No norte do país, os geodos de ametista da mina Las Torres, em Artigas, alcançam até 26 toneladas o equivalente a quatro elefantes e figuram entre os maiores e mais valiosos do planeta
Entre as rochas vulcânicas do norte do Uruguai, mineradores trabalham há décadas na extração de geodos de ametista, formações gigantescas de quartzo roxo que combinam beleza natural e complexidade geológica. Alguns exemplares encontrados em Artigas, na mina de Las Torres, chegam a 26 toneladas e podem alcançar valores próximos de US$ 1 milhão no mercado internacional.
Essas estruturas são resultado de processos que levaram milhões de anos: antigas bolhas de gás formadas em fluxos de lava se transformaram, lentamente, em cavidades repletas de cristais. O trabalho manual dos mineradores e o valor estético das peças convertem a extração em um negócio delicado e de alto risco, no qual uma fissura pode reduzir em dezenas de milhares de dólares o preço final.
A geologia que cria as ametistas uruguaias

Os geodos de ametista se formam em rochas basálticas, antigas camadas de lava que se solidificaram após erupções. Quando o magma resfriou, bolhas de gás ficaram presas e, ao longo de milhões de anos, líquidos ricos em sílica e ferro infiltraram-se nesses espaços.
-
Cidade gaúcha com “vida de interior” é reconhecida como a capital da longevidade do Brasil
-
O que muda em 2026? Brasil terá seu primeiro computador quântico vindo da China com investimento de US$ 10 milhões
-
No Cerrado de Goiás, casal brasileiro vive sem relógio e calendário há anos: constroem seu próprio relógio de sol e acionam comandos com roldanas, ignorando a eletricidade
-
O cão que esperou seu dono por 10 anos: a história real de Hachikō, o símbolo da lealdade que comoveu o mundo
O contato com radiação natural alterou os átomos de ferro no interior do quartzo, originando o tom violeta característico da pedra.
A intensidade da cor depende da concentração de ferro e da dose de radiação absorvida. Tons mais profundos indicam maior presença desses elementos, elevando o valor comercial.
Por isso, cada geodo é único: as variações de cor e brilho são marcas de um processo geológico irrepetível.
Mineração em Artigas: entre explosões e precisão milimétrica

A mina de Las Torres, localizada em Artigas, é o epicentro da exploração. A extração combina força bruta e técnica refinada.
Explosões controladas abrem caminho pelas camadas de basalto, e os mineradores identificam pequenas fissuras que indicam a presença de uma cavidade com cristais.
Quando encontram um geodo, o processo exige extrema cautela. Barras de ferro são posicionadas ao redor da formação para orientar os cortes e evitar fraturas.
O transporte até a superfície pode levar dias e requer guindastes e estruturas reforçadas. Um erro de cálculo pode transformar uma peça de valor milionário em fragmentos sem uso comercial.
Da rocha ao brilho: o trabalho dos artesãos
Após a extração, os geodos são lavados e classificados conforme tamanho, pureza e coloração. Peças pequenas seguem para corte e polimento em oficinas especializadas, enquanto os exemplares gigantes passam por meses de preparação.
Artífices utilizam discos diamantados para abrir as formações e realçar o brilho dos cristais internos, preservando o formato natural da cavidade.
Qualquer imperfeição visível pode reduzir drasticamente o preço final. Em contrapartida, formações intactas, com cristais bem definidos e tonalidades homogêneas, são raríssimas e altamente valorizadas por colecionadores e museus internacionais.
O comércio dos gigantes de cristal
A comercialização dos geodos de ametista segue um fluxo global. Empresas exportadoras de Artigas, como Le Stage Minerals, mantêm em seus galpões exemplares de dezenas de toneladas.
O transporte e a instalação de uma única peça podem levar meses, e encontrar compradores para geodos tão grandes é um desafio logístico e financeiro.
Muitas vezes, essas formações permanecem anos em exibição até serem vendidas. As menores, porém, garantem fluxo contínuo de exportações.
Diferentes combinações de minerais e padrões de cristalização também influenciam o preço, que pode variar de algumas centenas a centenas de milhares de dólares.
Mercado e simbolismo contemporâneo
Nos últimos anos, o interesse global por cristais aumentou. Enquanto a demanda por diamantes caiu durante a pandemia, o setor de pedras semipreciosas cresceu acima de US$ 1 bilhão em 2020, impulsionado por tendências ligadas a decoração, colecionismo e crenças espirituais.
Embora não haja comprovação científica de propriedades energéticas, o apelo estético e simbólico mantém o setor em expansão.
Para os mineradores e artesãos de Artigas, a extração continua sendo uma atividade central da economia local.
As minas seguem revelando novos geodos e preservando um ofício que combina tradição, ciência e paciência, transformando rochas vulcânicas antigas em objetos de contemplação e luxo.
A extração dos geodos de ametista no Uruguai une ciência, risco e arte em um mesmo ofício. Você considera que essas formações deveriam ser exploradas comercialmente ou preservadas como patrimônio natural?



-
-
-
15 pessoas reagiram a isso.