Com 70 milhões de animais soltos no pasto, rastreados digitalmente e criados com precisão tecnológica, a Austrália transformou o agronegócio ovino em uma potência global de exportação de lã e carne
A Austrália se tornou referência mundial no agronegócio graças à criação eficiente de ovinos em larga escala, combinando tradição, inovação e sustentabilidade.
Com mais de 70 milhões de ovelhas pastando livremente em campos abertos, o país é líder mundial na produção de lã merino e figura entre os maiores exportadores globais de carne de cordeiro. Em 2023, o setor gerou mais de US$ 5,5 bilhões em exportações, impactando diretamente o mercado agropecuário mundial.
A história começou em 1797, quando os primeiros ovinos da raça merino foram introduzidos no sul da Austrália. Adaptados ao clima árido, esses animais prosperaram e se tornaram símbolos do agronegócio australiano, produzindo uma das lãs mais finas e valorizadas do mundo, presente em marcas de luxo nos Estados Unidos, Japão e Europa.
O que diferencia esse sistema é a gestão de precisão: cada ovelha é monitorada com chips eletrônicos de identificação (EID), drones realizam sobrevoos diários e cães pastores como border collies e kelpies executam tarefas com exatidão. Essa abordagem eficiente e tecnológica permite que poucos trabalhadores administrem rebanhos com milhares de animais em áreas que somam milhões de hectares.
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Tecnologia de ponta, manejo rotativo e rastreabilidade fazem do modelo australiano de criação de ovelhas um case global no agronegócio
O sistema se baseia em pastoreio rotativo, que protege o solo contra degradação e mantém a qualidade do pasto, impactando diretamente na produtividade do rebanho. A cada 3 a 7 dias, os ovinos são movidos para novos setores, com o apoio de cercas móveis e sensores inteligentes que coletam dados do solo e da vegetação.
Durante o inverno australiano, entre maio e setembro, o foco se volta à gestação e nascimento de cordeiros, com nutrição reforçada, cuidados veterinários e estruturas específicas como nurseries aquecidas. Essas medidas elevam a taxa de sobrevivência dos filhotes para mais de 90%, número excepcional dentro da pecuária extensiva.
O processo de identificação começa logo após o nascimento. Cada cordeiro recebe um EID eletrônico, vacinas, e marcações temporárias feitas com tinta vegetal. Embora controversas, práticas como caudectomia e castração com anel de borracha ainda são adotadas para evitar infecções e problemas comportamentais, sendo justificadas por perdas que ultrapassaram US$ 173 milhões em 2022 com infestações de moscas (fly strike).
Da lã premium à carne exportada: eficiência no campo e valorização no mercado global de ovelhas
O primeiro processo de tosquia acontece entre os 6 e 8 meses de vida. Tosadores especializados removem a lã com cortes precisos, mantendo o velo intacto. Cada ovelha merino produz de 9 a 11 kg de lã por ano, suficiente para até seis suéteres de alto padrão. O produto é separado entre lã fina e grossa, embalada e enviada para os maiores mercados do mundo.
No caso dos ovinos criados para corte, raças como Dorper e Suffolk são alimentadas com grãos, feno e minerais até atingirem entre 45 e 60 kg, sendo então enviados para abate com procedimentos rigorosos de bem-estar animal, incluindo atordoamento por gás ou descarga elétrica, inspeção sanitária e rastreabilidade total da origem da carne.
Cada corte exportado para os Estados Unidos ou Europa vem acompanhado de códigos que informam local de origem, dieta e histórico sanitário, algo valorizado no mercado premium de carnes, onde a transparência e a qualidade são diferenciais competitivos.
Austrália mostra que é possível aliar tradição, bem-estar animal e alta tecnologia no agronegócio moderno
Segundo informações divulgadas pelo canal 98 Discovery, o sistema de produção ovina australiano é considerado hoje exemplo mundial de agronegócio sustentável. Combinando livre pastoreio, controle sanitário rigoroso e automação, os produtores conseguem manter alta rentabilidade com baixo impacto ambiental, algo cada vez mais exigido no mercado internacional.
Além de gerar emprego e renda no campo, o modelo australiano promove a preservação do solo e da biodiversidade local, ao mesmo tempo em que abastece o mercado global com produtos de alto valor agregado, como lã merino premium e carne ovina rastreável.
A expectativa é que esse modelo sirva de referência para países exportadores de proteína animal, como Brasil e Argentina, que também buscam elevar sua posição no ranking global do agronegócio sem abrir mão de qualidade, produtividade e respeito ao meio ambiente.
O que falta para o Brasil alcançar o mesmo nível de inovação, rastreabilidade e valor agregado na criação de ovinos que a Austrália já atingiu?
Parabéns pela matéria porém gostaria de ressaltar que a raça que mais é utilizada no cruzamento industrial na Austrália é a POLL DORSET MAIS DE do que o dobro de todas as outras juntas. Poll dorset agrega maciez suculência nos cruzamentos. As raças citadas na reportagem são pouquíssimo usadas . Grande abraço