IBGE aponta que 1,7 milhão de brasileiros trabalham por aplicativos em 2024, com renda maior, mas jornadas mais longas e alta informalidade.
O trabalho por plataformas digitais cresceu de forma expressiva no Brasil em 2024, alcançando 1,7 milhão de pessoas que têm os aplicativos como principal fonte de renda.
O levantamento, divulgado nesta quinta-feira (17/10/2025) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que esses profissionais — em sua maioria motoristas e entregadores — registraram renda acima da média do setor privado, mas também jornadas mais longas e maior índice de informalidade.
Segundo o estudo, a renda média mensal dos trabalhadores plataformizados foi de R$ 2.996, valor 4,2% superior ao recebido pelos demais empregados do setor privado (R$ 2.875).
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No entanto, essa diferença é explicada pela carga horária maior, de 44,8 horas semanais, ou 5,5 horas a mais do que os outros profissionais.
📊 Crescimento expressivo do trabalho por plataformas digitais
De acordo com o IBGE, o número de trabalhadores que atuam via plataforma digital aumentou de 1,3 milhão no fim de 2022 para 1,7 milhão em 2024 — uma alta significativa de 30%.
Apesar de representarem apenas 1,9% dos empregados do setor privado, o avanço mostra a consolidação desse modelo de trabalho no país.
O estudo integra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) e foi desenvolvido em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Ministério Público do Trabalho.
🚗 Motoristas de app lideram o trabalho plataformizado
Os aplicativos de transporte particular continuam sendo a principal fonte de renda da maioria dos trabalhadores do setor.
Em 2024, 53,1% dos plataformizados (878 mil pessoas) atuavam como motoristas de aplicativos, excluindo os táxis.
Logo em seguida aparecem os aplicativos de entrega, com 29,3% (485 mil pessoas), as plataformas de serviços gerais e profissionais, com 17,8% (294 mil), e os aplicativos voltados a taxistas, com 13,8% (228 mil).
Ao somar todas as modalidades de transporte, inclusive táxi, o número total chega a 964 mil motoristas, o equivalente a 58,3% de todos os trabalhadores que dependem de apps para gerar renda.
Entre 2022 e 2024, todas as categorias apresentaram crescimento, com destaque para as plataformas de serviços gerais, que avançaram 52,1% no período.
👥 Perfil dos trabalhadores por aplicativos
O levantamento mostra que o setor ainda é majoritariamente masculino: 83,9% dos trabalhadores por app são homens. A faixa etária predominante é entre 25 e 39 anos, representando 47,3% do total.
Quanto à escolaridade, 59,3% têm ensino médio completo ou superior incompleto, enquanto 16,6% possuem ensino superior completo.
Em relação à cor ou raça, 45,1% se declaram brancos, 41,1% pardos e 12,7% pretos.
💰 Renda maior, mas com mais horas de trabalho
Embora o rendimento mensal seja superior ao do setor privado, os trabalhadores de plataforma digital ganham menos por hora: R$ 15,40, contra R$ 16,80 dos não plataformizados.
Essa diferença ocorre porque os trabalhadores de aplicativos dedicam mais tempo à atividade. A jornada média é de 44,8 horas por semana, enquanto os demais empregados trabalham cerca de 39,3 horas.
O analista de pesquisas do IBGE, Gustavo Geaquinto Fontes, explica que a diferença salarial entre grupos está ligada ao tipo de ocupação:
“Entre os plataformizados com nível superior, muitos atuam como motoristas de aplicativo, em funções abaixo da sua qualificação. Isso ajuda a explicar o rendimento menor em relação aos demais”, afirmou o pesquisador.
⚠️ Alta informalidade e baixa contribuição previdenciária
A pesquisa revelou ainda que a informalidade predomina entre os trabalhadores de app. Em 2024, 71,1% estavam sem registro formal, quase o dobro dos que não dependem de plataformas digitais (43,8%).
Apenas 35,9% contribuíram para a previdência, índice bem inferior aos 61,9% dos demais trabalhadores. A disparidade regional é marcante: no Norte, só 15,4% contribuem, enquanto no Sul o percentual chega a 51,8%.
📍 Sudeste concentra mais da metade dos trabalhadores por app
O Sudeste é a região com maior concentração de trabalhadores plataformizados, reunindo 888 mil pessoas, o equivalente a 53,7% do total nacional.
O Centro-Oeste e o Norte tiveram os maiores crescimentos percentuais entre 2022 e 2024, com altas de 58,8% e 56%, respectivamente.
🤳 Baixa autonomia nas plataformas digitais
O levantamento do IBGE mostra que a maioria dos trabalhadores por aplicativos não tem autonomia sobre sua atividade. Em 91,2% dos casos, o valor recebido é determinado pela plataforma digital.
Além disso, a maior parte depende dos apps para escolher clientes, definir prazos e gerenciar pagamentos, o que limita a liberdade desses profissionais.
🧭 O retrato do trabalho digital no Brasil
O estudo do IBGE confirma que o trabalho por plataformas digitais se tornou uma realidade consolidada no Brasil.
Embora ofereça renda competitiva e flexibilidade, ainda impõe longas jornadas, alta informalidade e baixa autonomia.
Para os motoristas e entregadores, o desafio segue sendo equilibrar tempo, renda e segurança, enquanto o país avança no debate sobre direitos e regulamentação no universo dos aplicativos.