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Mineração em alto-mar ameaça vida marinha ao espalhar detritos em zonas pouco exploradas e cheias de vida em águas médias

Publicado em 26/03/2025 às 07:52
Mineração no fundo do mar, Mineração, fundo do mar
Créditos da imagem: Pexels
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A mineração em alto mar preocupa especialistas em afetar a vida marinha ao despejar resíduos na zona de águas médias, uma das mais biodiversas do oceano. Entenda os riscos

Uma zona de águas médias, um ecossistema oculto que começa a 200 metros abaixo da superfície e abriga criaturas estranhas, delicadas e essenciais para a vida na Terra — agora ameaçadas pelo avanço da mineração no alto-mar.

Nessa parte misteriosa do oceano, dividida entre a zona do crepúsculo e a zona da meia-noite, vive animais fundamentais para a cadeia alimentar marinha. Baleias e peixes valiosos, como o atum, dependem deles para sobreviver. Mas esse sistema enfrenta uma ameaça cada vez mais real: a mineração em alto-mar.

Corrida por metais no fundo do mar

A demanda por baterias utilizadas em carros elétricos e smartphones cresce em ritmo acelerado. Para atender a essa procura, as empresas de mineração estão mirando as profundezas oceânicas.

No fundo do mar, há nódulos polimetálicos do tamanho de batatas. Eles são ricos em níquel, cobalto e manganês — metais essenciais para tecnologias modernas.

Esses nódulos se formam ao longo de milhões de anos, à medida que metais da água do mar se acumulam ao redor de fragmentos como conchas ou dentes de tubarão. Uma das regiões mais cobiçadas para remoção é a Zona Clarion-Clipperton, no Oceano Pacífico, ao sudeste do Havaí.

Testes e planos para mineração comercial

Desde a década de 1970, os testes exploratórios vêm sendo feitos em alto-mar. Em 1994, foi criada a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA), responsável por regular essas atividades.

No entanto, só em 2022 foi testado o primeiro sistema completo de recolha de nódulos na Zona Clarion-Clipperton, pelas empresas The Metals Company e Nauru Ocean Resources Inc.

Agora, essas empresas planejam iniciar a mineração comercial em larga escala. A expectativa é que enviem propostas formais à ISA até junho de 2025. A organização discutirá o tema em julho, analisando regras, diretrizes e a partilha de benefícios.

Processo rápido e polêmico

A proposta de mineração inclui veículos coletores que raspam o fundo do mar para coletar os nódulos. Com isso, sedimentos são agitados, habitats destruídos e resíduos gerados.

Esses resíduos, misturados com água e nódulos esmagados, são devolvidos ao oceano em forma de lama, criando grandes plumas na coluna d’água.

A profundidade exata de descarte ainda é tema de debate. Algumas propostas sugerem lançamentos a cerca de 1.200 metros de profundidade.

No entanto, os cientistas alertaram: o comportamento dessas plumas em águas médias é pouco compreendido. O oceano está em constante movimento, com correntes que podem espalhar os sedimentos por grandes distâncias.

Riscos para a vida no fundo do mar

As plumas podem interferir diretamente nos animais que vivem na zona de águas médias. O zooplâncton, base da cadeia alimentar nessa região, pode ser afetado por partículas que entopem suas estruturas respiratórias e de alimentação.

Peixes e predadores visuais, que não possuem sinais luminosos, também podem ter seus comportamentos alterados pela turbidez da água.

Além disso, criaturas gelatinosas, como águas vivas e sifonóforas, podem sofrer com o acúmulo de sedimentos em seus corpos. Um estudo recente mostrou que águas vivas expostas a esses materiais aumentaram a produção de muco — uma ocorrência ao estresse — e ativaram genes ligados à cicatrização.

Um oceanógrafo que estuda o zooplâncton na Zona Clarion-Clipperton, manifestou preocupação com os impactos da mineração em alto mar nesse ecossistema de águas médias, onde vivem pequenos animais como zooplâncton e micronékton.

A liberação de plumas de sedimentos pode afetar gravemente esses organismos ao obstruir estruturas respiratórias e alimentares, diluir recursos nutricionais e bloquear a luz essencial para a comunicação e a caça de espécies bioluminescentes e predadores visuais.

Outro impacto preocupante é a poluição sonora. Máquinas de mineração emitem ruídos que podem atrapalhar a comunicação e navegação de diversas espécies.

Efeitos na cadeia no ecossistema

Distúrbios causados ​​pela mineração em uma parte do oceano podem ter reflexos muito além da área direta de atuação. A queda no número de zooplânctons, por exemplo, pode afetar os peixes que os alimentam, e isso se espalha por toda a cadeia alimentar.

A zona de águas médias também tem um papel importante na regulação do clima global. O fitoplâncton na superfície captura dióxido de carbono. O zooplâncton consome esse material e, por meio da respiração, excreção ou morte, ajuda a transferi-lo para o fundo do mar.

Esse processo contribui para o sequestro de carbono por longos períodos. Interferir nesse ciclo pode ter consequências ambientais a longo prazo.

Falta de conhecimento sobre o fundo mar

Apesar do interesse crescente na mineração no alto-mar, a zona de águas médias ainda é pouco conhecida. Um estudo realizado em 2023 na Zona Clarion-Clipperton revelou que entre 88% e 92% das espécies da região eram novas para a ciência.

Mesmo assim, as regulamentações atuais focam mais nos impactos no fundo do mar e não consideram plenamente os efeitos na coluna d’água. As decisões da ISA em julho de 2025 poderão definir o futuro da mineração em áreas como essa.

Com operações largas em escala cada vez mais próxima, o risco de danos permanentes aumenta. Sem estudos completos sobre os efeitos das técnicas de mineração, as escolhas feitas agora podem comprometer um ecossistema que foi mal explorado.

A zona de águas médias, invisível aos olhos humanos, pode ser a próxima vítima de uma nova corrida por recursos. E as consequências disso ainda não estão claras.

Com informações de The Conversation.

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Romário Pereira de Carvalho

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