Brasil fecha acordo inédito com país para exportar carne bovina com osso e miúdos, reforçando presença no Sudeste Asiático e ampliando mercados diante das tarifas impostas pelos Estados Unidos.
O Brasil passou a ter acesso ao mercado de carne bovina da Indonésia para carne com osso e miúdos, após a conclusão de requisitos sanitários entre os dois governos.
A abertura inclui também produtos cárneos e preparados de carne, insere o quarto país mais populoso no radar do agro brasileiro e atende a uma demanda crescente por proteína no Sudeste Asiático.
O que muda no acesso ao mercado indonésio
Pelo entendimento firmado, os frigoríficos brasileiros poderão embarcar carne bovina com osso, além de vísceras e derivados, desde que cumpram as exigências sanitárias definidas entre as autoridades dos dois países.
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A medida amplia o portfólio elegível e abre espaço para cortes pouco explorados em mercados tradicionais, como os miúdos, que têm maior saída na região.
A Indonésia é o maior país muçulmano do mundo e, de acordo com dados oficiais brasileiros, tem cerca de 283 milhões de habitantes.
O avanço no consumo de carne acompanha o aumento da renda e a expansão da classe média, fatores que têm sustentado a demanda por proteína animal no país asiático.
Por que a Indonésia importa para o Brasil
Além do tamanho da população, a Indonésia já figura entre os parceiros relevantes da agropecuária brasileira.
Em 2024, as compras indonésias de produtos do agro do Brasil somaram US$ 4,2 bilhões, com destaque para a soja e a cadeia sucroenergética, além de fibras e têxteis.
A entrada da carne bovina com osso e de miúdos tende a diversificar a pauta e ampliar o valor agregado das exportações.
A abertura ocorre em um momento de reorganização dos fluxos globais de carne bovina.
Para o Brasil, maior exportador mundial, conquistar espaço em mercados asiáticos de alta densidade populacional é uma forma de reduzir a dependência de poucos compradores e de extrair receita de cortes que têm consumo específico em determinadas culturas.
Tarifas dos EUA e a resposta do setor
O movimento brasileiro também dialoga com mudanças recentes nos Estados Unidos.
Em 6 de agosto de 2025, o governo norte-americano elevou a taxação sobre a carne bovina do Brasil, adicionando 50% de tarifa às vendas fora da cota, o que encareceu significativamente o produto brasileiro naquele mercado.
Analistas avaliam que o novo patamar de tarifas tende a redesenhar as rotas do comércio, com maior redirecionamento de volumes a outros destinos.
O impacto foi imediato nas estatísticas.
Em agosto, o México superou os Estados Unidos como segundo maior destino da carne brasileira, atrás apenas da China, após a vigência do novo tarifário.
A troca de posições reforça a necessidade de diversificação geográfica do exportador brasileiro e estimula a busca por mercados com requisitos já conhecidos pela indústria local.
Sudeste Asiático em expansão: Filipinas e vizinhança
A aproximação com a Indonésia se soma a avanços recentes em outros mercados do Sudeste Asiático.
Em meados de agosto, as Filipinas confirmaram acesso para carne bovina com osso e miúdos do Brasil, movimento visto pelo governo como mais um passo para ampliar a presença da proteína brasileira na região.
A abertura filipina reforça a tendência de aceitação de cortes e subprodutos que aumentam o aproveitamento do boi abatido.
No entorno regional, autoridades brasileiras também têm buscado habilitar novas plantas e destravar exigências logísticas para acelerar embarques.
Essas frentes operacionais, somadas às aberturas regulatórias, funcionam como complemento para transformar anúncios em comércio efetivo, reduzindo gargalos de armazenamento e de certificações específicas exigidas por cada país.
E o Japão: em que pé estão as conversas
Em paralelo, seguem as negociações para acesso ao mercado japonês, um dos mais valorizados do mundo.
Relatos recentes apontam tratativas concentradas em fornecedores da região Sul do Brasil e diálogos técnicos com autoridades japonesas.
Ainda não houve anúncio de abertura, mas o tema ganhou tração em 2025 em razão do quadro de oferta e das mudanças tarifárias que afetaram os fluxos com os EUA.
Para a indústria, entrar no Japão exigirá cumprir protocolos sanitários rígidos e possíveis condicionantes geográficas ligadas ao status de febre aftosa.
O avanço, caso ocorra, tende a reposicionar o Brasil em um mercado de alto valor, com perfil de consumo que remunera melhor cortes premium, embora o cronograma continue indefinido.
Impacto para o agro brasileiro e próximos passos
A abertura na Indonésia tem potencial de ampliar a receita do complexo bovino ao destravar canais para categorias de produtos com menor saída em outras praças, como os miúdos.
Além disso, cria alternativa diante do encarecimento do acesso aos EUA e pode atenuar oscilações de demanda concentradas em poucos destinos.
O efeito final dependerá da velocidade de habilitação de plantas, das exigências sanitárias impostas por Jacarta e da competitividade logística frente a fornecedores regionais.
Para dar início aos embarques, empresas e autoridades precisarão alinhar certificações, rotulagem e demais exigências técnicas do importador.
Do lado brasileiro, a indústria já opera com histórico de atendimento a mercados com regras específicas e deverá ajustar cronogramas de produção e segregação de linhas conforme as condições acordadas com a Indonésia.
Os primeiros lotes devem seguir assim que se completarem as etapas administrativas e operacionais previstas nos protocolos sanitários.
Em síntese, a entrada da Indonésia como compradora inédita de carne bovina com osso e miúdos do Brasil soma um mercado de grande escala ao portfólio do agro nacional exatamente quando a rota norte-americana ficou mais cara.
Com Filipinas abrindo espaço e o Japão no horizonte das negociações, o mapa das exportações brasileiras no pós-tarifas tende a ficar mais distribuído geograficamente e melhor remunerado por categoria de produto.