Este componente crítico da exploração de petróleo em alto-mar precisa suportar pressões extremas, e a falha do duto que conecta o poço à plataforma pode causar desastres ambientais e perdas de milhões de dólares.
No complexo mundo da exploração de petróleo em alto-mar, um componente se destaca por sua importância e custo: o riser de produção. Este é o duto que conecta o poço à plataforma, funcionando como uma artéria vital que transporta o óleo e gás do fundo do oceano até a superfície. Conhecido como “canudo flexível”, sua tecnologia é tão avançada que o custo pode chegar a US$ 100.000 por metro.
Projetado para ser uma maravilha da engenharia, o riser flexível também é uma fonte de risco. Falhas em sua estrutura já causaram prejuízos bilionários e levaram a indústria a uma corrida por novas tecnologias, materiais e sistemas de monitoramento para garantir a segurança e a viabilidade da produção em águas ultraprofundas.
O que é o riser, a artéria vital da plataforma em alto-mar?
Em termos simples, o riser de produção é a ligação crítica entre um poço de petróleo submarino e a plataforma flutuante na superfície. Ele transporta os fluidos de produção (óleo e gás), além de fluidos de injeção e de controle, superando um dos ambientes mais hostis do planeta.
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Este duto que conecta o poço à plataforma precisa suportar a imensa pressão externa da água, que pode chegar a 3.000 metros de profundidade, e ao mesmo tempo conter a altíssima pressão interna do petróleo e gás, que pode exceder 1.000 bar (quase mil vezes a pressão atmosférica). Além disso, ele precisa ser flexível para acompanhar os movimentos constantes da plataforma, causados por ondas e correntes.
As múltiplas camadas de aço e polímeros: a engenharia por trás do “canudo”
A genialidade do riser flexível está em sua construção. Ele não é um tubo único, mas uma estrutura compósita com múltiplas camadas independentes que deslizam umas sobre as outras, garantindo flexibilidade e resistência. As principais camadas são:
Carcaça: a camada mais interna, feita de fita de aço intertravada, que resiste ao colapso pela pressão externa.
Bainha de pressão interna: uma camada de polímero que garante a vedação, impedindo o vazamento do óleo e gás.
Armadura de pressão: camadas de arames de aço que suportam a força da alta pressão interna do fluido.
Armadura de tração: considerada a espinha dorsal do riser, são múltiplas camadas de arames de aço que suportam o peso de toda a estrutura suspensa na água.
Bainha externa: a camada mais externa, feita de polímero, que protege as camadas de aço da corrosão causada pela água do mar.
A falha que custa milhões: o risco de corrosão e os desastres no pré-sal
Apesar da engenharia sofisticada do duto que conecta o poço à plataforma, o riser flexível possui um calcanhar de Aquiles: a corrosão. Uma pequena falha na camada externa pode permitir a entrada de água do mar, que em contato com o aço da armadura, pode levar a uma falha catastrófica.
O problema se tornou crítico nos campos do pré-sal brasileiro. A combinação de alta pressão, altas temperaturas e o gás rico em CO2 criou um ambiente extremamente agressivo, causando um tipo de falha imprevisto chamado Corrosão Sob Tensão (SCC-CO2). Risers projetados para durar 25 anos estavam falhando em apenas dois ou três. Esses incidentes forçaram uma campanha massiva e bilionária de substituição dos dutos, como um contrato de aproximadamente US$ 800 milhões para a troca de apenas 11 risers no campo de Tupi.
Monitoramento em tempo real e os dutos do futuro
As falhas no pré-sal levaram a uma revolução na tecnologia de risers. A indústria passou de um modelo de “instalar e inspecionar” para um de “instalar e monitorar continuamente”. Empresas como TechnipFMC e Baker Hughes desenvolveram sistemas que usam ultrassom e ondas eletromagnéticas para inspecionar as camadas internas do duto em tempo real, criando um “gêmeo digital” que permite prever falhas.
A maior inovação, no entanto, está nos materiais. Para eliminar o risco de corrosão, a indústria está desenvolvendo uma nova geração de dutos:
Duto Compósito Termoplástico (TCP): substitui o aço por fibras de carbono, tornando o duto imune à corrosão e até 90% mais leve.
Duto Flexível Híbrido (HFP): combina um núcleo de compósito resistente à corrosão com as camadas externas de armadura de aço, mantendo o peso necessário para a estabilidade no mar.
Por que um duto que conecta o poço à plataforma é tão caro?
O custo elevado de um riser flexível não está apenas em sua fabricação complexa e nos materiais avançados. O preço reflete o imenso risco envolvido na operação. Uma falha não significa apenas a perda do duto, mas a paralisação da produção, que pode custar milhões de dólares por dia, além do risco de um desastre ambiental de proporções imensuráveis.
Portanto, o alto valor de um duto que conecta o poço à plataforma é, na verdade, um investimento em segurança e confiabilidade. A tecnologia embarcada, o monitoramento constante e os novos materiais são projetados para garantir que a artéria vital da produção offshore continue a pulsar de forma segura e eficiente, mesmo nas condições mais extremas da Terra.