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Marinha da Austrália testa navegação por gravidade para substituir GPS em cenários críticos

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 16/07/2025 às 11:20
GPS, navegação
Foto: Reprodução
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Com os sinais de GPS cada vez mais vulneráveis a falsificações e interrupções, a Marinha da Austrália testou uma nova tecnologia que promete mudar completamente a forma como navios se orientam em alto-mar

A Marinha da Austrália concluiu um teste de campo com uma tecnologia inovadora que pode mudar a forma como navios se orientam no mar. O experimento, conduzido a bordo do navio MV Sycamore, testou sensores quânticos de navegação baseados na gravidade, desenvolvidos pela empresa AQ-CTRL.

O principal objetivo é oferecer uma alternativa segura e confiável ao GPS, que vem sofrendo com falsificações e interrupções em diferentes regiões do mundo.

Navegação sem depender do GPS

O teste envolveu um gravímetro duplo quântico, um equipamento capaz de detectar pequenas variações no campo gravitacional da Terra.

Esse tipo de medição funciona como uma espécie de “bússola gravitacional”, que permite identificar a posição de uma embarcação mesmo sem sinal de GPS.

O CEO da Q-CTRL, Michael J. Biercuk, explicou que, ao contrário de outras tentativas anteriores de usar sensores quânticos, o diferencial da empresa está no foco em software.

Operar em um veículo em movimento real não é a mesma coisa que conduzir um experimento científico. Na Q-CTRL, adotamos uma abordagem diferente para tirar sensores quânticos do laboratório, focando no software como o facilitador crítico do desempenho no mundo real”, afirmou Biercuk.

Testes em mar aberto e em operação real

Durante o teste, o sensor operou por 144 horas ininterruptas sem qualquer interferência humana.

Ele foi instalado dentro de um rack de servidor, localizado na sala de comunicações do navio MV Sycamore. A instalação exigiu pouca energia: apenas 180 W, valor inferior ao consumo de uma torradeira comum.

A tecnologia foi submetida a vibrações intensas e ao movimento constante da embarcação. Ainda assim, conseguiu registrar dados úteis e operar de forma eficaz, superando as limitações comuns em outros testes científicos.

A robustez do software permitiu que a operação continuasse mesmo quando técnicas convencionais falharam diante das condições adversas do ambiente marítimo.

Um novo caminho diante da negação de GPS

A interrupção ou falsificação de sinais de GPS tem causado prejuízos significativos.

Nos Estados Unidos, estima-se que interrupções breves gerem perdas superiores a um bilhão de dólares por dia. Além disso, há impactos diretos na aviação comercial e nas operações marítimas globais.

Um caso recente, iniciado em 23 de junho, revelou a gravidade do problema.

Navios navegando em hidrovias do Oriente Médio enfrentaram sinais falsos, o que prejudicou sistemas de prevenção de colisões e expôs falhas graves na segurança de navegação.

A adoção da navegação gravimétrica surge como uma resposta prática e segura. Ao não depender de sinais externos, como os do GPS, essa tecnologia evita interferências e amplia a confiabilidade da navegação em cenários estratégicos e de risco.

Sensores quânticos ganham destaque

O uso de sensores quânticos fora dos laboratórios é uma das grandes promessas para o setor de defesa.

Jean-Francois Bobier, vice-presidente de Deep Tech do Boston Consulting Group, afirmou que o mercado global de detecção quântica pode alcançar entre US$ 3,3 bilhões e US$ 5 bilhões até 2030.

Segundo Bobier, “especialmente em meio a casos crescentes de negação de GPS, sensores quânticos validados em campo são mais importantes do que nunca para a segurança da navegação”.

Esses sensores funcionam observando mudanças na gravidade da Terra. O sistema compara os dados recebidos com mapas gravitacionais já conhecidos, de forma semelhante a como uma pessoa usa pontos de referência em um mapa.

Com isso, mesmo sem sinal de GPS, é possível identificar a posição de forma precisa e contínua.

Um marco para aplicações no mundo real

O projeto desenvolvido pela Q-CTRL se destaca por ter sido realizado em apenas 14 meses, desde a criação até a implantação no mar. Isso mostra um avanço em termos de agilidade e viabilidade operacional.

Além disso, o sistema desenvolvido pela empresa é compacto e eficiente.

Ao atingir recordes nos quesitos de tamanho, peso e consumo de energia, o sensor se mostra compatível com o uso em embarcações reais e pronto para missões de defesa.

A Marinha Real Australiana pôde acompanhar de perto a performance dessa tecnologia em uma situação prática. O sistema precisou funcionar de forma autônoma, sem nenhum suporte externo, exatamente como seria necessário em uma missão real.

A navegação por gravidade, validada pela Q-CTRL em parceria com a Marinha da Austrália, representa uma solução promissora para um problema que afeta operações militares e civis em todo o mundo.

Com sensores quânticos cada vez mais adaptados ao uso fora dos laboratórios, abre-se espaço para um novo padrão de segurança, especialmente em ambientes onde o GPS se mostra instável, ineficaz ou comprometido.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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