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O brasileiro que descobriu como “imprimir” órgãos humanos e pode acabar com as filas de transplantes no mundo

Escrito por Carla Teles
Publicado em 01/07/2025 às 16:19
O brasileiro que descobriu como "imprimir" órgãos humanos e pode acabar com as filas de transplantes no mundo
Um brasileiro descobriu como imprimir órgãos humanos e pode acabar com as filas de transplante. Veja como a bioimpressão funciona e a revolução que ela representa.
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Liderada pelo médico Gabriel Liguori, a tecnologia de bioimpressão avança no Brasil como uma esperança concreta para solucionar a crise de doações e transformar a medicina regenerativa.

Um brasileiro está à frente de uma tecnologia que pode solucionar um dos maiores dramas da saúde mundial: as filas de transplantes. O médico e pesquisador Dr. Gabriel Liguori desenvolveu um método para imprimir órgãos humanos em laboratório. A inovação promete, em um futuro próximo, criar corações, fígados e rins sob demanda, utilizando as células do próprio paciente e, com isso, eliminando o risco de rejeição.

Uma fila de espera que não para de crescer

A medicina de transplantes é um sucesso, mas enfrenta uma crise crônica no Brasil. Em 2024, a fila por um órgão atingiu a marca de 78.000 pessoas, o maior número em 25 anos. O rim é o órgão mais aguardado, com mais de 42.838 pacientes na lista. Em seguida, vêm a córnea e o fígado.

Apesar de o país realizar um número recorde de cirurgias, com mais de 30.300 procedimentos, a fila não diminui. O principal obstáculo não é a capacidade cirúrgica, mas a falta de doadores. Um dos fatores mais críticos é a alta taxa de recusa familiar para a doação, que permanece em preocupantes 42% a 45%.

Esse cenário mostra que o modelo atual atingiu um limite. A solução não está apenas em otimizar o sistema, mas em encontrar uma alternativa que contorne a necessidade da doação. É aqui que a tecnologia para imprimir órgãos humanos surge como uma fronteira de esperança.

Quem são os pioneiros brasileiros na bioimpressão de órgãos?

A inovação no Brasil tem duas frentes principais, que se complementam.

De um lado, está o Dr. Gabriel Liguori, um médico empreendedor de 34 anos. Formado pela USP e com passagens por Harvard, ele fundou a startup TissueLabs em 2019. Sua meta é ambiciosa: construir o primeiro coração bioartificial para transplante em dez anos.

A estratégia da TissueLabs é funcionar como uma plataforma. A empresa desenvolve e vende as ferramentas da bioimpressão, como impressoras 3D e mais de 15 tipos de “biotintas” específicas, para pesquisadores no mundo todo. Isso acelera o avanço científico de forma coletiva.

Na outra frente, está a pesquisa acadêmica do Professor Dawidson Gomes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em seu laboratório, o Biolink, o foco é a medicina regenerativa, como o desenvolvimento de peles artificiais para queimaduras, e a criação de “organoides” (modelos de tecidos) para substituir o uso de animais em testes de medicamentos e cosméticos.

Como funciona a tecnologia para imprimir órgãos humanos?

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O processo, que parece ficção científica, segue etapas bem definidas.

  1. Pré-processamento: Tudo começa com um modelo digital 3D do órgão, geralmente criado a partir de uma tomografia do paciente.
  2. Processamento: Uma bioimpressora deposita, camada por camada, uma “biotinta”. Essa tinta é um hidrogel que contém as células vivas do paciente, garantindo que não haverá rejeição.
  3. Pós-processamento: A estrutura impressa é colocada em um biorreator. Este equipamento simula as condições do corpo humano, permitindo que as células se multipliquem e se organizem para formar um tecido funcional e estável.

A grande inovação está na biotinta. A TissueLabs, por exemplo, utiliza a matriz extracelular de órgãos de porco que foram descelularizados. Isso cria um “andaime” muito mais preciso para as células humanas se desenvolverem corretamente.

O impacto da bioimpressão muito além dos transplantes

Embora um coração completo ainda seja um objetivo futuro, a tecnologia já traz benefícios reais. Uma das aplicações mais importantes é a criação de modelos de tecidos humanos para testes. Pesquisadores podem imprimir órgãos humanos em miniatura (organoides) para testar a eficácia e a toxicidade de novos remédios, reduzindo drasticamente a necessidade de testes em animais.

A tecnologia também avança na prática clínica. Na ortopedia, o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) já usa impressão 3D para fabricar implantes de titânio personalizados. O próximo passo é a bioimpressão de cartilagem e osso. Na dermatologia, a pesquisa foca na criação de pele para vítimas de queimaduras. Já na cardiologia, a meta é criar “remendos” de músculo cardíaco para reparar danos de infartos.

O que falta para a tecnologia de imprimir órgãos humanos chegar aos pacientes?

O caminho do laboratório ao paciente ainda possui obstáculos significativos. O maior desafio científico é a vascularização: recriar a complexa rede de veias e artérias que nutre os órgãos. Sem ela, as células morrem.

Outro ponto é o alto custo. Equipamentos, materiais e profissionais qualificados tornam a tecnologia cara. No entanto, o custo de um órgão impresso pode ser menor, a longo prazo, do que o custo de tratamentos contínuos como a diálise, que sobrecarregam o SUS.

Finalmente, há o desafio regulatório. No Brasil, um órgão bioimpresso é um “Produto de Terapia Avançada” e precisa de regras claras da ANVISA. Especialistas apontam que as normas atuais são genéricas e precisam ser adaptadas para essa nova realidade, garantindo segurança e agilidade no desenvolvimento. A expectativa dos pioneiros brasileiros é que, superados esses desafios, os primeiros órgãos complexos impressos para transplante sejam uma realidade clínica em um prazo de 10 a 15 anos.

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Carla Teles

Produzo conteúdos diários sobre tecnologia, inovação, construção e setor de petróleo e gás, com foco no que realmente importa para o mercado brasileiro. Aqui, você encontra oportunidades de trabalho atualizadas e as principais movimentações da indústria. Tem uma sugestão de pauta ou quer divulgar sua vaga? Fale comigo: carlatdl016@gmail.com

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