Multinacionais controlam grande parte das marcas mais consumidas no Brasil, mesmo com o país liderando a produção mundial de café e exportação
O Brasil é o maior produtor de café do mundo e abastece tanto o mercado externo quanto o interno. Apesar disso, segundo noticiou o G1, muitas marcas consumidas diariamente pelos brasileiros não são controladas por empresas nacionais.
Essa realidade chama atenção porque, mesmo com a abundância da matéria-prima, grandes multinacionais dominam as prateleiras dos supermercados.
Marcas estrangeiras no dia a dia
O Café Pilão é um exemplo. De acordo com artigo publicado pelo G1, a marca pertence à holandesa JDE Peet’s, que foi adquirida nesta semana pela norte-americana Keurig Dr Pepper.
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Outras empresas também controlam nomes populares, como Melitta, 3 Corações, Café Brasileiro, Café do Ponto e Caboclo.
A suíça Nestlé, responsável pelo Nescafé e pelo Nespresso, reforça ainda mais a presença estrangeira no setor.
Essa participação não é recente. Ela vem de décadas de investimentos e aquisições, moldando o mercado atual.
Para entender o cenário, o g1 conversou com Celírio Inácio, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic).
Quem controla o café no Brasil
Segundo dados da Abic, com base na Nielsen, quatro empresas concentram 55,6% do mercado de café no Brasil. São elas: 3 Corações, JDE Peet’s, Melitta e Nestlé. Além disso, a brasileira Camil ganhou espaço nos últimos anos.
A 3 Corações lidera o mercado. A empresa é uma joint-venture entre a brasileira São Miguel Holding e a israelense Strauss, com participação igualitária.
Controla marcas como Café Brasileiro, Iguaçu e Santa Clara, além da própria 3 Corações, e mantém nove fábricas espalhadas pelo país.
A JDE Peet’s ocupa a segunda posição. A companhia chegou ao Brasil em 1998 e hoje detém marcas como Café Pilão, L’OR, Café do Ponto, Café Pelé e Caboclo. Com quatro fábricas, consolidou sua presença em diversas regiões.
Na terceira colocação está a Melitta. A empresa alemã desembarcou no Brasil em 1968 fabricando filtros de café. Apenas em 1980 passou a vender seu café próprio. Atualmente, possui quatro fábricas e mantém força no mercado.
A Nestlé aparece em quarto lugar. A multinacional suíça está presente desde 1921 e lançou o Nescafé no Brasil na década de 1950. Hoje, lidera o segmento de cápsulas com a marca Nespresso. Para o setor de café, mantém uma fábrica no país.
Por fim, a Camil representa a força nacional. Tradicional no setor de alimentos, entrou no mercado de café em 2021. Com uma fábrica em Varginha (MG), controla as marcas Bom Dia, Seleto e União.
Como as multinacionais chegaram
A Abic explica que a entrada das multinacionais foi gradual. Nestlé e Melitta, por exemplo, se estabeleceram no país com outros produtos e só depois investiram no café.
Já a holandesa JDE Peet’s chegou no fim da década de 1990 comprando marcas já conhecidas, como Café do Ponto e Pilão.
O caso da israelense Strauss Group é semelhante. A empresa entrou no Brasil em 2000 ao adquirir a Café Três Corações.
Cinco anos depois, formou uma sociedade com a São Miguel Holding, dona do café Santa Clara, criando o grupo 3 Corações.
Esse movimento coincidiu com a expansão dos supermercados no país nas décadas de 1990 e 2000. As grandes redes ajudaram a levar marcas antes regionais para diferentes estados, ampliando a visibilidade e o consumo.
“Até então, o mercado de café era regional e caseiro. Com os supermercados, as marcas se tornaram conhecidas nacionalmente”, explicou Celírio.
Por que o Brasil atrai investimentos
O setor de café no Brasil chama atenção das multinacionais porque reúne três fatores: grande faturamento interno, volume de vendas e facilidade de acesso à matéria-prima.
A estrutura do mercado e a disponibilidade de grãos criam um ambiente favorável para novos investimentos e expansão de marcas já estabelecidas.
O café continua brasileiro
Apesar do controle estrangeiro, o café consumido no país é 100% nacional, no caso do torrado e moído. Segundo a Abic, cerca de 22 milhões de sacas são destinadas ao consumo interno.
As empresas compram os grãos de produtores ou cooperativas e fazem a seleção para garantir o padrão de cada marca.
Depois, o café passa pelo processo de industrialização nas fábricas antes de chegar às prateleiras. “As empresas precisam ter várias fontes de compra para manter o padrão de cada tipo de café. É um mercado bastante disputado”, concluiu Celírio.
Com informações de G1.