal. Entenda por que ele muda o futuro energético do Brasil.
Durante uma década, o Brasil viu se arrastar uma das obras mais ambiciosas do setor energético nacional. Foram anos de escândalos, paralisações e dúvidas — até que, em setembro de 2024, o país finalmente inaugurou o Gasoduto Rota 3, uma megaestrutura de 355 quilômetros de extensão, dos quais 307 km estão sob o oceano Atlântico, ligando diretamente os campos do pré-sal ao novo Complexo de Gás Natural de Itaboraí (Gaslub), no Rio de Janeiro.
Com investimento superior a R$ 12 bilhões, o Rota 3 já escoa até 21 milhões de metros cúbicos de gás por dia, e promete ser um divisor de águas na logística do gás natural brasileiro, com reflexos diretos na geração de energia elétrica, fertilizantes, indústria petroquímica e até no bolso dos consumidores.
Uma obra monumental: o que é o Gasoduto Rota 3?
O Rota 3 é o maior gasoduto construído pela Petrobras nos últimos anos e faz parte de uma estratégia para aproveitar plenamente o gás natural do pré-sal — um recurso que, por muito tempo, foi desperdiçado.
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Ao contrário dos dutos Rota 1 e Rota 2, que direcionam o gás para o estado de São Paulo, o Rota 3 é o primeiro a escoar diretamente para o Rio de Janeiro, tornando o estado um novo polo de gás natural e consolidando a posição estratégica do Gaslub como um hub nacional de gás.
Com capacidade para transportar entre 18 e 21 milhões de m³/dia, o Rota 3 amplia drasticamente a oferta de gás no mercado nacional, reduzindo a queima e reinjeção do recurso nas plataformas offshore — uma prática comum até então por falta de infraestrutura.
Onde começa e onde termina Gasoduto Rota 3
- Origem: campos do pré-sal na Bacia de Santos, especialmente Mero, Búzios e Tupi.
- Destino: UPGN (Unidade de Processamento de Gás Natural) do Complexo de Itaboraí, na região metropolitana do Rio.
A estrutura é composta por:
- 307 km de duto submarino;
- 48 km de duto terrestre;
- Estações de compressão, controle, processamento e distribuição no Gaslub;
- Capacidade de integração com gasodutos e consumidores do Sudeste.
Por que ele muda o futuro energético do Brasil?
O Brasil tem uma das maiores reservas de gás natural do mundo — mas historicamente falhou em aproveitá-las de forma estratégica. Por falta de dutos e infraestrutura, boa parte do gás associado à produção de petróleo era simplesmente queimada ou reinjetada.
Com o Rota 3, essa equação muda.
A nova estrutura:
- Evita o desperdício de gás no pré-sal;
- Injeta mais gás na matriz elétrica, diminuindo o custo da energia;
- Reduz a dependência de GNL importado, que encarece o mercado;
- Estabiliza o fornecimento para termelétricas, promovendo segurança energética;
- Cria uma base para a indústria nacional de fertilizantes, que hoje depende de importações;
- Gera empregos, arrecadação de royalties e atrai novas indústrias para o estado do Rio.
Gasoduto Rota 3: uma década de polêmicas, escândalos e reviravoltas
A história do Rota 3 é tão longa quanto conturbada. O projeto foi lançado em 2014, ainda no auge do boom do pré-sal, mas logo se viu envolvido em investigações da Lava Jato, entraves ambientais e problemas contratuais com fornecedores.
A UPGN de Itaboraí, peça-chave do sistema, chegou a ser chamada de “elefante branco”. As obras ficaram paradas por anos e a planta inacabada virou símbolo de desperdício. Só em 2020, já com nova direção na Petrobras e foco renovado na transição energética, o projeto foi retomado com ritmo acelerado.
Foram R$ 12 bilhões em investimentos ao todo — incluindo gasoduto, unidade de processamento, terrenos, sistemas de controle e infraestrutura de apoio.
Em 13 de setembro de 2024, a obra foi oficialmente inaugurada com a presença do presidente Lula. Em outubro do mesmo ano, entrou em operação comercial plena, segundo o Ministério de Minas e Energia.
Impactos reais na matriz energética brasileira
Com o Rota 3 em operação, o Brasil entra em uma nova era no setor do gás natural. Além de garantir oferta estável para as regiões Sudeste e Centro-Oeste, o duto fortalece os seguintes pilares:
Segurança energética
Com menos dependência de GNL importado, o país reduz sua exposição a flutuações do dólar e da geopolítica internacional.
Barateamento da energia elétrica
Mais gás significa menor custo para operar termelétricas, que são acionadas em momentos de escassez hídrica — como em 2021.
Estímulo à indústria
Gás abundante e barato viabiliza projetos de fertilizantes, hidrogênio azul, plásticos, polímeros e produtos químicos em geral.
Transição energética inteligente
Mesmo sendo um combustível fóssil, o gás natural é visto como o “combustível ponte” para uma matriz mais limpa, substituindo carvão e diesel com menor impacto ambiental.
O Complexo Gaslub e o papel do Rio de Janeiro
A UPGN do Gaslub (antiga Comperj) representa o renascimento de um polo estratégico para a economia fluminense. A unidade é considerada uma das mais modernas do mundo, com tecnologia de ponta para processamento e separação de gás, extração de líquidos do gás natural (condensado) e geração de energia elétrica integrada.
Com o gasoduto Rota 3, o estado do Rio de Janeiro se consolida como um polo de gás natural, atraindo empresas de energia, startups de bioenergia, fornecedores de equipamentos e novos projetos industriais.
Uma obra de engenharia e geopolítica
Mais do que um cano enterrado no fundo do mar, o Rota 3 é uma obra de engenharia complexa. Envolve:
- Operações de dragagem em alto-mar;
- Lançamento de tubos com soldagem subaquática;
- Sensores e sistemas de controle para vazamento e pressão;
- Tecnologias anticorrosivas e resistentes à salinidade;
- Integração digital com o Centro de Operações da Petrobras.
Além disso, sua conclusão reforça o papel geopolítico do Brasil no fornecimento de energia da América Latina — e até mesmo como potencial exportador de gás para parceiros estratégicos.
O que vem depois?
O sucesso do Rota 3 abre espaço para novas rotas de escoamento no pré-sal. Já existem estudos para um Rota 4, que incluiria novos campos ainda mais ao sul da Bacia de Santos e conexão com plantas de fertilizantes no Paraná e São Paulo.
Paralelamente, o gás natural do Rota 3 também pode ser aproveitado para projetos de hidrogênio de baixo carbono, inserindo o Brasil no mapa global da transição energética.
O Gasoduto Rota 3 é um marco técnico, econômico e ambiental. Representa a vitória da persistência sobre o abandono, da engenharia sobre a burocracia, e da visão de longo prazo sobre o imediatismo político.
Com ele, o Brasil finalmente começa a aproveitar todo o potencial do gás do pré-sal — não apenas como um subproduto do petróleo, mas como um vetor central para a segurança energética, industrialização e transição ecológica do país.
E o melhor: já está operando.