O Brasil gasta mais de R$ 10 bi em presídios só em 2025. Cada preso custa R$ 2.498 por mês, acima do salário mínimo, em um sistema superlotado que coloca o país no 3º lugar mundial em encarceramento
Manter o sistema prisional brasileiro consome cifras impressionantes do orçamento público. De acordo com dados oficiais do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), um preso custa em média R$ 2.498,34 por mês, valor quase mil reais acima do salário mínimo atual, fixado em R$ 1.518.
O contraste escancara um debate urgente: o país gasta bilhões com o encarceramento, mas segue enfrentando superlotação, reincidência criminal e falhas estruturais.
Um peso bilionário para os cofres públicos
Somente no primeiro semestre de 2025, o Brasil desembolsou mais de R$ 10 bilhões para manter o sistema prisional em funcionamento. Desse montante, a alimentação dos detentos é uma das rubricas que mais cresceu, alcançando R$ 1 bilhão em despesas — um salto de 39% em relação ao período anterior.
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O dado contrasta com a realidade de milhões de brasileiros que vivem com rendimentos inferiores ao salário mínimo, acentuando a percepção de desequilíbrio entre os custos de manutenção de presos e os investimentos em áreas sociais como saúde e educação.
Superlotação e desigualdade entre estados
O Brasil possui hoje mais de 909 mil pessoas em cumprimento de pena, segundo levantamento mais recente do Depen. Destas, 674 mil estão em celas físicas e cerca de 235 mil cumprem prisão domiciliar, muitas vezes sob monitoramento eletrônico.
Apesar do investimento bilionário, a realidade dentro dos presídios continua marcada pela superlotação. A capacidade instalada em 2024 era de pouco menos de 500 mil vagas, o que significa um déficit superior a 400 mil postos.
Essa diferença coloca o país entre os líderes globais em encarceramento, ao lado de Estados Unidos e China.
Outro fator que chama a atenção é a variação no custo por preso entre os estados. Enquanto em alguns locais o gasto mensal fica em torno de R$ 1.100, em outros, como a Bahia, ultrapassa os R$ 4.300 por detento.
A discrepância revela não apenas desigualdade administrativa, mas também falhas na gestão de recursos.
Presídios federais de segurança máxima: um caso à parte
Se os custos já são elevados nas penitenciárias estaduais, o cenário se torna ainda mais oneroso quando se analisam as unidades federais de segurança máxima.
Em 2024, o gasto médio por preso nessas instituições ultrapassou os R$ 40 mil por mês, valor semelhante ao registrado em países como os Estados Unidos.
Essas unidades abrigam líderes de facções criminosas e presos considerados de alta periculosidade, exigindo um aparato tecnológico e de segurança muito superior.
No entanto, especialistas apontam que manter cifras tão altas para um número reduzido de detentos levanta questionamentos sobre eficiência e retorno para a sociedade.
Impactos sociais e alternativas debatidas
A manutenção de um preso custar mais que o salário de um trabalhador formal gera discussões acaloradas no campo político e social.
Para alguns, o número evidencia a necessidade de repensar o modelo atual, investindo mais em prevenção ao crime, educação e políticas sociais que possam reduzir a criminalidade a longo prazo.
Outros defendem a ampliação de medidas alternativas à prisão, como a expansão do regime domiciliar com monitoramento, a justiça restaurativa e programas de reinserção.
Em 2024, cerca de 158 mil presos já exerciam alguma atividade laboral dentro do sistema prisional, iniciativa que ajuda a reduzir custos e abre caminhos para a reintegração pós-pena.
Brasil no ranking mundial do encarceramento
O Brasil é hoje o terceiro país com maior número de presos no mundo, ficando atrás apenas de Estados Unidos e China.
A posição coloca o país em um dilema: mesmo com gastos bilionários, não há indícios de melhora significativa nas condições prisionais ou na redução da violência.
Esse cenário evidencia que o problema não se resume a cifras. Trata-se de um desafio estrutural, que envolve desde o déficit histórico de vagas até a falta de políticas eficazes de reinserção e combate à reincidência criminal.
Um debate que vai além dos números
Quando se observa que manter um único preso custa quase R$ 1.000 a mais do que ganha um trabalhador com salário mínimo, a questão deixa de ser apenas contábil.
Ela expõe as fragilidades de um modelo que consome bilhões, mas não entrega soluções proporcionais à sociedade.
Enquanto países desenvolvidos buscam reduzir o encarceramento em massa por meio de alternativas legais e sociais, o Brasil segue ampliando seus gastos sem resolver o problema da criminalidade.
A conta bilionária, nesse ritmo, tende a crescer ainda mais — e com ela o questionamento sobre se o país está investindo nos caminhos corretos para a segurança pública.