Exportação de gado vivo ganha novo fôlego em julho com a volta da Turquia ao mercado, após pausa em junho, consolidando o país euro-asiático como destino estratégico e alterando o perfil de embarques por faixa de peso.
A exportação brasileira de gado vivo ganhou impulso em julho com a volta da Turquia às compras, após um hiato em junho que pressionou o faturamento do setor.
De acordo com reportagem publicada nesta quarta-feira (27) pelo portal Compre Rural, o país embarcou 21,9 mil cabeças, o equivalente a 24,4% de todo o volume mensal, e retomou seu papel entre os principais destinos do rebanho nacional.
No acumulado do primeiro semestre de 2025, o Brasil enviou 487,6 mil bovinos vivos, resultado 47,1% superior ao de igual período de 2024, mesmo com a ausência turca em junho.
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Segundo a Scot Consultoria, a lacuna reduziu a receita e fez de junho o segundo pior mês do ano em faturamento, atrás apenas de abril. Com esse espaço aberto, o Iraque assumiu a liderança das importações no semestre.
Turquia retoma compras e reforça peso estratégico
A reentrada turca se deu com foco em animais jovens, destinados ao engorde no destino final.
Os embarques para o país se concentraram em bovinos com menos de 300 kg, faixa em que a Turquia foi responsável pela totalidade das compras no mês.
Para a Scot Consultoria, “a volta da Turquia ao mercado mostra a relevância do país como comprador de gado brasileiro, sobretudo para animais mais jovens e de menor peso, destinados ao engorde no destino final”.
Enquanto isso, outros mercados mantiveram apetite por lotes médios.
O movimento contribuiu para a recomposição do ritmo de vendas após o recuo observado no mês anterior, devolvendo previsibilidade às escalas de embarque em portos com tradição nesse tipo de operação.
Perfil de peso e destinos das cargas de julho
Os dados da Secex compilados pela Scot Consultoria mostram que a maior parte das exportações de julho esteve na faixa de 300 a 425 kg, com 49.032 cabeças embarcadas.
Nesse intervalo, o Iraque liderou as compras com 24.631 animais, seguido por Marrocos (15.547), Líbano (4.901), Jordânia (3.790) e Nigéria (163).
Em categoria distinta, os bovinos com menos de 300 kg foram direcionados exclusivamente à Turquia, que levou 21.881 cabeças.
Já entre os animais acima de 425 kg, o Egito absorveu o total do segmento, com 18.623 cabeças. Somados todos os intervalos de peso, as exportações de julho atingiram 89.536 animais.
Esse recorte evidencia trajetórias comerciais distintas: países do Oriente Médio e do Norte da África têm preferências de peso e finalidade de engorda diferentes, o que influencia tanto a formação de preço quanto a logística de embarque e desembarque.
Impacto regional: estados líderes nos embarques
No mapa interno, o Rio Grande do Sul se destacou como o principal originador de animais destinados à Turquia em julho.
Todos os embarques gaúchos no mês tiveram o país euro-asiático como destino, sinalizando especialização regional nessa rota.
No volume total, o Pará foi o estado que mais exportou no período, com 56,4 mil cabeças embarcadas para diferentes mercados.
São Paulo, por sua vez, registrou um envio pontual de 163 bovinos reprodutores para a Nigéria, reforçando o caráter específico desse negócio e a presença paulista em nichos de genética e reprodução.
Faturamento sob influência de câmbio e peso
Embora o volume embarcado tenha relevância, a receita das operações depende de variáveis como taxa de câmbio, peso médio dos lotes e preço por quilo negociado.
Em junho, por exemplo, o dólar mais baixo — R$ 5,54 ante R$ 5,76 em fevereiro — e a presença de animais mais leves nas cargas comprimiram o faturamento, mesmo com volumes próximos aos de outros meses.
Além disso, o mix de destinos e de categorias de peso altera o valor por cabeça e os custos logísticos, que incluem desde o transporte interno até o manejo em portos com infraestrutura adequada para embarque de gado vivo.
No entanto, a retomada turca em julho tende a reequilibrar parte desses fatores, especialmente na composição de peso dos lotes.
Perspectivas para 2025: marca de 1 milhão no radar
Mantido o ritmo atual, o Brasil pode novamente alcançar 1 milhão de cabeças exportadas em 2025, patamar observado em 2024.
A Scot Consultoria avalia que o desempenho depende do apetite dos países árabes, da continuidade da demanda turca e da capacidade da logística brasileira de atender a esses fluxos sem gargalos.
A consultoria destaca que o resultado do primeiro semestre sustenta a leitura de firmeza do comércio de gado vivo, apesar da ausência temporária de um parceiro estratégico.
Por outro lado, fatores macroeconômicos e de oferta interna podem interferir no segundo semestre.
Oscilações do câmbio, ajustes de preço em mercados compradores e custos de frete marítimo têm potencial para alterar margens no curto prazo.
Ainda assim, a diversificação de destinos amplia a resiliência das vendas, diluindo riscos concentrados em um único comprador e favorecendo o planejamento de embarques.
Diversificação de mercados e logística como alavancas
O retorno da Turquia também reforça o papel do Brasil como fornecedor global em diferentes perfis de animais.
Ao atender nichos por faixa de peso e finalidades específicas, o país amplia a base de clientes e ajusta sua oferta às exigências sanitárias e operacionais de cada rota.
Isso demanda coordenação entre pecuaristas, tradings e operadores portuários para manter previsibilidade e reduzir custos de transbordo e quarentena.
Além da escolha de animais adequados para cada mercado, a eficiência logística segue decisiva.
Rotas com janelas regulares de navios, menor tempo de viagem e bom histórico sanitário tendem a favorecer contratos recorrentes, sobretudo quando o preço internacional impõe margens mais apertadas.
Nesse ambiente, estados com tradição em embarques de gado vivo devem seguir relevantes na originação e consolidação de lotes.
Com a retomada das compras turcas, o Brasil reabre uma rota estratégica e ajusta o perfil dos embarques ao que paga melhor por quilo vivo.