Brasil é potência em energia renovável, mas gastou US$ 2,62 bilhões em painéis solares importados da Ásia em 2024, segundo PV Magazine — dependência expõe lacuna industrial.
O Brasil é apontado como referência mundial em energia limpa. Com mais de 80% de sua matriz elétrica proveniente de fontes renováveis, o país é vitrine global em hidrelétricas, biomassa, eólica e, mais recentemente, solar. Essa posição coloca o Brasil entre os líderes da transição energética no planeta, em um momento em que reduzir emissões de carbono é prioridade para governos e empresas.
Mas, por trás da imagem de potência sustentável, existe uma dependência preocupante. Segundo a revista PV Magazine, em 2024 o Brasil importou US$ 2,62 bilhões em painéis solares e células fotovoltaicas, quase a totalidade vinda da Ásia — especialmente da China, que domina mais de 80% da cadeia global. O dado expõe uma lacuna entre o potencial renovável brasileiro e sua capacidade industrial: o país lidera em instalação de usinas solares, mas não produz os equipamentos em escala significativa.
Brasil como vitrine de energias renováveis
A matriz elétrica brasileira é uma das mais limpas do mundo. Enquanto economias avançadas ainda lutam para reduzir a participação de carvão e gás natural, o Brasil já conta com mais de 190 gigawatts de capacidade instalada em fontes renováveis, segundo a ANEEL.
-
Energia solar e eólica ultrapassa um terço da matriz elétrica no Brasil
-
Fluke na FIEE 2025: termografia, acústica, automação e energia solar com demonstrações no São Paulo Expo
-
Ele fundou a NASA, foi expulso dos EUA como “espião” e agora a China transforma seu sonho em realidade com dirigíveis que captam energia dos ventos mais poderosos da Terra
-
Liderança da Bahia em energia limpa é destacada por presidente da Coelba
- Hidrelétricas: representam a maior fatia da matriz.
- Eólica: cresceu exponencialmente no Nordeste e já ultrapassa 30 GW instalados.
- Solar: é o setor que mais cresce, com expansão de mais de 60% em capacidade instalada apenas entre 2021 e 2024.
Essa diversidade dá ao país uma imagem positiva no cenário internacional, reforçando sua posição como vitrine energética.
O boom da energia solar no Brasil
Nos últimos anos, a energia solar fotovoltaica se consolidou como a fonte que mais cresce no Brasil. Em 2024, o país já havia ultrapassado 40 GW de capacidade solar instalada, incluindo usinas de grande porte e sistemas distribuídos em telhados e fazendas solares.
Esse crescimento foi impulsionado por incentivos regulatórios, pela queda no preço internacional dos painéis e pela busca de consumidores por independência energética.
Cidades inteiras começaram a apostar na geração fotovoltaica como alternativa para reduzir custos e emissões.
Mas, junto com esse avanço, cresceu também a dependência de equipamentos importados.
A conta bilionária das importações
Segundo levantamento da PV Magazine, em 2024 o Brasil desembolsou US$ 2,62 bilhões em módulos fotovoltaicos importados.
O número impressiona não apenas pelo valor, mas pela concentração: 99,7% do montante foi em módulos já montados, prontos para instalação, quase todos produzidos na Ásia.
Na prática, o Brasil tornou-se consumidor de equipamentos chineses em escala massiva, sem consolidar uma indústria nacional robusta para acompanhar o ritmo da expansão solar. Essa dependência significa que, embora o país instale recordes de energia renovável, a riqueza e o valor agregado ficam fora de suas fronteiras.
A dominância chinesa e seus riscos
A China responde por mais de 80% da produção mundial de painéis solares, controlando toda a cadeia, da extração de silício à montagem dos módulos.
Para o Brasil, isso significa que qualquer variação no mercado chinês — seja por aumento de preços, escassez de insumos ou restrições comerciais — impacta diretamente o custo da energia solar no país.
Esse cenário cria vulnerabilidades:
- Risco cambial – como as compras são em dólar, a valorização da moeda americana encarece os equipamentos.
- Risco logístico – crises de transporte marítimo podem atrasar obras e encarecer fretes.
- Risco geopolítico – tensões internacionais envolvendo a China podem comprometer a oferta.
Oportunidade perdida para a indústria nacional
Especialistas afirmam que o Brasil desperdiça a chance de criar uma cadeia produtiva nacional de painéis solares. A demanda existe e cresce de forma consistente, mas a falta de políticas industriais claras, incentivos fiscais e investimentos em tecnologia mantêm o país dependente do exterior.
Enquanto isso, o setor poderia gerar milhares de empregos em fábricas de módulos, inversores e componentes, além de estimular inovação tecnológica local. A ausência dessa base industrial significa que o Brasil segue como vitrine do consumo, e não da produção em energia solar.
Caminhos para reduzir a dependência
Para mudar esse quadro, algumas medidas estão em debate:
- Política industrial verde – programas de incentivo à instalação de fábricas de painéis e insumos no Brasil.
- Parcerias tecnológicas – cooperação com países como Alemanha e EUA para transferência de tecnologia.
- Investimento em pesquisa – apoio a universidades e institutos na busca por novas soluções, como painéis de perovskita.
- Estímulo à reciclagem – criação de mercado para reaproveitamento de painéis usados, reduzindo custos e impacto ambiental.
O dilema brasileiro
O Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta e figura como referência global em renováveis. Mas, ao mesmo tempo, depende quase totalmente de equipamentos importados para sustentar sua expansão solar.
É o retrato de um país que exibe potencial, mas ainda não conseguiu transformar essa força em indústria e inovação locais.
O dado da PV Magazine é um alerta: em 2024, US$ 2,62 bilhões deixaram o país em forma de importações de painéis solares, enquanto a riqueza gerada pelo setor poderia estar estimulando tecnologia e empregos nacionais.