Novo plano do Ministério dos Transportes prevê a inclusão do Ferroanel de São Paulo em concessão marcada para 2026, criando alternativas ao Porto de Santos e ampliando a disputa logística entre terminais do Sudeste.
O Ministério dos Transportes prepara uma mudança na lógica de escoamento do Centro-Oeste ao incluir as obras do Ferroanel de São Paulo no pacote de concessão da Malha Oeste.
A medida, em discussão para ir ao Tribunal de Contas da União e viabilizar um leilão em 2026, cria um corredor ferroviário alternativo que pode deslocar parte do fluxo hoje concentrado no Porto de Santos e ampliar a competição entre os portos do Sudeste.
A decisão também dialoga com o avanço do projeto da EF-118 (Rio–Espírito Santo), cujos procedimentos preparatórios seguiram em 2025.
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O que muda no escoamento do Centro-Oeste
Ao ser incorporado à nova modelagem da Malha Oeste, o Ferroanel passa a funcionar como peça de integração.
Os trens oriundos do Centro-Oeste ganham uma alternativa de chegada à Região Metropolitana de São Paulo, com capacidade de conexão a diferentes portos do Sudeste.
A orientação do governo é explícita.
“Nossa intenção é aumentar a concorrência entre os portos e tornar o transporte ferroviário mais eficiente”, afirmou o secretário-executivo George Santoro ao detalhar o desenho em elaboração.
Na prática, parte das cargas que hoje seguem diretamente para Santos poderá migrar para rotas que atendam terminais no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, conforme o perfil de cada carga e as tarifas ofertadas.
Ferroanel: do traçado ao canteiro
Concebido nos anos 1970 e retomado em diferentes ocasiões, o Ferroanel de São Paulo reapareceu em 2025 como contrapartida essencial para dar fluidez ao acréscimo de trens previsto na nova concessão da Malha Oeste.
O projeto havia sido cogitado na renovação antecipada da Malha Sudeste, da MRS, em 2021, mas não avançou diante do custo e da falta de um modelo que permitisse enquadrá-lo.
Agora, retorna como obra estruturante para retirar trens de carga do eixo urbano da capital, aumentando velocidade e mitigando conflitos operacionais.
Parte do traçado seguirá a faixa de domínio do Rodoanel Norte, que já reserva espaço técnico para a ferrovia, segundo a pasta.
Malha Oeste: concessão redesenhada e cronograma
O governo trabalha com o envio do estudo de viabilidade ao TCU para, em seguida, levar a Malha Oeste a leilão em 2026.
A licitação deverá usar um modelo “faseado”, com diferentes alternativas de traçado disponíveis no mesmo certame, priorizando quem assumir o desenho mais completo.
A inclusão do Ferroanel é tratada internamente como condição de viabilidade operacional e econômica.
Sem o contorno ferroviário na capital, o aumento de volumes saturaria a chegada a São Paulo pela Malha Paulista, reduzindo a eficiência do novo contrato.
Veículos regionais e a própria cobertura setorial apontam a janela do primeiro semestre de 2026 para o certame.
Efeito sobre a EF-118 e a malha do Sudeste
O reequilíbrio logístico não se limita a São Paulo.
No Rio e no Espírito Santo, a EF-118 avança com estudos e consultas que tiveram etapas públicas em janeiro de 2025.
A ferrovia está concebida para conectar polos portuários estratégicos, com ligações à rede existente da MRS no estado do Rio e, por consequência, ao eixo paulista.
Ao criar um “anel” de opções entre terminais de RJ e ES, a EF-118 amplia o leque de saídas para cargas que anteriormente convergiam, quase invariavelmente, para Santos.
A leitura no Ministério é de que o Ferroanel, ao destravar a chegada a São Paulo, facilita a modelagem e a atratividade da concessão da EF-118, consolidando um corredor integrado no Sudeste.
Impacto operacional: trens fora da área urbana e mais janelas de circulação
A retirada do tráfego pesado de carga da malha urbana paulistana é o ganho operacional mais imediato.
Ao deslocar composições para o contorno, o sistema reduz cruzamentos com linhas metropolitanas e elimina restrições típicas de áreas densamente povoadas.
Isso tende a elevar velocidades médias e previsibilidade de horários.
Em paralelo, amplia-se a capacidade de encaixe de trens longos e pesados, melhorando a eficiência na chegada e na partida de cargas com destino aos portos do Sudeste.
Essa reorganização ajuda a distribuir os picos de demanda e diminui gargalos no entroncamento ferroviário da capital.
A condição foi citada pelo governo como necessária para que o novo contrato da Malha Oeste entregue ganhos de produtividade.
Santos em novo tabuleiro competitivo
Nenhuma autoridade fala em desativação do Porto de Santos, que permanece como o maior complexo portuário do país.
O que muda é o protagonismo exclusivo no escoamento por trilhos a partir do Centro-Oeste.
Com um corredor alternativo e a interligação à EF-118, cargas com destino a mercados específicos poderão encontrar janelas e tarifas competitivas em terminais fluminenses e capixabas, conforme modais de transbordo e disponibilidade de berços.
O Ministério dos Transportes explicitou a intenção de “tirar carga do Porto de Santos” para reforçar a concorrência intrarregional.
O movimento, na visão da equipe, induz eficiência na cadeia e reduz riscos de dependência de um único acesso.
Prazos, governança e próximos passos
A Secretaria-Executiva da pasta relatou que o estudo de viabilidade da concessão deve ser encaminhado ao TCU antes do fim do próximo mês.
Essa etapa é necessária para manter o leilão de 2026 no calendário.
A proposta preserva a estratégia de ofertar, em um único leilão, alternativas de traçado com pesos distintos na competição, estimulando o concessionário a assumir o Ferroanel como investimento indutor de capacidade.
Em paralelo, a agenda da EF-118 segue com interlocução federativa e consolidação de estudos conduzidos pela Infra S.A., na linha do que foi apresentado publicamente no início do ano.
O objetivo declarado é formar um corredor Sudeste com múltiplos acessos portuários e maior resiliência operacional.
Se a rede ferroviária do Sudeste ganhar esse anel de opções e o contorno em São Paulo sair do papel junto com a nova Malha Oeste, como os embarcadores vão reorganizar suas rotas entre Santos, Rio e Espírito Santo para capturar custo e previsibilidade?