Impostos moldam carros: 42% do mercado brasileiro é 1.0 por causa do IPI, enquanto 51% dos indianos dirigem carros até 4 m
O mercado automotivo brasileiro é frequentemente apontado como exemplo de distorções causadas pela tributação. Segundo análise do empresário Sérgio Habib, 42% dos veículos vendidos no país em 2025 têm motores 1.0 flex ou turbo, não por preferência do consumidor, mas porque o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) é menor para essa faixa.
A regra criou um mercado de massa baseado em propulsores pequenos, mesmo em modelos maiores como SUVs compactos.
Na prática, o brasileiro não “escolhe” o motor 1.0 — ele é conduzido a isso pela lógica tributária.
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Modelos com 1.0 aspirado (80–90 cv) ou turbinado (115–130 cv) dominam, enquanto motores acima dessa faixa são penalizados com alíquotas mais altas.
O resultado é um portfólio em que as montadoras priorizam versões 1.0 para disputar preço, mesmo em carros que poderiam ter opções mais potentes.
O caso indiano: menos de 4 metros
Se no Brasil o limite é a cilindrada, na Índia a distorção vem do comprimento do veículo.
Lá, automóveis com até 4 metros pagam menos imposto, enquanto os maiores enfrentam carga adicional de até 15%.
O efeito foi imediato: em 2024, 51% dos carros vendidos no país tinham menos de 4 m, incluindo SUVs, sedãs e hatches “encurtados” para caber na faixa de benefício.
Esse modelo já derrubou projetos internacionais. Em 2008–2009, a Renault tentou lançar o Sandero na Índia, mas, com 4,07 m, o carro ficou fora do benefício.
O fracasso levou ao fechamento da fábrica e prejuízo bilionário.
O episódio ilustra como a tributação pode determinar não apenas a preferência do consumidor, mas a sobrevivência de uma estratégia global.
Paralelos históricos: quando o imposto define o design
As distorções não são exclusivas do setor automotivo. Entre os séculos XVIII e XIX, a França aplicou um imposto sobre portas e janelas, o que levou famílias a construir casas com pouquíssimas aberturas — um traço arquitetônico visível até hoje.
O paralelo mostra que quando o tributo se sobrepõe à lógica de engenharia ou estética, ele molda diretamente os produtos disponíveis no mercado.
No caso brasileiro, a “jabuticaba tributária” também limita a entrada de montadoras estrangeiras.
Muitas marcas chinesas não possuem motores 1.0 turbo flex, ficando automaticamente excluídas de quase metade do mercado.
Para completar, 70% das vendas estão abaixo de R$ 160 mil, enquanto apenas 6% superam R$ 300 mil, tornando o segmento premium ainda mais restrito.
A conclusão é clara: tanto no Brasil quanto na Índia, o imposto define o carro que o consumidor dirige.
Aqui, ele empurra para os motores 1.0 flex; lá, para veículos encurtados.
Essa realidade obriga montadoras a adaptar projetos globais às particularidades locais, sob risco de perder relevância e mercado.
E você, acha justo que a tributação defina o carro que chega às ruas? Os motores 1.0 flex realmente atendem às necessidades do brasileiro ou só existem por causa do IPI? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir sua visão sobre essa “jabuticaba” automotiva.