Em agosto, com a tarifa de 50% dos EUA sobre o café brasileiro, as vendas ao mercado americano caíram forte enquanto Colômbia e México ampliaram as compras do produto do Brasil. Exportadores e indústria negam triangulação do grão cru.
As exportações de café do Brasil para a Colômbia saltaram 578% em agosto, para 112.948 sacas de 60 kg, enquanto os embarques para o México avançaram 90%, atingindo 251.166 sacas. Na direção oposta, os Estados Unidos reduziram as compras do Brasil em 46% no mês, após a entrada em vigor do novo tarifaço de 50% sobre bens brasileiros, incluindo café.
A Alemanha assumiu a liderança entre os compradores no período. Os dados são do relatório mensal do Cecafé e de reportagens da Reuters e da Bloomberg.
No total, o Brasil exportou 3,144 milhões de sacas de todos os tipos de café em agosto, queda de 17,5% ante o mesmo mês de 2024, mesmo com alta de 12,7% na receita em dólar, impulsionada pelos preços externos mais firmes.
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A indústria de café solúvel sentiu o baque: os embarques brasileiros desse segmento aos EUA caíram 59,9% em agosto. Entidades do setor alertam que a recomposição de rotas e contratos pode pressionar custos e preços ao consumidor nos próximos meses.
O quadro de preços já reflete o novo cenário. Associações brasileiras do setor indicam que o avanço nas cotações internacionais e o encarecimento do grão no físico podem se traduzir em alta no varejo no Brasil, caso a tendência persista.
Por que a Colômbia comprou tanto café do Brasil
Especialistas do Cecafé e da indústria apontam um movimento de substituição interna na Colômbia e no México. Com o Brasil mais caro para o mercado americano por causa da tarifa, esses países ampliaram seus próprios embarques aos EUA e importaram do Brasil para abastecer o consumo doméstico, sem interromper suas vendas externas. Em outras palavras, compram do Brasil para não faltar café em casa enquanto aproveitam a janela de preços e tarifas no mercado americano.
Esse rearranjo é facilitado pelo perfil da demanda. A Colômbia é referência em arábica e precisa recorrer a robusta/conilon para compor blends e para o solúvel, nicho em que o Brasil tem competitividade. O México segue lógica parecida, com indústria voltada a determinados perfis de café. Esse mix ajuda a explicar por que Colômbia e México figuram entre os maiores compradores do Brasil justamente no mês em que o tarifaço começou a valer.
Há ainda um elemento tarifário relevante. Publicações técnicas do setor nos EUA relatam que, após abril, o país passou a adotar uma tarifa-base de 10% para a maioria das origens, com alíquotas específicas por país. Em agosto, o Brasil passou a 50%, enquanto a Colômbia ficou em 10%, e o México manteve isenções sob regras do USMCA para determinados cafés. Essa diferença melhora a competitividade dos colombianos no mercado americano.
Triangulação ou substituição? O que diz o setor
A hipótese de “triangulação” de grão cru — reexportar o café brasileiro por terceiros para burlar a tarifa — foi descartada por lideranças da cadeia. O presidente do Cecafé, Marcio Ferreira, e dirigentes da indústria dizem que tal prática seria facilmente detectada pelas autoridades americanas pelos rastros documentais e pelo padrão de qualidade do produto. Ou seja, não é considerada uma solução viável para o mercado.
Outra discussão é diferente: industrializar o café dentro de Colômbia ou México e exportar o produto processado. Nesse caso, o comércio segue regras próprias e não se confunde com reexportação de grão cru. Analistas afirmam que parte do ajustamento recente pode vir do maior processamento local para atender nichos como o solúvel e certas misturas para espresso.
Na prática, agosto mostrou uma redistribuição de fluxos. Os EUA reduziram compras do Brasil com a entrada em vigor da tarifa de 50% em 6 de agosto de 2025, e compradores americanos postergaram contratos na expectativa de novas definições. Enquanto isso, Alemanha liderou as aquisições e México e Colômbia absorveram parte do volume brasileiro.
E você, o que acha? A Colômbia apenas aproveitou a vantagem competitiva e protegeu seu mercado interno ou há risco de distorção nas regras do jogo quando países vizinhos ampliam importações em plena crise tarifária? Deixe seu comentário, conte se você vê benefícios ou prejuízos para o Brasil nessa nova geografia do café.