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O fogo que nunca se apaga, a tocha do Flare de uma plataforma, um dispositivo de segurança que queima gás 24 horas por dia

Publicado em 20/06/2025 às 15:55
O fogo que nunca se apaga: os segredos da tocha do flare de uma plataforma
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A tocha do flare de uma plataforma: a chama que queima 24 horas por dia no topo de instalações de petróleo e gás é, ao mesmo tempo, um dispositivo de segurança essencial e um símbolo gritante de desperdício energético e poluição ambiental

Em plataformas de petróleo no meio do oceano e em grandes refinarias em terra, uma imagem é constante: uma chama solitária queimando no topo de uma torre alta. Essa é a tocha do flare de uma plataforma, um equipamento que intriga e gera muitas dúvidas. Por um lado, ela é um guardião silencioso, um dispositivo de segurança vital para proteger instalações complexas contra explosões. Por outro, é a representação visual de um enorme desperdício e um grave problema ambiental.

A prática de queimar gás como resíduo existe há mais de 160 anos. Anualmente, o volume de gás queimado no mundo todo contém energia suficiente para abastecer todo o continente da África Subsaariana, onde milhões de pessoas ainda vivem sem eletricidade. Entender como e por que esse fogo nunca se apaga é fundamental para compreender os desafios da indústria de energia.

O que é e como funciona um sistema de flare?

A chama no topo da torre é apenas a parte final de um sistema de engenharia complexo. A função principal de um sistema de flare é servir como a última linha de defesa contra o excesso de pressão em uma planta industrial. Se a pressão em um equipamento subir a um nível perigoso, válvulas de segurança se abrem automaticamente e direcionam o gás para o flare, onde ele é queimado de forma controlada.

Para que isso funcione, o sistema conta com vários componentes. Um dos mais importantes é o Vaso de Separação (ou “Knockout Drum”), um grande tanque que remove gotas de líquido do fluxo de gás. Isso evita que líquidos inflamáveis cheguem à chama, o que poderia causar bolas de fogo perigosas. No topo da torre, um ou mais pilotos queimam continuamente, como a chama de um fogão, garantindo que qualquer gás liberado seja imediatamente inflamado e não escape para a atmosfera.

Segurança necessária ou desperdício? Os dois tipos de queima

O fogo que nunca se apaga, a tocha do Flare de uma plataforma, um dispositivo de segurança que queima gás 24 horas por dia.

É crucial entender que existem razões diferentes para a queima de gás. A primeira é a queima de segurança, que é essencial e inevitável. Ela ocorre em emergências, como falhas de equipamento ou paradas para manutenção, para aliviar a pressão do sistema de forma segura.

O verdadeiro problema, no entanto, é a queima de rotina. Trata-se da queima contínua do gás natural que sobe junto com o petróleo. A decisão de queimá-lo é um cálculo puramente econômico: para as empresas, em locais remotos, é mais barato tratar o gás como lixo do que investir na infraestrutura para aproveitá-lo. É essa prática que a iniciativa “Zero Routine Flaring by 2030” do Banco Mundial e outras organizações ambientais buscam eliminar.

A escala global, quanto gás o mundo queima por ano?

Graças à monitorização por satélite, a escala do problema é conhecida. Segundo os dados mais recentes do Banco Mundial, em 2023, foram queimados 148 bilhões de metros cúbicos de gás — para se ter uma ideia, esse volume é quase cinco vezes superior a todo o consumo de gás natural do Brasil em um ano. em todo o mundo. Esse volume representa um aumento de 7% em relação a 2022, revertendo uma tendência de queda.

O problema é altamente concentrado. Apenas nove países são responsáveis por 75% de toda a queima global: Rússia, Iraque, Irã, Estados Unidos, Venezuela, Argélia, Líbia, Nigéria e México.

As emissões da tocha do flare de uma plataforma

A justificativa para queimar o gás em vez de simplesmente liberá-lo é que a combustão transforma o metano (principal componente do gás) em CO₂. O metano é um gás de efeito estufa com um poder de aquecimento mais de 80 vezes superior ao do CO₂ em um período de 20 anos. O problema é que essa queima raramente é perfeita.

Na prática, a queima nunca é perfeita. Estudos de campo mostram que a eficiência real da tocha do flare de uma plataforma é de apenas 91-92%, e não os 98% que constam nos cálculos oficiais. Essa pequena diferença no papel tem um efeito gigantesco no clima: um flare operando com essa eficiência ‘real’ libera na atmosfera oito vezes mais metano, um superpoluente, do que se acreditava. Além disso, a queima incompleta produz Carbono Negro (fuligem), um poluente que, ao se depositar no Ártico, acelera o derretimento do gelo. A chama também libera outros compostos tóxicos que afetam a saúde de comunidades que vivem próximas a essas instalações.

É possível apagar a chama? O modelo da Noruega como solução

A Noruega é a prova de que eliminar a queima de rotina é possível. O país, um grande produtor de petróleo, tem a menor intensidade de queima do mundo. A solução não foi uma tecnologia milagrosa, mas uma decisão política e econômica.

Em 1971, o governo norueguês simplesmente proibiu a queima de gás não emergencial, tratando o gás associado como um recurso valioso, não como lixo. A medida mais importante, no entanto, veio em 1991, com a criação de um pesado imposto sobre as emissões de carbono provenientes da queima. A medida mudou o jogo: tornou-se mais caro poluir do que investir na solução. O caso norueguês prova que o problema da tocha do flare de uma plataforma não é técnico, mas de vontade política. A chama só continua acesa onde queimar o futuro ainda é de graça.

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Maria Heloisa Barbosa Borges

Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

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