A partir do dia 8 de outubro de 2025, a Índia permitirá pagamentos com o olhar via UPI. A tecnologia usa reconhecimento facial para autenticar transações e marca um salto histórico na digitalização financeira global.
A partir de 8 de outubro de 2025, a Índia entra oficialmente em uma nova era de pagamentos digitais. O Reserve Bank of India (RBI) e a National Payments Corporation of India (NPCI) confirmaram o início da autenticação biométrica facial e por impressão digital nas transações instantâneas realizadas via UPI (Unified Payments Interface), o sistema de pagamentos mais usado do país. Com a medida, os indianos poderão realizar transferências, compras e pagamentos apenas com o olhar, sem precisar de senhas, PINs ou cartões físicos.
O anúncio foi feito durante o Global Fintech Festival, em Mumbai, e representa o maior avanço já registrado na história do sistema financeiro digital indiano. A novidade utiliza a base de dados do Aadhaar, o sistema nacional de identificação biométrica que já reúne mais de 1,3 bilhão de cidadãos cadastrados, e promete transformar a forma como as pessoas interagem com o dinheiro — e inspirar bancos centrais em todo o mundo.
Um salto tecnológico histórico
A Índia vem se consolidando como o maior laboratório de inovação em pagamentos do planeta. O UPI, criado em 2016, revolucionou o modo como os indianos movimentam dinheiro.
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O sistema integra bancos, fintechs e aplicativos de celular, permitindo transferências instantâneas e gratuitas 24 horas por dia. Em 2025, o UPI já movimenta mais de 12 bilhões de transações por mês, ultrapassando o volume combinado de Pix, PayPal e Apple Pay.
Agora, com o reconhecimento facial, o país dá um passo ainda mais ousado. Segundo o Reserve Bank of India, a nova tecnologia vai dispensar o uso de senhas e autenticações manuais, tornando o processo mais seguro e inclusivo.
A autenticação será feita por meio de câmeras de alta precisão conectadas a aplicativos bancários ou pontos de pagamento físicos, que cruzam os dados do rosto ou da digital com o banco de informações do Aadhaar.
Em entrevista à Reuters, um porta-voz da NPCI destacou que o objetivo é “reduzir o atrito das transações e tornar o pagamento tão simples quanto olhar para o dispositivo”. Além da biometria facial, os usuários também poderão optar por autenticação via impressão digital, principalmente em áreas rurais com baixa conectividade de internet.
A força do Aadhaar e o impacto social
A base do sucesso do modelo indiano está no Aadhaar, criado em 2009 como um programa de identidade digital universal. Ele reúne dados biométricos, digitais, faciais e de íris — de praticamente toda a população, integrando governo, bancos e serviços digitais.
Esse sistema é o que permite à Índia alinhar tecnologia, inclusão e segurança, algo que economias avançadas como Estados Unidos e União Europeia ainda enfrentam dificuldades para implementar de forma centralizada.
Segundo o RBI, cerca de 85% das transações digitais da Índia hoje já são feitas via UPI, o que o torna o sistema de pagamentos mais abrangente do planeta. Com a integração biométrica, espera-se que mais de 300 milhões de novos usuários, especialmente pessoas sem conta bancária ou acesso fácil à internet — possam aderir ao sistema até 2026.
A expectativa é que a autenticação facial reduza fraudes e melhore o controle de identidade em regiões remotas, onde o acesso à tecnologia é limitado. Com isso, a Índia fortalece sua meta de se tornar uma “nação cashless” (sem dinheiro físico) até o fim da década.
O pioneirismo indiano e o impacto global
Com a decisão de implementar pagamentos com o olhar, a Índia se torna o primeiro país do mundo a liberar oficialmente a autenticação biométrica facial em larga escala para transações instantâneas. A iniciativa coloca o país à frente de gigantes como Estados Unidos, China e União Europeia, que ainda testam projetos semelhantes em ambientes controlados.
Analistas de tecnologia financeira apontam que o modelo indiano poderá servir de base para a futura infraestrutura de pagamentos internacionais, especialmente em parcerias com países que já estudam integração com o UPI, como Singapura, Emirados Árabes, França e Brasil.
O movimento também pressiona outras potências a acelerarem suas próprias inovações. A China, por exemplo, já utiliza reconhecimento facial em plataformas privadas como o WeChat Pay e o Alipay, mas ainda não possui uma base pública e unificada como a indiana. Já o Banco Central Europeu mantém um grupo de trabalho dedicado ao “Digital Euro”, mas as iniciativas ainda estão em fase piloto.
Segurança, privacidade e desafios
Embora a novidade seja vista como um marco de inovação, ela também desperta debates sobre privacidade e vigilância de dados.
Organizações de direitos digitais alertam que o uso massivo de informações biométricas exige protocolos rigorosos de segurança cibernética e transparência sobre o armazenamento e o uso dos dados faciais.
O RBI respondeu às críticas afirmando que o sistema foi desenhado para operar dentro de uma “camada de verificação dupla e descentralizada”, garantindo que as informações biométricas permaneçam criptografadas e não sejam compartilhadas com terceiros sem autorização do usuário.
Especialistas também destacam que o modelo indiano é único por equilibrar inclusão e inovação: ao mesmo tempo em que leva tecnologia de ponta às zonas rurais, faz isso com base em um sistema nacional robusto, que une governo, bancos e setor privado.
A Índia e o futuro dos pagamentos
Em pouco mais de uma década, a Índia passou de um país com baixo acesso bancário para referência mundial em pagamentos digitais e identidade financeira. Agora, com o “pague com o olhar”, dá um passo à frente em direção ao futuro que o restante do mundo ainda tenta alcançar.
A nova fase do UPI começa oficialmente nesta quarta-feira, 8 de outubro de 2025, e deve se expandir gradualmente para todos os bancos e aplicativos de pagamento até o primeiro trimestre de 2026. O governo indiano projeta que, com essa atualização, o sistema atinja 20 bilhões de transações mensais em menos de um ano.
Mais do que uma inovação, trata-se de uma mudança de paradigma: um país de 1,4 bilhão de habitantes mostrando que a fronteira entre o corpo humano e a tecnologia financeira está prestes a desaparecer.