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Nova técnica chinesa usa resíduos da indústria do aço e pode reduzir em até 80% as emissões de CO₂ na produção de cimento

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 02/05/2025 às 22:23
aço, cimento
Foto: REPRODUÇÃO
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Nova técnica desenvolvida na China usa resíduos da indústria do aço e pode cortar até 80% das emissões de CO₂ na produção de cimento, integrando catalisadores diretamente ao processo.

Pesquisadores chineses deram um passo importante rumo à descarbonização da indústria do cimento. Uma nova técnica, baseada no uso de resíduos sólidos da indústria do aço, pode reduzir em até 80% as emissões de dióxido de carbono (CO₂) geradas na produção de cimento — setor responsável por cerca de 8% das emissões globais.

O peso do cimento nas emissões globais

A fabricação de cimento é uma das atividades industriais mais poluentes do mundo. Isso ocorre, em grande parte, por causa da decomposição do carbonato de cálcio (CaCO₃), que responde por aproximadamente 60% do CO₂ liberado durante o processo.

Mesmo com avanços tecnológicos ao longo dos anos, como a evolução dos fornos e a adoção de sistemas a seco, a necessidade de altas temperaturas, em torno de 1.450 °C, limita inovações mais radicais.

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A busca por alternativas levou a tentativas como o uso de combustíveis alternativos, entre eles biomassa e hidrogênio.

No entanto, essas soluções focam principalmente na energia usada no processo e não resolvem o problema central: a própria reação química que libera o gás carbônico.

A nova proposta: metano e resíduos de aço

A novidade vem de um processo catalítico que aproveita resíduos sólidos da indústria do aço como catalisadores.

Esses resíduos contêm metais como ferro, alumínio e zinco, que permitem uma reação entre carbonato de cálcio e metano (CH₄) em um ambiente rico nesse gás.

O resultado da reação é a formação de dois produtos principais: óxido de cálcio (CaO), essencial para a produção do clínquer, e gás de síntese (mistura de CO e H₂), que pode ser usado como insumo energético ou químico.

Diferente de outras propostas, os catalisadores não precisam ser separados do processo após o uso.

Eles são incorporados diretamente na massa do clínquer, simplificando a operação e eliminando novos resíduos.

Duas rotas, um caminho mais limpo

Os cientistas identificaram dois caminhos possíveis para a reação. Na rota direta, o metano interage com o CaCO₃, produzindo CO e H₂ sem gerar CO₂.

Já na segunda via, o CaCO₃ é inicialmente decomposto em óxido de cálcio e CO₂, que então reage com o metano para formar os mesmos produtos.

Os testes mostraram que a rota direta é a principal, graças à presença dos óxidos de ferro. A inclusão de alumínio e zinco aumenta a eficiência ao ampliar a superfície ativa dos catalisadores, criando um ambiente mais propício para a reação.

Menos resíduos, mais eficiência

Além da redução drástica das emissões, a nova técnica oferece vantagens adicionais. Como usa resíduos que seriam descartados, o processo reduz o desperdício e os custos com matéria-prima.

E por transformar um problema ambiental — o descarte de sólidos da siderurgia — em parte da solução, o sistema cria valor dentro da lógica da economia circular.

Estudos de avaliação de ciclo de vida (ACV) indicam que a nova tecnologia tem potencial de reduzir até 80% das emissões de carbono da fase mais crítica da produção do cimento: a decomposição do carbonato de cálcio. O aproveitamento dos resíduos de aço contribui ainda mais para o impacto positivo do processo.

Caminho promissor para a indústria

Para os especialistas, essa inovação representa mais do que uma simples melhoria. Trata-se de uma transformação estrutural no modo como o cimento é produzido.

A combinação de matérias-primas residuais, geração de subprodutos úteis e economia de energia abre caminho para um modelo industrial mais sustentável.

Outro ponto positivo é a possível integração entre setores. Com o aço e o cimento trabalhando juntos em uma cadeia produtiva interligada, surgem novas possibilidades de cooperação industrial com foco na sustentabilidade.

Apesar do grande potencial, o desafio agora é escalar a solução. Será preciso garantir que o processo seja compatível com a infraestrutura já existente nas fábricas de cimento. Também será fundamental comprovar sua eficiência em escala industrial.

Se essa etapa for bem-sucedida, a tecnologia pode se tornar um dos maiores avanços rumo à neutralidade de carbono no setor de construção. A inovação aponta para um futuro no qual resíduos deixam de ser um problema e passam a ser parte essencial da solução.

Estudo publicado em NSR.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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