Robô humanoide com IA avançada promete transformar o trabalho doméstico ao realizar tarefas como dobrar roupas, limpar superfícies e organizar ambientes, atraindo atenção global e levantando debates sobre o impacto no emprego e na vida cotidiana.
Um robô humanoide capaz de executar tarefas domésticas complexas está chamando a atenção do mundo tecnológico e reacendendo debates sobre o futuro do trabalho doméstico.
Desenvolvido pela startup americana Figure AI, o Figure 03 foi apresentado oficialmente em 9 de setembro e já figura na lista das Melhores Inovações de 2025 da revista Time.
A máquina, que dobra roupas, limpa superfícies e organiza ambientes, é considerada um dos projetos mais avançados do setor de robótica de serviço.
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Inteligência artificial integrada e design reformulado
A nova geração do robô foi reconstruída do zero para funcionar em conjunto com o Helix, sistema de Inteligência Artificial proprietário da empresa que unifica visão, linguagem e ação.
Essa integração permite que o humanoide reconheça objetos, compreenda comandos e responda a interações de maneira mais natural.
As mãos do Figure 03 representam um dos maiores avanços da linha: câmeras instaladas nas palmas e sensores táteis detectam variações mínimas de pressão — de até três gramas —, o que possibilita lidar com materiais frágeis, como ovos ou cartas.
A estrutura externa também foi redesenhada para uso doméstico seguro, com revestimento de tecido e espuma de densidades variadas que reduzem o contato com partes metálicas.
O modelo é 9% mais leve que sua versão anterior e conta com uma bateria certificada pela ONU (UN38.3).
O sistema de recarga é indutivo, feito pelos pés, dispensando cabos e tomadas visíveis, o que reforça o apelo estético e prático para uso em residências e escritórios.
Fábrica própria e metas ambiciosas
Com a meta de transformar o humanoide em produto de larga escala, a Figure AI inaugurou a BotQ, unidade fabril com capacidade inicial para 12 mil robôs por ano.
O plano da empresa é atingir 100 mil unidades produzidas dentro de quatro anos, o que marcaria um passo inédito na industrialização de robôs domésticos.
Segundo executivos da companhia, o objetivo é permitir que robôs como o Figure 03 assumam tarefas cotidianas repetitivas, tanto em casas quanto em linhas de montagem.
A empresa acredita que a automação desse tipo poderá “aumentar a produtividade global e liberar pessoas para atividades criativas”, mas reconhece que a aceitação social ainda é um desafio.
O que o robô já consegue fazer
Apresentações recentes exibem o robô dobrando roupas, limpando mesas, organizando armários e operando eletrodomésticos.
Em demonstrações controladas, ele também foi visto aplicando sabão em máquinas de lavar, separando peças e entregando pequenos objetos com coordenação motora precisa.
Mesmo assim, o modelo ainda depende de supervisão humana em algumas etapas, como iniciar ciclos de lavagem ou recolher itens que caem fora do alcance de seus sensores.
Os engenheiros explicam que, embora o aprendizado de máquina avance rapidamente, a autonomia total em ambientes não estruturados — como casas reais — continua sendo um obstáculo técnico.
Concorrência acirrada no mercado de humanoides
O sucesso da Figure AI atraiu investidores de peso, incluindo Nvidia, Microsoft e Jeff Bezos, fundador da Amazon.
Em 2025, a empresa levantou US$ 1 bilhão em uma rodada de financiamento, alcançando avaliação de mercado de US$ 39 bilhões, de acordo com dados da Reuters.
O setor, porém, se tornou um dos mais competitivos do Vale do Silício.
A Tesla, de Elon Musk, avança com o robô Optimus, enquanto companhias chinesas como a Unitree Robotics ganham espaço com modelos de custo reduzido voltados à indústria.
Analistas avaliam que a corrida atual pela liderança em robótica humanoide lembra os primeiros anos da disputa entre fabricantes de smartphones.
Questões de segurança e impacto social
Com o avanço dessas máquinas, surgem também preocupações éticas e econômicas.
Pesquisadores alertam que o uso crescente de robôs em funções antes desempenhadas por pessoas pode impactar diretamente o mercado de trabalho doméstico, especialmente em países com alta informalidade.
Especialistas defendem que governos e empresas criem políticas de requalificação profissional e regulamentações claras que definam responsabilidades em caso de falhas ou acidentes.
A Figure AI afirma que o Helix foi projetado com múltiplas camadas de segurança, incluindo restrições de força e protocolos de desligamento automático em situações anormais.
Ainda assim, questões sobre privacidade de dados e vigilância doméstica seguem em debate, já que o robô utiliza câmeras e microfones para mapear ambientes e responder a comandos.
O que esperar daqui para frente
Apesar das limitações atuais, o Figure 03 representa um marco importante na busca por robôs humanoides funcionalmente úteis.
O modelo combina avanços em sensores, motores e aprendizado de máquina que aproximam a robótica do uso cotidiano.
Executivos da startup afirmam que o próximo passo é ampliar a capacidade cognitiva do robô, permitindo que ele compreenda contextos e tome decisões mais complexas sem depender de operadores humanos.
No entanto, especialistas do setor consideram que a convivência entre máquinas e pessoas em ambientes domésticos exigirá mais do que eficiência: será preciso conquistar confiança e definir limites éticos claros.
A chegada de robôs capazes de limpar, conversar e reagir a estímulos humanos muda a dinâmica da vida em casa — mas até que ponto estamos prontos para dividir o espaço com máquinas que imitam tão bem o comportamento humano?