Entenda os fatores que explicam o declínio do comércio de rua no Brasil frente ao avanço do e-commerce e à mudança de gerações.
O comércio de rua no Brasil vive uma crise silenciosa, mas visível. Onde antes havia movimento intenso e filas, hoje sobram placas de “aluga-se”. O fluxo de consumidores, que despencou durante a pandemia, nunca retornou aos níveis anteriores, deixando um vácuo que está redefinindo o cenário urbano.
Este fenômeno não é coincidência. Ele é impulsionado por uma tempestade perfeita: a explosão do comércio eletrônico, custos estruturais insustentáveis para lojistas físicos e uma profunda mudança no comportamento do consumidor. A decisão de compra, agora resolvida em segundos pelo celular, coloca o modelo tradicional em xeque.
A batalha desleal dos custos e preços
A percepção do consumidor é clara: sete em cada 10 brasileiros acreditam que os preços são melhores online. Uma análise do canal Maestria nos Negócios destaca que essa diferença não é mais sutil, mas “gritante”. Em levantamentos sobre produtos como smartphones, os valores no e-commerce são consistentemente mais baixos do que nas vitrines físicas. Segundo dados de pesquisas do setor, 43% dos consumidores apontam os preços mais baixos como o principal motivo para comprar online.
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A explicação para essa disparidade é estrutural. O comerciante de rua arca com uma lista pesada de custos fixos: aluguel, energia elétrica, segurança, vitrine, estoque e funcionários, além de uma carga tributária complexa. Cada um desses itens é inevitavelmente embutido no preço final do produto, tornando a competição direta com o digital quase impossível.
Em contrapartida, o vendedor digital opera com uma estrutura enxuta. Muitos atuam de casa, com estoques reduzidos e logística integrada, listando seus produtos em gigantes como Mercado Livre, Amazon, Magalu e Shopee. Nesses marketplaces, a competição é feroz, criando um ambiente que comprime os preços a um nível que o comércio físico simplesmente não consegue replicar.
Conveniência digital: a nova moeda do consumidor
A economia, no entanto, não é o único fator que impulsiona o e-commerce. A conveniência se tornou decisiva. Conforme destacado pelo canal Maestria nos Negócios, 56% dos brasileiros apontam o frete grátis como um fator principal de escolha. Benefícios oferecidos por plataformas como Amazon Prime e Mercado Pontos eliminaram a antiga vantagem da loja física, que era levar o produto na hora sem custo de entrega.
Além disso, a velocidade mudou o jogo. A espera de semanas pela internet acabou; em grandes centros, a entrega em 24 horas ou no mesmo dia é uma realidade comum. Quase 30% dos consumidores consideram essa agilidade tão importante quanto o preço. Para o cliente, o tempo gasto em deslocamento, estacionamento e filas no comércio de rua é visto como perda, um atrito que o online eliminou completamente.
A internet também removeu a “assimetria de informação”. Na loja física, o cliente depende da palavra do vendedor. No online, ele tem acesso a milhares de avaliações de outros compradores — sete em cada 10 brasileiros afirmam que reviews influenciam suas decisões. A facilidade de comparar preços em segundos (citada por 49% dos consumidores) coloca o lojista de rua em constante vulnerabilidade, competindo diretamente com o buscador do celular antes mesmo de o cliente entrar na loja.
O abismo geracional que sustenta as lojas físicas
O comércio de rua sempre foi um ponto de sociabilidade, mas esse hábito está mudando com a demografia. Uma análise aprofundada do canal Maestria nos Negócios revela um forte contraste geracional: 64% da Geração Z já preferem comprar online, enquanto 66% das pessoas acima de 57 anos ainda optam pelas lojas físicas.
O comércio de rua, hoje, sobrevive em grande parte sustentado pelos consumidores mais velhos. No Rio Grande do Sul, por exemplo, 88% dos consumidores com mais de 40 anos afirmaram preferir a compra presencial. Eles relatam que ainda valorizam a confiança, a necessidade de “ver e tocar” o produto e a possibilidade de negociar frente a frente com o vendedor.
Para os mais novos, a jornada é híbrida e o tempo é escasso. Três em cada quatro consumidores da Geração Z usam múltiplos canais digitais (sites, reviews, vídeos no YouTube) antes de concluir uma única compra. A loja física, quando usada, é muitas vezes apenas um ponto de retirada logística, um “depósito de conveniência”, e não um destino de lazer ou experiência de consumo.
O “apocalipse do varejo” chega ao Brasil
Os números confirmam que a queda do comércio de rua no Brasil não é uma previsão, mas uma realidade. Dados de 2024 mostram que o movimento em lojas físicas caiu 3,9% em relação ao ano anterior. Mais alarmante: o fluxo de consumidores presenciais está 27% abaixo do nível pré-pandemia (2019). Milhões de clientes que migraram para o digital durante a pandemia nunca mais voltaram às lojas como antes.
O impacto não se restringe aos pequenos lojistas. Grandes redes estão encolhendo suas operações físicas. A Americanas fechou 120 lojas em 2023; a Marisa encerrou mais de 90 pontos de venda; e a Via (controladora das Casas Bahia) anunciou reduções de até 100 lojas e demitiu cerca de 6.000 funcionários. Mesmo redes que apostaram na integração entre físico e digital, como o Magazine Luiza, enfrentaram resultados negativos recentes, apesar de sua ampla capilaridade.
Esse fenômeno, conhecido como “Retail Apocalypse” (Apocalipse do Varejo) nos Estados Unidos, onde mais de 7.300 lojas fecharam em 2024, mostra uma mudança estrutural. Os pontos comerciais vagos não estão sendo ocupados por novo varejo, mas por serviços que não podem ser digitalizados: clínicas médicas, consultórios odontológicos, academias e bares. A rua comercial está deixando de ser um espaço de produtos para se tornar um território de serviços.
O declínio do comércio de rua no Brasil é o resultado de um modelo de negócios sufocado por custos altos, logística defasada e uma concorrência digital implacável. Como aponta o canal Maestria nos Negócios, o modelo físico sobrevive hoje mais por hábitos enraizados de gerações passadas do que por competitividade real. A transformação é inevitável e os números mostram que ela não vai desacelerar.
Você concorda com essa mudança? Acha que isso impacta o mercado? Deixe sua opinião nos comentários, queremos ouvir quem vive isso na prática.



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