Sistema de pagamentos instantâneos criado no Brasil enfrenta investigação nos Estados Unidos, mas ao mesmo tempo conquista reconhecimento em premiação internacional de inovação digital e representará o país em congresso global em 2026.
Em meio a uma investigação comercial aberta pelos Estados Unidos sob a administração Donald Trump, o Pix, sistema instantâneo do Banco Central, venceu a etapa brasileira do World Summit Award (WSA) 2025 nesta sexta-feira, 12 de setembro.
Foi o destaque geral da premiação, além do primeiro lugar em “Negócios e Comércio”.
Com o resultado, os projetos selecionados — entre eles o Pix — representarão o Brasil no WSA Global, previsto para ocorrer em Viena, em 2026.
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A condecoração vem num momento em que o pagamento instantâneo brasileiro está no foco de um procedimento amparado na Section 301 do Trade Act, aberto em 15 de julho de 2025 pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR).
A investigação inclui “comércio digital e serviços de pagamento eletrônico” entre os tópicos de possível tratamento desleal a empresas americanas.
A própria nota oficial registra que a abertura se deu “por orientação do presidente Trump”, e prevê audiência pública de instrução.
No anúncio do prêmio, uma representante do Banco Central afirmou:
“O pix é o meio de pagamento mais inclusivo do Brasil, tirando o papel moeda. Hoje falamos de 90% de adultos conectados ao sistema, mais de 80% de Pessoas Jurídicas. Esse grau de inclusão só aumenta nossa responsabilidade enquanto gestor público de algo tão transformador para a sociedade.”
Trata-se de citação feita no ato de recebimento do WSA Brasil.
Prêmio internacional de inovação digital
Criado em 2003 no âmbito da Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação (WSIS), o WSA é um ecossistema internacional que identifica e promove inovações digitais alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
A organização é coordenada pelo International Center for New Media (ICNM), com sede em Salzburg, Áustria, e reúne redes nacionais em mais de 180 países.
Diferentemente do que por vezes se divulga, o ciclo do WSA é anual, com congresso global que apresenta os vencedores internacionais.
Segundo os organizadores, o congresso já passou por diversos países e, nesta edição, os vencedores nacionais, como o Pix, avançam para a etapa global com apresentações e avaliações internacionais.
Organizações e veículos brasileiros reportam que a edição de 2026 está planejada para Viena, onde os finalistas se encontrarão para a programação de painéis e demonstrações.
Pix na investigação dos Estados Unidos
A abertura do procedimento pelo USTR elenca um conjunto de pontos a apurar, entre eles serviços de pagamento eletrônico, comércio digital, propriedade intelectual, tarifas e outros temas setoriais.
Na prática, o capítulo de pagamentos mira eventuais assimetrias regulatórias que poderiam afetar a competição de empresas americanas no mercado brasileiro.
O debate envolve gigantes como Visa e Mastercard, pela relevância das transações que tradicionalmente passam por redes de cartões.
O governo brasileiro contestou o enquadramento e defende que o Pix é infraestrutura pública neutra para fomentar eficiência e inclusão.
Autoridades do Banco Central têm repetido que o arranjo não concorre com o mercado, e sim estabelece “vias” comuns sobre as quais instituições privadas oferecem seus serviços.
Em agosto, a autarquia reforçou que não disputa mercado com participantes e que o avanço do Pix ocorre junto com a expansão de outros meios eletrônicos.
Essa posição foi reiterada após a inclusão do sistema instantâneo no escopo da investigação comercial norte-americana.
Adoção massiva e reconhecimento global
A escala do Pix é um dos fatores que pesam nas avaliações internacionais.
O uso do sistema alcançou proporções de massa desde o lançamento em 2020, com estudos apontando níveis de penetração superiores a 80% da população adulta em poucos anos.
Em 2023, por exemplo, análise do FMI já apontava o Pix como utilizado por cerca de 80% dos adultos.
Dados públicos do Banco Central mostram crescimento contínuo de usuários, chaves e volumes transacionados ao longo de 2024 e 2025.
Além da capilaridade entre pessoas físicas, o sistema se disseminou entre empresas, com milhões de PJs cadastradas e uso recorrente em cobranças e vendas.
As premiações do WSA valorizam justamente soluções que promovem inclusão, eficiência e impacto social — campos em que o arranjo brasileiro costuma ser citado como caso de referência.
As reportagens sobre o WSA Brasil deste ano destacaram o Pix como vencedor geral e líder na categoria de “Negócios e Comércio”.
Evolução do sistema e novos recursos
Enquanto avança no exterior o debate sobre possíveis efeitos concorrenciais, o Pix segue em evolução técnica no país.
Em 2025, o Banco Central programou o lançamento do Pix Parcelado, modalidade que permite pagamento ao recebedor à vista e quitação pelo pagador em parcelas.
A funcionalidade aproxima a experiência do crédito ao consumo e tende a ampliar o uso em compras de maior valor.
Isso pode intensificar a competição no fluxo de pagamentos do varejo — tradicional reduto dos cartões.
Em paralelo, o cronograma inclui aprimoramentos regulatórios e de segurança, como regras para reduzir fraudes em cobranças recorrentes e ajustar a participação de instituições no arranjo.
Essas frentes, somadas à infraestrutura já consolidada, ajudam a sustentar a narrativa de que o Pix opera como plataforma pública sobre a qual o setor privado inova e disputa clientes.
Perspectivas para o Brasil no cenário global
Do ponto de vista internacional, a Section 301 permite que o governo americano avance para medidas compensatórias caso conclua haver prática desleal.
O Brasil, por sua vez, tem rebatido as acusações e buscado enquadrar o tema em foros multilaterais.
Em documentos e declarações recentes, defendeu que não há discriminação a companhias estrangeiras no ecossistema de meios de pagamento.
O governo também cita o papel do Pix na inclusão financeira e na redução de custos de intermediação.
Esse embate regulatório tende a seguir em paralelo às etapas do WSA Global de 2026, nas quais o Pix levará sua experiência como política pública digital.
Enquanto a disputa prossegue no campo do comércio internacional, a vitória no WSA Brasil projeta o sistema brasileiro no circuito global de inovação digital e reforça o debate sobre qual desenho regulatório melhor combina competição, segurança e inclusão.
Em meio a pressões externas e reconhecimento internacional, qual deve ser a prioridade do país ao levar o Pix ao palco mundial em 2026?