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Novo acordo: carne bovina do Brasil volta a ter país europeu como rota, mas tem um detalhe: exportação é de bovinos vivos e país europeu leva 21,9 mil animais brasileiros

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 28/08/2025 às 12:57
Brasil retoma exportação de gado vivo para a Turquia, com 21,9 mil animais embarcados em julho e crescimento de 47% no semestre.
Brasil retoma exportação de gado vivo para a Turquia, com 21,9 mil animais embarcados em julho e crescimento de 47% no semestre.
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Exportação de gado vivo ganha novo fôlego em julho com a volta da Turquia ao mercado, após pausa em junho, consolidando o país euro-asiático como destino estratégico e alterando o perfil de embarques por faixa de peso.

A exportação brasileira de gado vivo ganhou impulso em julho com a volta da Turquia às compras, após um hiato em junho que pressionou o faturamento do setor.

De acordo com reportagem publicada nesta quarta-feira (27) pelo portal Compre Rural, o país embarcou 21,9 mil cabeças, o equivalente a 24,4% de todo o volume mensal, e retomou seu papel entre os principais destinos do rebanho nacional.

No acumulado do primeiro semestre de 2025, o Brasil enviou 487,6 mil bovinos vivos, resultado 47,1% superior ao de igual período de 2024, mesmo com a ausência turca em junho.

Segundo a Scot Consultoria, a lacuna reduziu a receita e fez de junho o segundo pior mês do ano em faturamento, atrás apenas de abril. Com esse espaço aberto, o Iraque assumiu a liderança das importações no semestre.

Turquia retoma compras e reforça peso estratégico

A reentrada turca se deu com foco em animais jovens, destinados ao engorde no destino final.

Os embarques para o país se concentraram em bovinos com menos de 300 kg, faixa em que a Turquia foi responsável pela totalidade das compras no mês.

Para a Scot Consultoria, “a volta da Turquia ao mercado mostra a relevância do país como comprador de gado brasileiro, sobretudo para animais mais jovens e de menor peso, destinados ao engorde no destino final”.

Enquanto isso, outros mercados mantiveram apetite por lotes médios.

O movimento contribuiu para a recomposição do ritmo de vendas após o recuo observado no mês anterior, devolvendo previsibilidade às escalas de embarque em portos com tradição nesse tipo de operação.

Brasil retoma exportação de gado vivo para a Turquia, com 21,9 mil animais embarcados em julho e crescimento de 47% no semestre.
Brasil retoma exportação de gado vivo para a Turquia, com 21,9 mil animais embarcados em julho e crescimento de 47% no semestre.

Perfil de peso e destinos das cargas de julho

Os dados da Secex compilados pela Scot Consultoria mostram que a maior parte das exportações de julho esteve na faixa de 300 a 425 kg, com 49.032 cabeças embarcadas.

Nesse intervalo, o Iraque liderou as compras com 24.631 animais, seguido por Marrocos (15.547), Líbano (4.901), Jordânia (3.790) e Nigéria (163).

Em categoria distinta, os bovinos com menos de 300 kg foram direcionados exclusivamente à Turquia, que levou 21.881 cabeças.

Já entre os animais acima de 425 kg, o Egito absorveu o total do segmento, com 18.623 cabeças. Somados todos os intervalos de peso, as exportações de julho atingiram 89.536 animais.

Esse recorte evidencia trajetórias comerciais distintas: países do Oriente Médio e do Norte da África têm preferências de peso e finalidade de engorda diferentes, o que influencia tanto a formação de preço quanto a logística de embarque e desembarque.

Brasil retoma exportação de gado vivo para a Turquia, com 21,9 mil animais embarcados em julho e crescimento de 47% no semestre. (Foto: Marcella Pereira/IA)
Brasil retoma exportação de gado vivo para a Turquia, com 21,9 mil animais embarcados em julho e crescimento de 47% no semestre. (Foto: Marcella Pereira/IA)

Impacto regional: estados líderes nos embarques

No mapa interno, o Rio Grande do Sul se destacou como o principal originador de animais destinados à Turquia em julho.

Todos os embarques gaúchos no mês tiveram o país euro-asiático como destino, sinalizando especialização regional nessa rota.

No volume total, o Pará foi o estado que mais exportou no período, com 56,4 mil cabeças embarcadas para diferentes mercados.

São Paulo, por sua vez, registrou um envio pontual de 163 bovinos reprodutores para a Nigéria, reforçando o caráter específico desse negócio e a presença paulista em nichos de genética e reprodução.

Faturamento sob influência de câmbio e peso

Embora o volume embarcado tenha relevância, a receita das operações depende de variáveis como taxa de câmbio, peso médio dos lotes e preço por quilo negociado.

Em junho, por exemplo, o dólar mais baixoR$ 5,54 ante R$ 5,76 em fevereiro — e a presença de animais mais leves nas cargas comprimiram o faturamento, mesmo com volumes próximos aos de outros meses.

Além disso, o mix de destinos e de categorias de peso altera o valor por cabeça e os custos logísticos, que incluem desde o transporte interno até o manejo em portos com infraestrutura adequada para embarque de gado vivo.

No entanto, a retomada turca em julho tende a reequilibrar parte desses fatores, especialmente na composição de peso dos lotes.

Perspectivas para 2025: marca de 1 milhão no radar

Mantido o ritmo atual, o Brasil pode novamente alcançar 1 milhão de cabeças exportadas em 2025, patamar observado em 2024.

A Scot Consultoria avalia que o desempenho depende do apetite dos países árabes, da continuidade da demanda turca e da capacidade da logística brasileira de atender a esses fluxos sem gargalos.

A consultoria destaca que o resultado do primeiro semestre sustenta a leitura de firmeza do comércio de gado vivo, apesar da ausência temporária de um parceiro estratégico.

Por outro lado, fatores macroeconômicos e de oferta interna podem interferir no segundo semestre.

Oscilações do câmbio, ajustes de preço em mercados compradores e custos de frete marítimo têm potencial para alterar margens no curto prazo.

Ainda assim, a diversificação de destinos amplia a resiliência das vendas, diluindo riscos concentrados em um único comprador e favorecendo o planejamento de embarques.

Diversificação de mercados e logística como alavancas

O retorno da Turquia também reforça o papel do Brasil como fornecedor global em diferentes perfis de animais.

Ao atender nichos por faixa de peso e finalidades específicas, o país amplia a base de clientes e ajusta sua oferta às exigências sanitárias e operacionais de cada rota.

Isso demanda coordenação entre pecuaristas, tradings e operadores portuários para manter previsibilidade e reduzir custos de transbordo e quarentena.

Além da escolha de animais adequados para cada mercado, a eficiência logística segue decisiva.

Rotas com janelas regulares de navios, menor tempo de viagem e bom histórico sanitário tendem a favorecer contratos recorrentes, sobretudo quando o preço internacional impõe margens mais apertadas.

Nesse ambiente, estados com tradição em embarques de gado vivo devem seguir relevantes na originação e consolidação de lotes.

Com a retomada das compras turcas, o Brasil reabre uma rota estratégica e ajusta o perfil dos embarques ao que paga melhor por quilo vivo.

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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