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‘Nunca mais usar dólar’: empresário brasileiro que importa da China há quase três décadas adota o yuan para driblar tarifas e reduzir custos

Escrito por Felipe Alves da Silva
Publicado em 25/08/2025 às 16:37
Óculos da Chilli Beans sobre notas de yuan chinês.
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Decisão de Caito Maia, fundador da Chilli Beans, ocorre em meio ao impacto das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos e revela tendência crescente do uso da moeda chinesa em transações internacionais

São Paulo – O empresário brasileiro Caito Maia, fundador e CEO da Chilli Beans, anunciou que pretende abandonar de forma definitiva o uso do dólar em suas operações de importação da China. A decisão foi tomada após a imposição de tarifas pelo governo de Donald Trump sobre produtos importados, medida que encareceu transações e levou empresas a buscar alternativas cambiais.

Segundo Maia, todas as negociações com fornecedores chineses passarão a ser realizadas em yuan (renminbi), moeda oficial da China. “A ideia é que o uso do dólar não volte nunca mais e que façamos todas as transações diretamente com a China: em termos de moeda, compra, comércio, tudo”, afirmou em entrevista à revista Exame.

Mudança estratégica para reduzir riscos

A Chilli Beans, que atua no setor de fast fashion de óculos e acessórios, mantém suas linhas de produção na China, de onde importa toda a mercadoria vendida no Brasil. Apesar de já ter manifestado o desejo de fabricar no país, Maia aponta que a demanda atual e o nível de impostos tornam inviável a produção local. “A gente não tem nenhuma fábrica no Brasil que possa atender a nossa capacidade”, explicou.

O movimento do empresário ocorre em um contexto de transformação do comércio internacional, em que o yuan avança como alternativa ao dólar em transações entre países emergentes e parceiros estratégicos da China.

Crescimento do yuan nas reservas brasileiras

De acordo com dados do Banco Central do Brasil, o yuan passou a integrar oficialmente as reservas internacionais brasileiras em 2019. Em apenas três anos, superou a participação do euro: em 2022, o yuan representava 5,37% das reservas, enquanto a moeda europeia detinha 4,74%.

A China ocupa o posto de principal parceiro comercial do Brasil desde 2009, concentrando a maior fatia das exportações brasileiras, sobretudo de commodities como soja, minério de ferro e petróleo. A adoção da moeda chinesa tende a consolidar essa relação, ainda que Pequim não adote como meta a completa internacionalização do yuan, medida que poderia limitar sua autonomia em política monetária.

Alternativas ao sistema SWIFT

O avanço do yuan também tem sido favorecido por sanções econômicas aplicadas pelos Estados Unidos a países como Rússia e Irã, que passaram a buscar meios de driblar a dependência do dólar. Nesse cenário, a China vem impulsionando o CIPS (Cross-Border Interbank Payment System), sistema de pagamento interbancário transfronteiriço criado como alternativa ao SWIFT, dominado pelo Ocidente.

No Brasil, o Banco BoCom BBM, resultado da parceria entre o Banco das Comunicações da China (BoCom) e o Banco BBM da Bahia, foi a primeira instituição da América do Sul a ingressar no CIPS. Esse sistema poderia ser utilizado pela Chilli Beans para executar as transações em yuan, consolidando a estratégia defendida por Caito Maia.

Contexto global e impactos no Brasil

O fortalecimento do uso do yuan não ocorre apenas no Brasil. Outros países em desenvolvimento têm recorrido à moeda chinesa para facilitar negociações bilaterais, reduzir custos com câmbio e minimizar riscos geopolíticos. Especialistas apontam que, mesmo sem buscar substituir o dólar globalmente, a China tem avançado em nichos estratégicos de comércio e energia.

A informação sobre a decisão de Maia foi publicada pela Exame e repercutida em veículos de imprensa como o Brasil de Fato, que destacou a relação direta entre o aumento do uso do yuan e as tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos.

Perspectivas para os próximos anos

O caso da Chilli Beans exemplifica como empresas brasileiras têm buscado alternativas mais eficientes para lidar com a volatilidade cambial e barreiras comerciais. Embora a produção local ainda seja considerada inviável, a adoção do yuan pode representar uma mudança estrutural no modelo de negócios de companhias que dependem fortemente de importações.

Para o empresário, a estratégia de longo prazo é clara: “Nunca mais usar dólar” em suas transações com a China.

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Felipe Alves da Silva

Profissional com formação militar pelo Exército Brasileiro e experiência em gestão administrativa e logística no setor industrial. Escreve sobre defesa, segurança, geopolítica, indústria automotiva, ciência e tecnologia. Sugestões de pauta: fa06279@gmail.com

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