Em 2018, o governo da Papua Nova Guiné comprou 40 Maserati de luxo para transportar líderes da APEC. A promessa era revender depois do evento, mas seis anos se passaram e os carros continuam esquecidos.
No coração da Oceania, o país de Papua Nova Guiné se encontra em uma encruzilhada entre enormes riquezas naturais e desafios sociais assombrosos. Apesar de possuir minas de ouro, cobre e gás em profusão, grande parte da população vive em situações de extrema vulnerabilidade.
Estima-se que cerca de 40% dos cidadãos viviam com menos de US$ 2 dólares por dia ao redor de 2018.
O país também convive com sérios problemas de governança, fragilidade institucional, corrupção e eficiência questionável dos gastos públicos.
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Em meio a esse cenário, a decisão de adquirir uma frota de carros de luxo para a cúpula da APEC Leaders’ Summit 2018 – sediada em Port Moresby – provocou forte reação da sociedade civil, da imprensa internacional e de órgãos de controle.
O evento foi gigantesco. A prova disso foi a presença de Xi Jinping, presidente da China, como vemos na imagem abaixo.

A decisão e os modelos escolhidos
Em meados de 2018, o governo liderado por Peter O’Neill negociou a importação de aproximadamente 40 unidades do sedã de luxo Maserati Quattroporte para o transporte de chefes de Estado e delegações durante a cúpula da APEC, marcada para os dias 17 e 18 de novembro desse ano.
Cada carro custou mais de US$ 100 mil (na cotação da época), e as unidades foram transportadas de Milão em aviões cargueiros. A justificativa oficial: após o evento, o setor privado compraria os veículos, de modo que o Estado supostamente não suportaria o ônus da compra.

Linha do tempo dos eventos
Durante os dois dias de reunião, em novembro de 2018, os carros desfilaram pelas avenidas recém-asfaltadas da capital. Após o evento, o governo prometeu que a frota seria revendida a empresas locais, evitando prejuízo aos cofres públicos. No entanto, essa revenda jamais se concretizou.
Após o evento, os carros foram levados para um galpão enorme, coberto de poeira e claramente inadequado para abrigar veículos de luxo. A venda deveria ser rápida, mas as semanas, os meses e os anos se passaram – e nada aconteceu

Em três anos, apenas dois foram vendidos
Em 2021, a pressão popular e internacional em torno do escândalo das Maserati forçou o governo da Papua Nova Guiné a se pronunciar oficialmente.
O então ministro das Finanças, John Pundari, admitiu em entrevista ao jornal Post Courier que a compra dos veículos de luxo havia sido um “erro terrível”.
Segundo ele, os carros seriam colocados à venda com um desconto significativo.
Pundari reconheceu que a operação careceu de planejamento e lógica. O ministro foi direto: “Se tivéssemos tido alguma visão de futuro, os Maseratis não teriam sido comprados em primeiro lugar. Cometemos um erro terrível. Se não existem concessionárias de Maserati na Papua-Nova Guiné, não havia motivo para comprar Maseratis.”

A cena de dezenas de carros italianos de luxo, estacionados na pista de um aeroporto em Port Moresby enquanto o país enfrentava um surto de poliomielite, virou símbolo do contraste entre o luxo político e a realidade social.
A repercussão interna foi severa. O economista Paul Barker, diretor executivo do Instituto de Assuntos Nacionais da Papua-Nova Guiné, classificou a compra como um “desperdício inaceitável de recursos públicos”.
Em suas palavras, a decisão “demonstra uma grave falta de visão e uma decepcionante disposição para desperdiçar fundos públicos, em um país em desenvolvimento onde bens básicos – de estradas a serviços de saúde – são amplamente indisponíveis ou extremamente precários.”
Afinal, qual foi o destino dos carros de luxo?
Segundo reportagem publicada em 10 de outubro de 2024, o governo da Papua Nova Guiné ainda tentava vender 33 das 40 unidades. As unidades estavam no cais T-Wharf, Port Moresby, à espera de compradores.
O anúncio exigia dos interessados uma taxa de K500 para acesso ao edital de venda, inspeção agendada para um sábado, entre 10h e 14h locais.
Em valor, cada unidade tinha preço pedido de K500 000, ou cerca do equivalente à metade ou menos do custo de aquisição original.
Apesar desse esforço, a revenda segue lenta; somente duas unidades haviam sido vendidas até então.
Isso significa que o Estado permanece com dezenas de carros de luxo parados, gerando custos de armazenamento e depreciação – num contexto onde o foco deveria recair sobre saúde, educação e infraestrutura básica.
Os carros foram vendidos em 2025?
Considerando a data das últimas informações confiáveis, e a ausência de fontes confiáveis posteriores que anunciem a venda total, a conclusão é que a maior parte da frota ainda permanece não vendida em 2025.
Em resumo: embora o governo da Papua Nova Guiné tenha dado sinais de que está tentando se desfazer da frota de luxo – com anúncios de licitação, redução de preço e esforços de revenda – não há evidência pública de que todas as 40 unidades tenham sido efetivamente vendidas até 2025. O caso permanece emblemático de um investimento controverso que virou fardo patrimonial.


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