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Num país marcado por corrupção e miséria, políticos compraram 40 Maserati de luxo – anos depois, os veículos seguem parados e enferrujando após terem sido usados apenas uma vez

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 10/11/2025 às 23:24
Governo comprou 40 Maserati; após uso único, veículos milionários seguem encalhados e enferrujando em depósitos públicos
Governo comprou 40 Maserati; após uso único, veículos milionários seguem encalhados e enferrujando em depósitos públicos
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Em 2018, o governo da Papua Nova Guiné comprou 40 Maserati de luxo para transportar líderes da APEC. A promessa era revender depois do evento, mas seis anos se passaram e os carros continuam esquecidos.

No coração da Oceania, o país de Papua Nova Guiné se encontra em uma encruzilhada entre enormes riquezas naturais e desafios sociais assombrosos. Apesar de possuir minas de ouro, cobre e gás em profusão, grande parte da população vive em situações de extrema vulnerabilidade.

Estima-se que cerca de 40% dos cidadãos viviam com menos de US$ 2 dólares por dia ao redor de 2018.

O país também convive com sérios problemas de governança, fragilidade institucional, corrupção e eficiência questionável dos gastos públicos.

Em meio a esse cenário, a decisão de adquirir uma frota de carros de luxo para a cúpula da APEC Leaders’ Summit 2018 – sediada em Port Moresby – provocou forte reação da sociedade civil, da imprensa internacional e de órgãos de controle.

O evento foi gigantesco. A prova disso foi a presença de Xi Jinping, presidente da China, como vemos na imagem abaixo.

Imagem oficial do encontro, em 2018.

A decisão e os modelos escolhidos

Em meados de 2018, o governo liderado por Peter O’Neill negociou a importação de aproximadamente 40 unidades do sedã de luxo Maserati Quattroporte para o transporte de chefes de Estado e delegações durante a cúpula da APEC, marcada para os dias 17 e 18 de novembro desse ano.

Cada carro custou mais de US$ 100 mil (na cotação da época), e as unidades foram transportadas de Milão em aviões cargueiros. A justificativa oficial: após o evento, o setor privado compraria os veículos, de modo que o Estado supostamente não suportaria o ônus da compra.

Cinco dos 40 Maseratis transportados para Papua Nova Guiné

Linha do tempo dos eventos

Durante os dois dias de reunião, em novembro de 2018, os carros desfilaram pelas avenidas recém-asfaltadas da capital. Após o evento, o governo prometeu que a frota seria revendida a empresas locais, evitando prejuízo aos cofres públicos. No entanto, essa revenda jamais se concretizou.

Após o evento, os carros foram levados para um galpão enorme, coberto de poeira e claramente inadequado para abrigar veículos de luxo. A venda deveria ser rápida, mas as semanas, os meses e os anos se passaram – e nada aconteceu

Em três anos, apenas dois foram vendidos

Em 2021, a pressão popular e internacional em torno do escândalo das Maserati forçou o governo da Papua Nova Guiné a se pronunciar oficialmente.

O então ministro das Finanças, John Pundari, admitiu em entrevista ao jornal Post Courier que a compra dos veículos de luxo havia sido um “erro terrível”.

Segundo ele, os carros seriam colocados à venda com um desconto significativo.

Pundari reconheceu que a operação careceu de planejamento e lógica. O ministro foi direto: “Se tivéssemos tido alguma visão de futuro, os Maseratis não teriam sido comprados em primeiro lugar. Cometemos um erro terrível. Se não existem concessionárias de Maserati na Papua-Nova Guiné, não havia motivo para comprar Maseratis.

A cena de dezenas de carros italianos de luxo, estacionados na pista de um aeroporto em Port Moresby enquanto o país enfrentava um surto de poliomielite, virou símbolo do contraste entre o luxo político e a realidade social.

A repercussão interna foi severa. O economista Paul Barker, diretor executivo do Instituto de Assuntos Nacionais da Papua-Nova Guiné, classificou a compra como um “desperdício inaceitável de recursos públicos”.

Em suas palavras, a decisão “demonstra uma grave falta de visão e uma decepcionante disposição para desperdiçar fundos públicos, em um país em desenvolvimento onde bens básicos – de estradas a serviços de saúde – são amplamente indisponíveis ou extremamente precários.

Afinal, qual foi o destino dos carros de luxo?

Segundo reportagem publicada em 10 de outubro de 2024, o governo da Papua Nova Guiné ainda tentava vender 33 das 40 unidades. As unidades estavam no cais T-Wharf, Port Moresby, à espera de compradores.

O anúncio exigia dos interessados uma taxa de K500 para acesso ao edital de venda, inspeção agendada para um sábado, entre 10h e 14h locais.

Em valor, cada unidade tinha preço pedido de K500 000, ou cerca do equivalente à metade ou menos do custo de aquisição original.

Apesar desse esforço, a revenda segue lenta; somente duas unidades haviam sido vendidas até então.

Isso significa que o Estado permanece com dezenas de carros de luxo parados, gerando custos de armazenamento e depreciação – num contexto onde o foco deveria recair sobre saúde, educação e infraestrutura básica.

YouTube Video

Os carros foram vendidos em 2025?

Considerando a data das últimas informações confiáveis, e a ausência de fontes confiáveis posteriores que anunciem a venda total, a conclusão é que a maior parte da frota ainda permanece não vendida em 2025.

Em resumo: embora o governo da Papua Nova Guiné tenha dado sinais de que está tentando se desfazer da frota de luxo – com anúncios de licitação, redução de preço e esforços de revenda – não há evidência pública de que todas as 40 unidades tenham sido efetivamente vendidas até 2025. O caso permanece emblemático de um investimento controverso que virou fardo patrimonial.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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