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Milhares de buracos escavados pelos incas intrigam arqueólogos há décadas, nova pesquisa finalmente traz respostas surpreendentes

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 10/11/2025 às 18:46
Vista aérea do Monte Sierpe, no sul do Peru, mostrando milhares de buracos escavados na encosta rochosa, alinhados com precisão milimétrica e cercados pelas montanhas áridas dos Andes.
Vista aérea do Monte Sierpe, no Vale do Pisco, revela mais de 5 mil buracos escavados na rocha, cuja origem remonta ao período pré-inca.
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Cientistas decifram o enigma do Monte Sierpe, no Peru: mais de 5 mil buracos alinhados formavam um sistema de contabilidade e mercado pré-inca, revelando a sofisticação econômica dos Andes antigos.

Durante quase um século, o Monte Sierpe, também conhecido como “Montanha da Serpente”, no sul do Peru, tem intrigado arqueólogos e viajantes. A encosta pedregosa, repleta de mais de 5 mil buracos alinhados com precisão, parecia desafiar qualquer lógica humana.

Agora, uma nova pesquisa publicada na revista científica Antiquity traz uma explicação que pode mudar o entendimento sobre um dos sítios mais enigmáticos dos Andes: os buracos teriam servido como centro de trocas comerciais e sistema de contabilidade das antigas civilizações andinas, muito antes da chegada dos espanhóis.

Um enigma milenar no Vale do Pisco

Usando drones e microscopia de alta precisão, os pesquisadores liderados pelo arqueólogo Jacob Bongers, da Universidade da Califórnia, analisaram a chamada Faixa de Buracos — um conjunto de cavidades que se estende por cerca de 1,5 km no Vale do Pisco, a apenas 35 km do litoral peruano. Cada cavidade tem entre um e dois metros de largura e cerca de meio metro de profundidade, dispostas em blocos separados por faixas de terra, como se fossem setores de um grande depósito.

As imagens aéreas revelaram padrões matemáticos e repetições específicas: séries de sete ou oito buracos formam fileiras simétricas, sugerindo uma lógica organizada. O formato lembra o quipu, o antigo sistema de cordas com nós usado pelos incas para registrar tributos, estoques e atividades produtivas. Essa semelhança levou os cientistas a propor que o Monte Sierpe funcionava como um “quipu da paisagem”, uma forma física de contabilidade que transformava o terreno em instrumento de controle econômico.

Evidências de um antigo mercado

Análises microscópicas do solo mostraram vestígios de milho e de juncos, plantas tradicionalmente usadas para trançar cestos. Essa descoberta indica que o local era utilizado para armazenar produtos vegetais que provavelmente chegavam em feixes ou cestos transportados por caravanas de lhamas.

O Monte Sierpe está situado em uma região estratégica conhecida como chaupiyunga, uma zona de transição entre os Andes e a costa, onde grupos de agricultores, pescadores e comerciantes costumavam se reunir para trocar mercadorias. Essa localização, combinada à proximidade com antigas rotas comerciais e centros administrativos incas, reforça a hipótese de que o local tenha funcionado como um mercado pré-inca — talvez o mais antigo dos Andes.

Em entrevista à Antiquity, Bongers explicou:

“Sabemos que a população pré-hispânica desta região era de cerca de 100 mil pessoas. É possível que caravanas de lhamas se reunissem aqui para trocar milho, algodão e produtos da serra e do litoral. Vejo esses buracos como uma forma de tecnologia social que unia as pessoas e, posteriormente, evoluiu para um sistema de contabilidade em larga escala sob o domínio inca.”

Um legado do Reino de Chincha

De acordo com o estudo, o Monte Sierpe teria sido construído por volta do ano 1000 d.C., quando o Vale do Pisco integrava o Reino de Chincha, uma poderosa sociedade agrícola e marítima que antecedeu o Império Inca. Com a expansão inca no século XV, o local teria sido adaptado ao sistema tributário imperial, no qual comunidades inteiras eram obrigadas a contribuir com bens e trabalho. Cada grupo de buracos, segundo os autores, poderia representar uma cota de produtos destinada ao recolhimento estatal.

A estrutura geométrica do sítio lembra também um quipu real encontrado próximo dali, atualmente preservado no Museu Etnológico de Berlim. Essa semelhança reforça a ideia de que os incas usavam o Monte Sierpe como uma ferramenta de registro físico de tributos e trocas comerciais.

Fim das teorias extraterrestres

Durante décadas, o mistério dos buracos atraiu especulações extravagantes — desde hipóteses sobre civilizações perdidas até teorias de origem extraterrestre. No entanto, os pesquisadores descartaram completamente essas versões. Nenhum vestígio de fortificações, túmulos ou mineração foi identificado, e a hipótese agrícola é considerada improvável, já que o solo árido e a escassez de água tornam o cultivo impossível.

Para Bongers, o valor do Monte Sierpe está justamente na maneira como as antigas comunidades moldaram a paisagem para promover trocas e interação social.

“O Monte Sierpe é um estudo de caso fundamental para entender como sociedades pré-hispânicas modificaram o ambiente para reunir pessoas, negociar e criar sistemas de organização coletiva”, afirmou o arqueólogo.

Os pesquisadores pretendem realizar novas escavações e análises por radiocarbono para determinar com mais precisão quando e como o sítio foi escavado. A meta é compreender melhor os métodos de contabilidade e economia utilizados por essas civilizações antes da colonização espanhola.

“Ainda há muitas perguntas, mas estamos cada vez mais próximos de entender esse monumento misterioso. É fascinante ver como ideias tão complexas foram materializadas em algo tão simples quanto buracos na rocha”, concluiu Bongers.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, vivendo no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Escrevo artigos sobre temas complexos em uma linguagem acessível, mantendo rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico

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