1. Início
  2. / Economia
  3. / O custo bilionário dos presídios no Brasil: cada preso custa mais que o salário mínimo
Tempo de leitura 4 min de leitura Comentários 0 comentários

O custo bilionário dos presídios no Brasil: cada preso custa mais que o salário mínimo

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 22/09/2025 às 18:42
  • Reação
Uma pessoa reagiu a isso.
Reagir ao artigo

O Brasil gasta mais de R$ 10 bi em presídios só em 2025. Cada preso custa R$ 2.498 por mês, acima do salário mínimo, em um sistema superlotado que coloca o país no 3º lugar mundial em encarceramento

Manter o sistema prisional brasileiro consome cifras impressionantes do orçamento público. De acordo com dados oficiais do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), um preso custa em média R$ 2.498,34 por mês, valor quase mil reais acima do salário mínimo atual, fixado em R$ 1.518.

O contraste escancara um debate urgente: o país gasta bilhões com o encarceramento, mas segue enfrentando superlotação, reincidência criminal e falhas estruturais.

Um peso bilionário para os cofres públicos

Somente no primeiro semestre de 2025, o Brasil desembolsou mais de R$ 10 bilhões para manter o sistema prisional em funcionamento. Desse montante, a alimentação dos detentos é uma das rubricas que mais cresceu, alcançando R$ 1 bilhão em despesas — um salto de 39% em relação ao período anterior.

O dado contrasta com a realidade de milhões de brasileiros que vivem com rendimentos inferiores ao salário mínimo, acentuando a percepção de desequilíbrio entre os custos de manutenção de presos e os investimentos em áreas sociais como saúde e educação.

Superlotação e desigualdade entre estados

O Brasil possui hoje mais de 909 mil pessoas em cumprimento de pena, segundo levantamento mais recente do Depen. Destas, 674 mil estão em celas físicas e cerca de 235 mil cumprem prisão domiciliar, muitas vezes sob monitoramento eletrônico.

Apesar do investimento bilionário, a realidade dentro dos presídios continua marcada pela superlotação. A capacidade instalada em 2024 era de pouco menos de 500 mil vagas, o que significa um déficit superior a 400 mil postos.

Penitenciária de Florianópolis (SC) – Estrutura histórica que reflete o desafio do sistema prisional brasileiro: superlotação, altos custos de manutenção e déficit de vagas em todo o país

Essa diferença coloca o país entre os líderes globais em encarceramento, ao lado de Estados Unidos e China.

Outro fator que chama a atenção é a variação no custo por preso entre os estados. Enquanto em alguns locais o gasto mensal fica em torno de R$ 1.100, em outros, como a Bahia, ultrapassa os R$ 4.300 por detento.

A discrepância revela não apenas desigualdade administrativa, mas também falhas na gestão de recursos.

Presídios federais de segurança máxima: um caso à parte

Se os custos já são elevados nas penitenciárias estaduais, o cenário se torna ainda mais oneroso quando se analisam as unidades federais de segurança máxima.

Em 2024, o gasto médio por preso nessas instituições ultrapassou os R$ 40 mil por mês, valor semelhante ao registrado em países como os Estados Unidos.

Essas unidades abrigam líderes de facções criminosas e presos considerados de alta periculosidade, exigindo um aparato tecnológico e de segurança muito superior.

No entanto, especialistas apontam que manter cifras tão altas para um número reduzido de detentos levanta questionamentos sobre eficiência e retorno para a sociedade.

Impactos sociais e alternativas debatidas

A manutenção de um preso custar mais que o salário de um trabalhador formal gera discussões acaloradas no campo político e social.

Para alguns, o número evidencia a necessidade de repensar o modelo atual, investindo mais em prevenção ao crime, educação e políticas sociais que possam reduzir a criminalidade a longo prazo.

Outros defendem a ampliação de medidas alternativas à prisão, como a expansão do regime domiciliar com monitoramento, a justiça restaurativa e programas de reinserção.

Em 2024, cerca de 158 mil presos já exerciam alguma atividade laboral dentro do sistema prisional, iniciativa que ajuda a reduzir custos e abre caminhos para a reintegração pós-pena.

Brasil no ranking mundial do encarceramento

O Brasil é hoje o terceiro país com maior número de presos no mundo, ficando atrás apenas de Estados Unidos e China.

A posição coloca o país em um dilema: mesmo com gastos bilionários, não há indícios de melhora significativa nas condições prisionais ou na redução da violência.

Esse cenário evidencia que o problema não se resume a cifras. Trata-se de um desafio estrutural, que envolve desde o déficit histórico de vagas até a falta de políticas eficazes de reinserção e combate à reincidência criminal.

Um debate que vai além dos números

Quando se observa que manter um único preso custa quase R$ 1.000 a mais do que ganha um trabalhador com salário mínimo, a questão deixa de ser apenas contábil.

Ela expõe as fragilidades de um modelo que consome bilhões, mas não entrega soluções proporcionais à sociedade.

Enquanto países desenvolvidos buscam reduzir o encarceramento em massa por meio de alternativas legais e sociais, o Brasil segue ampliando seus gastos sem resolver o problema da criminalidade.

A conta bilionária, nesse ritmo, tende a crescer ainda mais — e com ela o questionamento sobre se o país está investindo nos caminhos corretos para a segurança pública.

Aplicativo CPG Click Petroleo e Gas
Menos Anúncios, interação com usuários, Noticias/Vagas Personalizadas, Sorteios e muitos mais!
Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

Compartilhar em aplicativos
Baixar aplicativo para Android
Baixar aplicativo
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x