Metade das fazendas de pecuária pode encerrar as atividades nas próximas duas décadas, caso o setor não adote rapidamente tecnologia, gestão eficiente e novas práticas produtivas para acompanhar as exigências do mercado global.
A pecuária brasileira enfrenta um dos maiores desafios de sua história recente.
Um estudo citado por especialistas aponta que até 50% das fazendas de gado podem fechar as portas em 20 anos, caso o setor não acelere a modernização e a eficiência produtiva.
O alerta reflete mudanças profundas na economia agropecuária e na forma de administrar o negócio rural.
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A transição do produtor tradicional para o gestor rural
Durante décadas, o perfil do pecuarista brasileiro foi o de um criador que mantinha o gado no pasto, oferecia sal mineral e esperava o tempo fazer o resto.
Esse modelo, no entanto, já não acompanha a velocidade do mercado.
Hoje, o produtor precisa agir como um empresário do agronegócio, atento a custos, indicadores, tecnologia e comportamento do consumidor.
Segundo especialistas, a rentabilidade do gado passou a se comportar de forma semelhante à das ações na bolsa de valores.
“Eu compro na baixa e vendo na alta”, comentou um dos entrevistados no debate, comparando a lógica do investimento em pecuária com o mercado financeiro.
Essa visão empresarial vem ganhando espaço, mas ainda está longe de ser realidade para a maioria das fazendas.
Falta de gestão ameaça a sobrevivência das propriedades
Os números revelam um problema estrutural: apenas cerca de 16% das fazendas utilizam balanças e troncos de manejo, equipamentos básicos para medir produtividade e ganho de peso dos animais.
A ausência de dados concretos compromete o controle financeiro e dificulta o aumento da eficiência.
Especialistas lembram que um processo que não é medido diversas vezes perde consistência.
Na prática, sem métricas, o produtor não consegue identificar gargalos, reduzir custos ou melhorar o desempenho do rebanho.
Essa lacuna de gestão explica por que tantos empreendimentos correm risco de desaparecer nas próximas décadas.
Nutrição e tecnologia: o motor do lucro futuro
Um ponto frequentemente negligenciado é a suplementação alimentar estratégica.
Muitos criadores ainda evitam investir em nutrição durante o período de seca, acreditando que basta manter o rebanho até a próxima estação chuvosa.
Mas, conforme lembrou um dos participantes da discussão, “é na descida que o carro ganha velocidade”.
Em outras palavras, o momento de acelerar o ganho de peso é quando o gado tem melhores condições nutricionais — e não apenas manter o mínimo para sobrevivência.
Esse tipo de manejo, somado a tecnologias de precisão, tende a ampliar o giro de caixa, aumentar o número de arrobas por hectare e melhorar o retorno por animal.
A modernização da pecuária, segundo consultores, passa por uma integração entre nutrição, genética, rastreabilidade e gestão digital de dados.
Diferença de mentalidade entre agricultores e pecuaristas
Outro contraste destacado é a diferença de mentalidade entre agricultores e criadores de gado.
Enquanto o agricultor costuma saber exatamente quanto produziu por hectare, quanto gastou em insumos e o retorno obtido, muitos pecuaristas ainda operam “no instinto”, sem planilhas, registros ou análises detalhadas.
“Um agricultor controla até o litro de diesel gasto. O pecuarista, muitas vezes, não sabe o custo exato da arroba produzida”, comentou um dos especialistas.
Essa disparidade explica por que agricultores têm maior previsibilidade financeira e capacidade de investimento.
No campo da pecuária, a ausência de controle transforma oscilações de mercado em ameaças concretas à sustentabilidade do negócio.
O novo ciclo da carne e o impacto no mercado global
Além da gestão interna, o setor enfrenta transformações externas significativas.
A demanda por carne de qualidade cresce, impulsionada por consumidores mais exigentes e por padrões internacionais de sustentabilidade e rastreabilidade.
Ao mesmo tempo, surgem alternativas de proteína cultivada e substitutos vegetais, pressionando o mercado tradicional.
Para acompanhar essa mudança, será necessário investir em genética, bem-estar animal e redução da pegada de carbono.
As indústrias frigoríficas também tendem a priorizar fornecedores mais eficientes, com certificações e rastreabilidade completa.
Quem não acompanhar esse movimento corre o risco de ser excluído da cadeia produtiva.
O papel da tecnologia e da medição contínua
A modernização tecnológica desponta como a principal ferramenta de sobrevivência.
Monitoramento por sensores, softwares de gestão, análise de dados em tempo real e inteligência artificial já fazem parte do cotidiano das fazendas mais avançadas.
Essas práticas permitem ajustar a alimentação, prever ganhos de peso e planejar vendas com base em dados precisos.
Como destacou um dos entrevistados, “medir, medir e medir” é a única forma de garantir consistência.
Sem mensuração, qualquer processo se torna incerto e ineficiente.
Na indústria, um corte de carne só é considerado perfeito quando o processo é repetido e avaliado várias vezes — o mesmo princípio deve ser aplicado à gestão rural.
O desafio da consciência produtiva
Apesar do avanço de uma minoria de produtores modernos, a consciência produtiva ainda é limitada.
Estima-se que apenas 15% dos pecuaristas estejam plenamente alinhados com práticas de eficiência e sustentabilidade.
O restante, segundo os especialistas, ainda depende de métodos antigos e de uma visão pouco empresarial da atividade.
Essa diferença cria uma divisão clara: quem inova tende a crescer, enquanto os que resistem à mudança podem desaparecer.
O estudo que prevê o fechamento de metade das fazendas nos próximos 20 anos não aponta um destino inevitável, mas um alerta sobre o ritmo de adaptação do setor.



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