Uma nova pesquisa internacional trouxe um dado preocupante: os efeitos das mudanças climáticas podem reduzir a riqueza pessoal global em até 40%. Além dos danos ambientais, os impactos econômicos podem afetar investimentos, poupanças e mercados, especialmente em regiões mais vulneráveis
Até o fim deste século, o aquecimento global pode atingir um novo alvo: o bolso da população mundial. Um estudo publicado na revista Environmental Research Letters mostra que as mudanças no clima não vão somente redesenhar os mapas geográficos, mas também afetar diretamente a renda global. A previsão é severa: se as temperaturas subirem 4°C até 2100, a renda média pode cair em até 40%.
Mesmo um aumento mais moderado, de 2°C — pouco acima da meta do Acordo de Paris — ainda traria perdas de 16%. Segundo os autores, a trajetória atual coloca o mundo próximo de um aumento de 3°C.
Mudanças climáticas: os erros dos modelos antigos
O estudo traz uma crítica aos modelos econômicos usados até hoje. Tradicionalmente, eles consideravam somente os impactos locais das mudanças climáticas. Ou seja, uma seca na Índia afetaria também a renda global, não somente a economia indiana, por exemplo.
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Segundo o Dr. Timothy Neal, autor principal do estudo e pesquisador da Universidade de New South Wales, isso levou a conclusões erradas. “Como esses danos não foram levados em consideração, modelos econômicos anteriores concluíram inadvertidamente que mesmo mudanças climáticas severas não eram um grande problema para a economia — e tiveram implicações profundas para a política climática”, disse ele ao Daily Mail.
Para corrigir esse erro, Neal e sua equipe atualizaram um modelo econômico conhecido, incorporando os efeitos globais de eventos climáticos extremos. O novo cenário apresentado é bem mais preocupante.
O impacto real dos extremos
Climatologistas já sabem que as médias não mostram o quadro completo. Um aumento médio de 2°C não significa que todos os dias serão somente dois graus mais quentes. Significa também eventos extremos, como ondas de calor de 45°C em regiões antes temperadas.
Economistas, no entanto, costumam trabalhar com médias nacionais e anuais de temperatura e precipitação. Isso deixa de fora o impacto econômico real desses extremos — e é justamente isso que o novo estudo busca incluir.
A nova metodologia
A equipe de Neal reexecutou três modelos econômicos influentes: de Marshall Burke, Matthew Kahn e Max Kotz. Todos relacionam dados históricos do clima com o crescimento econômico. A diferença foi incluir os dados globais de temperatura e precipitação.
Foram feitas 2.500 simulações, usando 22 modelos climáticos. O estudo comparou cenários extremos de emissões com trajetórias mais moderadas.
Os resultados mudaram drasticamente com a adição do fator global. No modelo de Kotz, por exemplo, a perda do PIB em 2100 passou de 11% para 40%. No modelo de Burke, o salto foi de 28% para 86%. O modelo de Kahn foi o mais conservador, subindo de 4% para 19%.
Recalculando a política climática
Esses números são considerados enormes. Eles indicam que os custos das mudanças climáticas são muito maiores do que se pensava. Com isso, algumas medidas para conter o aquecimento global podem acabar economizando dinheiro em vez de gerar custos.
Os pesquisadores usaram os novos dados no modelo DICE, que combina ciência climática, economia e ciclo de carbono. Quando os novos resultados foram inseridos, ficou claro que reduzir o aquecimento de 2,7°C para 1,7°C se tornou uma escolha mais econômica.
Esse dado reforça a importância de agir com urgência para cumprir as metas do Acordo de Paris. Se os riscos econômicos forem levados a sério, políticas climáticas mais agressivas serão inevitáveis.
Alerta reforçado por outros estudos
As conclusões de Neal e sua equipe vão ao encontro de outros alertas recentes. Um relatório de 2023 do Instituto Potsdam estimou que as mudanças climáticas podem reduzir quase 19% da renda global nos próximos 25 anos. Os prejuízos à infraestrutura, agricultura e saúde pública podem custar US$ 38 trilhões por ano até 2050.
Esses números só devem aumentar se nenhuma medida for tomada para frear o aquecimento.
Colaboração entre áreas
Uma das mensagens mais claras do estudo é a necessidade de colaboração. Cientistas do clima precisam trabalhar com economistas para entender melhor como os extremos climáticos afetam os sistemas humanos.
Revisar os modelos atuais é urgente. Eles precisam refletir não só os efeitos locais, mas também os impactos indiretos causados por eventos em outras partes do mundo. Isso pode ajudar governos a tomar decisões mais informadas.
Impactos das mudanças climáticas além do local onde ocorrem
Eventos climáticos não afetam somente o local onde ocorrem. Uma seca em um país pode afetar o preço dos alimentos em outro. Uma onda de calor nos EUA pode afetar cadeias de suprimento na Europa. Esse tipo de interconexão precisa entrar na equação.
Segundo o professor Andy Pitman, coautor do estudo e cientista climático da UNSW, o momento exige ação: “Os países podem atribuir integralmente suas vulnerabilidades econômicas às mudanças climáticas e, então, fazer o óbvio: reduzir as emissões”, afirmou ele ao The Guardian.
Um sistema vulnerável
A mensagem final do estudo é clara: precisamos repensar as formas de analisar os efeitos do clima sobre a economia. Modelos que ignoram as conexões globais estão falhando. E o preço dessa falha pode ser pago por todos.
Se um evento climático extremo atingir uma nação distante, talvez seja hora de não ver isso como algo isolado. Pode ser uma ondulação que atravessa o planeta e afeta toda a renda global — frágil, interligada e exposta às mudanças do clima.
Com informações de ZME Science.