Nas montanhas de Guizhou, um casal mantém um refúgio autossuficiente, acessível por estrada de terra, onde a rotina mistura agricultura, madeira e mais de dez cães.
O cenário é Guizhou, no interior montanhoso do sudoeste chinês. Guizhou aqui não é destino turístico; é o endereço de uma vida deliberadamente simples e resistente, mantida há mais de 40 anos em um vale cercado por morros e silêncio. A casa original, erguida em 1982, repousa numa área cultivada com milho, milheto e arroz; o acesso é por uma estrada estreita e enlameada, trecho final de cerca de 2 km que o carro nem sempre vence.
O isolamento não é abandono. É escolha e adaptação. O casal sobrenome Deng vive com o essencial: terra, água, madeira e cães. A “vizinha” mais próxima é Changba, a cerca de 6 km, onde fica a nova casa que eles vêm preparando, em ritmo de quem sabe construir o próprio caminho: árvore por árvore, tábua por tábua.
Onde fica e como se chega

A propriedade está encaixada num vale de Guizhou, rodeada por encostas onduladas e vegetação baixa. O acesso final é por estrada de terra batida, com buracos e poças após a chuva, o que transforma a chegada numa pequena expedição.
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“Se não fosse o drone, nem se veria que há gente morando aqui”, descrevem os visitantes.
Os sinais de presença humana aparecem antes da casa: rastros de rodas numa faixa mais larga de chão um triciclo a combustão sobe e desce o morro e o desenho geométrico das roças.
A distância curta em quilômetros contrasta com a distância real imposta pelo relevo e pelo clima, o que ajuda a explicar por que esse ponto de Guizhou permaneceu “esquecido” pelo tempo.
Quem são e como vivem
O casal Deng administra tudo a dois. Os três filhos trabalham fora, o que é comum em áreas rurais montanhosas.
“A gente se vira aqui”, diz o tio, entre risos, enquanto aponta as talhadas de milho e a área onde plantam legumes para consumo próprio. Mais de dez cães vigiam o terreiro barreira contra macacos e javalis, que descem às plantações.
O clima fresco à noite, o silêncio cortado por pássaros e insetos e a água de tanque compõem o cotidiano. “É frio, mas bom de viver”, resume a tia. Guizhou, aqui, é rotina agrícola, não vitrine.
Economia de subsistência: milho, milheto, arroz e porcos
O milho é a base: parte vai para a mesa, parte alimenta quatro, cinco, até seis porcos, a depender do ciclo. O milheto (Xiaomi) entrou com força neste ano; o arroz é cultivado onde não falta água.
“Plantamos o máximo; o que não dá, a gente compra”, diz o tio, reforçando que o mix entre produção própria e compra complementar é o que sustenta a casa.
O triciclo a óleo é essencial: leva madeira, puxa colheita, vence a ladeira em cerca de 18 minutos por viagem.
A automutenção do terreno e da infraestrutura reduz custos e aumenta a autonomia, pilar de qualquer economia doméstica isolada.
Madeira, ferramentas e a nova casa em Changba
Na sombra do alpendre, toras de pinho são descascadas na faca. “Sem a casca, a madeira seca mais rápido”, explica o tio.
Essas peças viram ripas, grades para secar milho e estruturas da nova casa em Changba. O projeto é simples e direto: aproximar parte da vida de serviços e compras, mantendo a roça ativa no vale.
Entre o velho e o novo, fica uma lição de engenharia vernacular: parede de pedra local reforçando a base de madeira; martelos de pedra ainda em uso; muro antigo restaurado que herdou a função de conter bichos e delimitar o quintal.
Cães, macacos e javalis: vigilância permanente
Mais de dez cães não são extravagância; são ferramenta de manejo. Macacos atacam milharais, quebrando espigas ao ver o grão amadurecido; javalis fuçam e derrubam cercas.
“Se não alimentar (os cães), os macacos quebram tudo”, diz o tio.
O convívio com a fauna exige rotina de vigilância, especialmente no entardecer, quando os animais se aproximam mais.
Esse equilíbrio proteger sem devastar é parte do saber local. Guizhou, com seus vales e encostas, cobra resposta rápida e manejo paciente.
Casa de 1982, muros herdados e água na porta
A casa original, de 1982, mantém madeira, pedra e telhado alto que esfria no verão e aquece no inverno. Um grande tanque coleta e reserva água.
Os fundos surpreendem por uma gleba extensa, onde seguem milho e hortaliças. O pátio amplo comporta árvores frutíferas, varais e tarimbas para secagem.
O muro, dizem, foi erguido pela geração anterior e refeito depois.
Não é ornamento: delimita, protege e organiza função prática numa área onde a natureza empurra cercas e portas.
Por que o isolamento persiste e por que mudar parte da rotina agora
O isolamento é histórico e funcional: a família plantou, criou, construiu e cuidou do espaço por décadas. Guizhou oferece autossuficiência possível, mas impõe limites de idade e saúde.
Com mais de 50 anos, o tio assume o ritmo da aposentadoria ativa: plantar, cuidar dos porcos e dos cães sem a pressão do trabalho externo.
A nova casa em Changba (a 6 km) é uma ponte: aproxima de mercado, atendimento e logística, sem romper com o sítio. É estratégia de continuidade, não abandono.
Desafios: acesso, clima e trabalho braçal
A chuva transforma o caminho em lama, o que dificulta o transporte de colheitas e madeira. O relevo cobra preparo físico subir e descer ladeira com ferramentas e cargas.
A velhice chega antes na roça; por isso, planejar deslocamentos e dividir a vida entre vale e vila é resposta pragmática.
Ainda assim, o sistema doméstico se sustenta: produção própria de grãos e legumes, criação de animais, madeira manejada e rede de cães para defesa.
É o manual vivo de como permanecer onde se quer viver.
O que essa história revela sobre Guizhou
A paisagem de Guizhou abriga microcosmos como o da família Deng: ilhas de autonomia entre montanhas, vales e desníveis.
Filhos que migram para trabalhar, pais que guardam a terra, duas casas para equilibrar campo e serviços uma logística afetiva e econômica que explica a permanência.
Não é romantização: é trabalho contínuo, decisões racionais e um repertório técnico simples e eficiente. Guizhou, neste recorte, é menos “secreto” e mais “constante”.
A família Deng mostra que viver isolado em Guizhou não é desaparecer; é desenhar uma rotina possível, com autonomia, cães de guarda, milho na roça e madeira no serrote.
A nova casa em Changba não encerra a história a alonga. É assim que o tempo passa sem levar tudo.
E você: essa vida entre o vale e a vila te parece liberdade ou renúncia? O que mais chama sua atenção nessa rotina os cães, a autossuficiência ou a decisão de permanecer?


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