Megabaterias que ‘estocam vento’ podem transformar o sistema elétrico brasileiro. Tecnologia já usada no exterior começa a ganhar espaço no Brasil e promete equilibrar a rede elétrica com energia solar e eólica.
As megabaterias que ‘estocam vento’ estão deixando de ser apenas uma ideia curiosa para se tornarem peça estratégica no futuro do sistema elétrico brasileiro. Antes vista com ceticismo, a proposta de armazenar energia de fontes intermitentes como a eólica e a solar já é realidade em países como China, Estados Unidos e Austrália e começa a ganhar espaço no Brasil.
A tecnologia funciona como um grande “pulmão” energético: ela absorve o excedente de geração nos momentos de alta produção e devolve essa energia nos períodos de maior consumo ou quando as usinas renováveis não estão operando.
Com isso, reduz desperdícios, aumenta a segurança do abastecimento e pode evitar apagões em situações de sobrecarga.
O que são as megabaterias e como elas funcionam
As megabaterias, conhecidas tecnicamente como Battery Energy Storage Systems (BESS), armazenam energia elétrica em larga escala para uso posterior. A ideia é simples, mas com enorme impacto: deslocar a energia no tempo. Se o vento sopra mais à noite e o consumo é maior durante o dia, o excesso gerado pode ser guardado para uso quando a rede precisar.
Essa flexibilidade ajuda a suavizar picos de demanda, em um processo conhecido como peak shaving, e a reagir rapidamente a oscilações de tensão e frequência. Diferente de usinas hidrelétricas ou térmicas, que precisam de minutos para se ajustar, uma megabateria responde em milissegundos, estabilizando a rede e evitando quedas de energia.
Crescimento das renováveis exige novas soluções
O papel das megabaterias que ‘estocam vento’ é ainda mais relevante diante da rápida expansão da energia solar e eólica no Brasil. Em 2015, juntas, essas fontes representavam apenas 3,66% da matriz elétrica. Em 2025, já somam 33%, segundo o Balanço Energético Nacional. A previsão da ONS é que, até 2029, alcancem 46,3%.
Sem formas eficientes de armazenar o excedente, o crescimento dessas fontes poderia ser limitado. As baterias atuam como um amortecedor, permitindo que o sistema aproveite melhor cada megawatt gerado e reduza a dependência de fontes poluentes em horários de pico.
Experiências no Brasil e no mundo
No Brasil, o primeiro grande projeto foi instalado em Registro (SP) pela ISA CTEEP, com 30 MW de potência e 60 MWh de armazenamento, suficiente para abastecer uma cidade de 90 mil habitantes por duas horas. O sistema é usado para aliviar a rede em momentos de maior demanda no litoral paulista, especialmente em feriados.
No exterior, a China lidera com mais de 215 GW de capacidade instalada e outros 500 GWh em construção. Os EUA contam com 82 GWh operacionais, a Austrália se destacou com a bateria de Hornsdale, que economiza milhões anualmente, e o Chile já planeja saltar de 3,8 GW para 41 GW até 2027.
Desafios técnicos e econômicos
Apesar do potencial, as megabaterias não são solução mágica. Elas têm ciclos curtos de 1 a 4 horas, vida útil de 10 a 15 anos e riscos como o thermal runaway, que exige protocolos rígidos de segurança. O custo ainda é elevado: o projeto de Registro custou R$ 146 milhões, embora os preços das baterias de íons de lítio tenham caído quase 90% desde 2010 e devam cair mais 40% até 2030.
Outro obstáculo é regulatório. No Brasil, as baterias ainda não têm enquadramento claro não são consideradas geração, consumo ou transmissão e, por isso, não recebem remuneração pelos serviços que prestam. A Aneel trabalha para mudar isso e permitir a entrada mais ampla dessa tecnologia no mercado.
Cadeia de suprimentos e geopolítica
A dependência da China é um ponto sensível: 85% das células de baterias produzidas no mundo vêm do país. Em um cenário de tensão geopolítica, isso pode afetar preços e prazos de entrega.
Por outro lado, essa concentração também estimula pesquisas em alternativas, como baterias de sódio e soluções híbridas de armazenamento.
O futuro das megabaterias no Brasil
O governo brasileiro já estuda incluir baterias no primeiro leilão de reserva de potência, o que pode destravar investimentos privados. Empresas como Copel, Petrobras e Moura também testam aplicações em setores específicos, como agronegócio, plataformas offshore e indústrias de alto consumo.
Se a expansão ocorrer como esperado, as megabaterias que ‘estocam vento’ poderão se tornar tão comuns quanto as hidrelétricas foram no século passado não para substituir outras fontes, mas para garantir que cada watt gerado seja usado da forma mais eficiente possível.
E você, acha que o Brasil está pronto para adotar megabaterias em larga escala ou ainda há barreiras demais? Deixe sua opinião e participe do debate.