Banco digital mais valioso do Brasil enfrenta crise interna após anunciar que, a partir de julho de 2026, 70% da equipe terá de ir ao escritório ao menos 2 vezes por semana, elevando a presença para 3 dias em 2027; demissões por justa causa, advertências e expansão de escritórios marcam a transição
O Nubank, que recentemente se consolidou como a empresa mais valiosa do Brasil, atravessa um momento de tensão interna após anunciar o fim do modelo de trabalho quase 100% em home office. Como consequência direta da reação de parte da equipe às novas regras, o banco digital confirmou a demissão de 12 funcionários na última sexta-feira (7/11). As dispensas ocorreram depois de uma reunião marcada por críticas, falas ríspidas e episódios considerados desrespeitosos pela direção.
A informação foi divulgada pelo portal Metrópoles, que detalhou a mudança no modelo de trabalho e a forma como a empresa conduziu a transição para o formato híbrido. Segundo o apurado, o anúncio interno provocou uma reação imediata e expôs o choque entre a cultura consolidada no período de home office quase integral e as novas diretrizes da liderança.
De home office quase total ao híbrido: como será a nova rotina no Nubank
De acordo com a própria companhia, a mudança será gradual, mas profunda. A partir do dia 1º de julho de 2026, ao menos 70% dos funcionários do Nubank terão de comparecer presencialmente ao escritório dois dias por semana. Em seguida, a política ficará ainda mais rígida: a quantidade de dias obrigatórios no escritório subirá para três por semana a partir de 1º de janeiro de 2027.
-
INSS força mudanças profundas no consignado, faz a Caixa suspender o seguro prestamista e cria um novo padrão de proteção financeira para aposentados e pensionistas
-
A Oi não resistiu: empresa é declarada falida e deixa um rombo bilionário no setor de telecomunicações brasileiro. Serviços essenciais continuarão provisoriamente sob gestão judicial
-
VR como você conhece está com os dias contados: Governo Lula vai anunciar mudanças e trabalhadores terão mais liberdade e lojistas vão receber mais rápido
-
Câmara aprova projeto de lei que cria programa nacional para fortalecer o microempreendedorismo no Brasil
Atualmente, a realidade é bem diferente. Hoje, os funcionários do banco digital comparecem ao escritório apenas durante uma semana por trimestre, em um modelo fortemente baseado no trabalho remoto. Por isso, a mudança foi percebida internamente como uma guinada relevante na cultura de trabalho, com impacto direto na rotina de quem se estruturou para atuar à distância.
Essa alteração de política já havia sido antecipada em um e-mail assinado pelo CEO do Nubank, David Vélez. Na mensagem enviada à equipe, o executivo admitiu que a empresa tinha ciência de que poderia haver uma “disrupção para parte dos funcionários” com o novo formato de trabalho. Ainda assim, reforçou que a liderança considerava a presença física em escritórios estratégicos importante para a próxima fase de crescimento da instituição.
Reunião com 7 mil funcionários, tensão no Zoom e demissão de 12 pessoas
Apesar do aviso prévio, foi na reunião da última quinta-feira (6/11) que o conflito se tornou explícito. O Nubank organizou um grande encontro interno do qual participaram cerca de 7 mil dos 9,5 mil funcionários da companhia. A maior parte da equipe acompanhou o evento remotamente, via Zoom, o que já reflete o modelo atual de organização do trabalho.
Durante o encontro, alguns funcionários reagiram de forma dura à mudança no formato de trabalho. A reunião foi marcada por momentos de maior rispidez, com linguajar agressivo e até insultos entre participantes. Esse tipo de postura, segundo a empresa, ultrapassou o limite do que é considerado aceitável em um ambiente corporativo, mesmo em um contexto de discordância com decisões estratégicas da liderança.
Com isso, o episódio foi encaminhado ao Comitê de Conduta do Nubank, órgão interno responsável por avaliar possíveis violações às políticas de comportamento da instituição. Depois de analisar o caso, o comitê concluiu que houve situações que justificavam medidas mais duras. No dia seguinte, uma nova mensagem foi enviada aos funcionários informando a demissão de 12 pessoas.
No comunicado, o Nubank descreveu a decisão como difícil, mas necessária. “Foi uma decisão difícil, mas nós impusemos um limite do que é desrespeito e agressão”, afirmou a mensagem interna, deixando claro que o banco pretende preservar espaços de debate, mas não admite que a discordância se converta em ataques pessoais ou condutas agressivas.
Ainda de acordo com o órgão interno de conduta, os casos analisados apresentaram elementos que justificaram as demissões por justa causa, o que chama atenção pela gravidade do enquadramento. Além das 12 demissões, o banco digital informou que “muitos outros funcionários vão receber advertências por escrito”, reforçando que houve um leque de comportamentos reprovados, com diferentes níveis de gravidade.
Funcionários reclamam de distância, representatividade e impacto fora do Sudeste
Paralelamente às medidas disciplinares, continuaram as manifestações de insatisfação de parte dos colaboradores. Em um fórum de discussão interno, alguns funcionários alegaram que moram longe das cidades nas quais o Nubank mantém escritórios físicos e que teriam sido pegos de surpresa com o anúncio da nova política de trabalho.
Além disso, surgiram críticas relacionadas à falta de representatividade de pessoas de fora do Sudeste na instituição financeira. Segundo esses relatos, a mudança no modelo de trabalho prejudicaria mais quem mora fora de São Paulo, onde se concentram as principais estruturas físicas da empresa. Na visão de parte dos funcionários, exigir presença constante em cidades específicas pode criar barreiras adicionais para quem construiu sua carreira no banco a partir de regiões mais distantes.
Por outro lado, a direção do Nubank afirma que a nova configuração não foi pensada para excluir profissionais de outras regiões, mas para reorganizar o trabalho em torno de polos estratégicos, em um cenário competitivo em que a colaboração presencial, segundo a liderança, volta a ganhar peso. Ainda assim, o descontentamento exposto revela um desafio de comunicação interna e gestão de mudanças em uma empresa que se tornou referência justamente por adotar modelos flexíveis e digitais.
Expansão de escritórios e hubs globais para receber mais trabalho presencial
Em resposta às preocupações sobre infraestrutura, o Nubank comunicou aos funcionários que pretende expandir sua rede de escritórios físicos para absorver o aumento no número de pessoas em regime presencial. Hoje, a companhia conta com duas unidades em São Paulo, uma na Cidade do México e outra em Bogotá, na Colômbia.
Além dos escritórios tradicionais, o banco digital mantém três espaços voltados a networking e capacitação, conhecidos como “hubs de talentos”. Eles estão localizados em Montevidéu (Uruguai), Berlim (Alemanha) e Durham (EUA). Esses pontos funcionam como centros de encontro, treinamento e troca de conhecimento entre equipes distribuídas globalmente.
O plano de expansão é ambicioso. A companhia pretende inaugurar novos escritórios em Campinas (SP), Belo Horizonte (MG) e Rio de Janeiro (RJ), reforçando a presença no Brasil. No exterior, há projetos para abertura de unidades em Buenos Aires (Argentina), Washington (EUA), Miami (EUA) e Palo Alto (EUA), consolidando a presença da fintech em importantes mercados internacionais de tecnologia e finanças.
Com essa rede ampliada, o Nubank busca criar mais opções de local de trabalho presencial para acomodar a política híbrida que entra em vigor a partir de 2026. Ao mesmo tempo, a estratégia reforça a imagem do banco como uma multinacional de tecnologia, com times espalhados em diferentes países, mas conectados a polos físicos relevantes.
Quais funções continuam remotas e o que diz o Nubank sobre o caso
Apesar da guinada em direção ao modelo híbrido, o Nubank esclarece que algumas funções continuarão sendo exercidas remotamente. Segundo a fintech, são cargos em que a natureza do trabalho exige pouca ou nenhuma interação com outras equipes e, portanto, não há necessidade de presença frequente em escritório.
Entre as funções mencionadas, estão profissionais de atendimento ao cliente, profissionais de investimentos, áreas de ouvidoria, rotuladores de dados, investigadores de crimes financeiros, profissionais de soluções regulatórias e profissionais de recursos humanos em determinados escopos. Para esses grupos, a lógica de atuação à distância segue fazendo sentido operacional.
Procurado pela reportagem do Metrópoles, o Nubank afirmou, por meio de nota, que “trabalha para preservar canais e rituais abertos para o livre debate entre seus funcionários, mas não tolera desrespeito e violações de conduta”. O banco digital também reforçou a política de confidencialidade, declarando que “não comenta casos individuais de desligamento”.
Dessa forma, a instituição tenta equilibrar a defesa da liberdade de expressão interna com a necessidade de manter padrões de convivência considerados adequados para um ambiente corporativo global. Ao mesmo tempo, a empresa encara o desafio de implementar um novo modelo de trabalho, migrando do home office quase total para um formato híbrido com até três dias presenciais por semana, em meio a debates intensos sobre mobilidade, representatividade e cultura organizacional.


-
Uma pessoa reagiu a isso.