No coração do rio Amazonas, uma pequena ilha tornou-se motivo de tensão diplomática entre Peru e Colômbia. Enquanto governos discutem sua soberania, o cotidiano dos moradores segue marcado por um comércio ativo com o Brasil e pelo uso predominante do Real como moeda.
Na última terça-feira (5/8), o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou nas redes sociais que “o governo do Peru ocupou um território que pertence à Colômbia”. A frase surpreendeu autoridades peruanas.
O que está em disputa
A polêmica envolve a soberania sobre a ilha de Santa Rosa, uma formação no meio do rio Amazonas, habitada por cerca de 3.000 pessoas.
O Peru considera a área parte de seu território. Assim como Santa Rosa, outras ilhas surgiram nas últimas décadas na fronteira colombo-peruana, definida há cem anos com base no canal mais profundo do rio.
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Posição de especialistas
Quando Colômbia e Peru firmaram seus limites, essas formações não existiam. Em junho, o Congresso peruano aprovou a criação do “novo distrito de Santa Rosa de Loreto” na ilha.
Isso motivou o repúdio de Petro, que também anunciou a transferência da comemoração da Batalha de Boyacá para Leticia, cidade colombiana próxima da área.
Histórico de fronteira
Em 1922, Colômbia e Peru assinaram um tratado que dividiu o Amazonas pelo canal de navegação mais profundo, não pela metade do rio.
O historiador Felipe Arias Escobar lembra que o acordo gerou rejeição nos dois países e resultou na guerra colombo-peruana de 1932. O conflito terminou com a ratificação do tratado.
Atualmente, os países compartilham 116 quilômetros do Amazonas. Na época do tratado, existiam apenas duas ilhas: Ronda e Chinería.
A fronteira amazônica muda com o tempo. Sedimentos vindos dos Andes formaram novas ilhas, cujo controle ainda não foi definido.
Realidade local em Santa Rosa
A ilha está próxima à chamada “tríplice fronteira” entre Peru, Colômbia e Brasil.
O comércio local é fortemente influenciado pelos países vizinhos.
No dia a dia, os moradores usam principalmente o real brasileiro como moeda. Produtos básicos, como arroz, açúcar e óleo, chegam em sua maioria do Brasil.
O transporte encarece os preços. Um quilo de arroz custa cerca de 5 soles e o óleo chega a 9 soles. Um real equivale, em média, a 0,65 sol.
Além disso, itens como bebidas e água mineral vêm da cidade colombiana de Leticia, localizada ao lado da ilha.
Isso mantém um fluxo comercial constante entre as comunidades fronteiriças.
Desafio para os governos
A ausência de revisões periódicas da fronteira criou um cenário de incerteza. A formação de novas ilhas exige negociações atualizadas entre Lima e Bogotá.
Enquanto não houver consenso, a disputa por Santa Rosa e outras áreas tende a permanecer, misturando questões territoriais, históricas e econômicas.