Mosca-branca atinge lavouras de feijão no Sudeste e Nordeste e já ameaça safra de 2026. Praga pode elevar preços nas prateleiras e pressionar a cesta básica.
O feijão, alimento essencial da mesa do brasileiro, está sob ataque de uma das pragas mais devastadoras da agricultura tropical: a mosca-branca (Bemisia tabaci). Em 2025, técnicos da Embrapa e de órgãos estaduais de agricultura registraram infestações inéditas no Sudeste e Nordeste, regiões responsáveis por grande parte da produção nacional. A situação é tão grave que especialistas já projetam para 2026 uma escalada nos preços nas gôndolas dos supermercados, afetando diretamente milhões de famílias.
A praga não é nova no Brasil, mas ganhou força nos últimos anos devido a fatores climáticos e ao uso intensivo de defensivos que perderam eficácia. Agora, diante de uma infestação histórica, o feijão corre risco de ser o próximo produto a pressionar a inflação dos alimentos no país.
Impacto da mosca-branca na produção de feijão
A mosca-branca é um inseto minúsculo, mas de efeito devastador. Ela se alimenta da seiva das plantas e transmite vírus letais, como o mosaico dourado do feijoeiro, que compromete a fotossíntese e reduz drasticamente a produtividade. Segundo dados da Embrapa Arroz e Feijão, em áreas críticas, as perdas podem chegar a 80% da lavoura.
-
São Paulo amplia liderança e exporta 81 mil toneladas de limão no semestre
-
Lagarta-do-cartucho acende alerta no agronegócio: praga atinge 80% das lavouras de milho e pode gerar prejuízo histórico de até R$ 35 bilhões em 2026
-
De invasor europeu a praga nacional: javaporco já devasta lavouras, domina áreas de cinco estados no Brasil, causa perdas de mais de R$ 60 milhões por ano e é tratado como uma das piores espécies invasoras do mundo
-
Brasil fecha acordo histórico com a Argélia e libera exportação de ovinos vivos, fortalecendo uma relação que já movimenta bilhões em exportações
Em estados como Minas Gerais e Bahia, agricultores já relatam reduções drásticas na produção de feijão carioca e feijão preto.
No Piauí e no Ceará, o cenário é ainda mais dramático: com o clima quente e seco favorecendo a multiplicação da praga, produtores vêm abandonando áreas inteiras, incapazes de arcar com os custos crescentes de defensivos.
Estima-se que, em 2025, as perdas totais na safra de feijão ultrapassem R$ 4 bilhões, valor que pode dobrar em 2026 caso não haja controle eficiente.
Mosca-branca e o risco de alta nos preços do feijão
O Brasil é o maior produtor e consumidor de feijão do mundo, com consumo médio superior a 15 kg por habitante/ano. Isso significa que qualquer oscilação na oferta tem impacto imediato no preço. Em 2025, os primeiros reflexos já foram sentidos nos mercados atacadistas, com alta de até 30% em algumas capitais.
Se as infestações seguirem em ritmo crescente, especialistas projetam que o preço do feijão pode subir até 50% em 2026, principalmente na entressafra, quando o mercado depende das regiões mais atingidas pela praga. Para o consumidor, isso significa um impacto direto na cesta básica, agravando a insegurança alimentar em famílias de baixa renda.
Mosca-branca e a dificuldade de controle da praga
A grande ameaça da mosca-branca está na sua capacidade de adaptação. O inseto já desenvolveu resistência a vários princípios ativos de inseticidas usados pelos agricultores. Isso cria um ciclo vicioso: quanto mais defensivos se aplicam, mais a praga evolui e retorna em maior número.
Outro agravante é o seu ciclo de vida curto: em condições de clima quente, a mosca-branca completa o ciclo de ovo a adulto em apenas 20 dias, permitindo até 12 gerações por ano. Esse ritmo explosivo dificulta o manejo e torna os surtos cada vez mais frequentes.
O controle exige estratégias integradas, como rotação de culturas, eliminação de plantas hospedeiras, uso de variedades resistentes e até o manejo biológico, com predadores naturais. Mas na prática, muitos agricultores, especialmente pequenos e médios, não têm acesso a essas tecnologias.
O mosaico dourado do feijoeiro como consequência da mosca-branca
Um dos principais problemas da infestação é a disseminação do mosaico dourado do feijoeiro, doença transmitida pela mosca-branca que deforma folhas, reduz a capacidade de fotossíntese e praticamente inviabiliza a colheita. Essa virose já é considerada a mais grave doença do feijão no Brasil.
Pesquisas da Embrapa apontam que, em áreas severamente atacadas, o mosaico dourado pode reduzir a produção em até 100%, deixando agricultores sem renda. Essa ameaça reforça a necessidade urgente de investimentos em biotecnologia e variedades transgênicas resistentes ao vírus, ainda em fase experimental.
Mosca-branca e os impactos sociais no campo
O ataque da mosca-branca não afeta apenas o agronegócio em larga escala, mas também milhares de agricultores familiares que dependem do feijão como principal fonte de renda.
Em regiões como o semiárido nordestino, o impacto pode ser devastador: famílias inteiras já abandonam áreas de plantio por não conseguirem arcar com o aumento no custo de produção.
Esse cenário ameaça programas de abastecimento e políticas públicas de combate à fome. O risco é de que, em 2026, o Brasil precise aumentar as importações de feijão, algo inédito em grande escala, elevando ainda mais os preços internos.
Estratégias de manejo para conter a mosca-branca
Especialistas defendem a adoção imediata do Manejo Integrado de Pragas (MIP) para controlar a mosca-branca. Entre as principais práticas recomendadas estão:
- Rotação de culturas para quebrar o ciclo da praga.
- Controle biológico, utilizando fungos, vespas e joaninhas predadoras.
- Eliminação de plantas voluntárias que servem de hospedeiro entre safras.
- Uso racional de inseticidas, alternando moléculas para evitar resistência.
O grande desafio é expandir essas práticas para milhões de pequenos produtores, que ainda dependem de métodos tradicionais e têm pouco acesso a crédito e tecnologia.
O divisor de águas para a produção de feijão no Brasil
A expansão da mosca-branca pode se transformar em um divisor de águas para a cadeia produtiva do feijão. Se medidas emergenciais forem tomadas em 2026, o Brasil pode conter os prejuízos e preservar a soberania alimentar em torno de um produto tão simbólico quanto essencial.
Caso contrário, o país corre o risco de viver um colapso de oferta, com consequências sociais e econômicas profundas.
A batalha contra a mosca-branca é mais do que uma disputa agrícola. É uma luta para proteger a mesa do brasileiro, a segurança alimentar nacional e a estabilidade de um setor que sustenta milhões de famílias no campo e na cidade.