Com os sinais de GPS cada vez mais vulneráveis a falsificações e interrupções, a Marinha da Austrália testou uma nova tecnologia que promete mudar completamente a forma como navios se orientam em alto-mar
A Marinha da Austrália concluiu um teste de campo com uma tecnologia inovadora que pode mudar a forma como navios se orientam no mar. O experimento, conduzido a bordo do navio MV Sycamore, testou sensores quânticos de navegação baseados na gravidade, desenvolvidos pela empresa AQ-CTRL.
O principal objetivo é oferecer uma alternativa segura e confiável ao GPS, que vem sofrendo com falsificações e interrupções em diferentes regiões do mundo.
Navegação sem depender do GPS
O teste envolveu um gravímetro duplo quântico, um equipamento capaz de detectar pequenas variações no campo gravitacional da Terra.
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Esse tipo de medição funciona como uma espécie de “bússola gravitacional”, que permite identificar a posição de uma embarcação mesmo sem sinal de GPS.
O CEO da Q-CTRL, Michael J. Biercuk, explicou que, ao contrário de outras tentativas anteriores de usar sensores quânticos, o diferencial da empresa está no foco em software.
“Operar em um veículo em movimento real não é a mesma coisa que conduzir um experimento científico. Na Q-CTRL, adotamos uma abordagem diferente para tirar sensores quânticos do laboratório, focando no software como o facilitador crítico do desempenho no mundo real”, afirmou Biercuk.
Testes em mar aberto e em operação real
Durante o teste, o sensor operou por 144 horas ininterruptas sem qualquer interferência humana.
Ele foi instalado dentro de um rack de servidor, localizado na sala de comunicações do navio MV Sycamore. A instalação exigiu pouca energia: apenas 180 W, valor inferior ao consumo de uma torradeira comum.
A tecnologia foi submetida a vibrações intensas e ao movimento constante da embarcação. Ainda assim, conseguiu registrar dados úteis e operar de forma eficaz, superando as limitações comuns em outros testes científicos.
A robustez do software permitiu que a operação continuasse mesmo quando técnicas convencionais falharam diante das condições adversas do ambiente marítimo.
Um novo caminho diante da negação de GPS
A interrupção ou falsificação de sinais de GPS tem causado prejuízos significativos.
Nos Estados Unidos, estima-se que interrupções breves gerem perdas superiores a um bilhão de dólares por dia. Além disso, há impactos diretos na aviação comercial e nas operações marítimas globais.
Um caso recente, iniciado em 23 de junho, revelou a gravidade do problema.
Navios navegando em hidrovias do Oriente Médio enfrentaram sinais falsos, o que prejudicou sistemas de prevenção de colisões e expôs falhas graves na segurança de navegação.
A adoção da navegação gravimétrica surge como uma resposta prática e segura. Ao não depender de sinais externos, como os do GPS, essa tecnologia evita interferências e amplia a confiabilidade da navegação em cenários estratégicos e de risco.
Sensores quânticos ganham destaque
O uso de sensores quânticos fora dos laboratórios é uma das grandes promessas para o setor de defesa.
Jean-Francois Bobier, vice-presidente de Deep Tech do Boston Consulting Group, afirmou que o mercado global de detecção quântica pode alcançar entre US$ 3,3 bilhões e US$ 5 bilhões até 2030.
Segundo Bobier, “especialmente em meio a casos crescentes de negação de GPS, sensores quânticos validados em campo são mais importantes do que nunca para a segurança da navegação”.
Esses sensores funcionam observando mudanças na gravidade da Terra. O sistema compara os dados recebidos com mapas gravitacionais já conhecidos, de forma semelhante a como uma pessoa usa pontos de referência em um mapa.
Com isso, mesmo sem sinal de GPS, é possível identificar a posição de forma precisa e contínua.
Um marco para aplicações no mundo real
O projeto desenvolvido pela Q-CTRL se destaca por ter sido realizado em apenas 14 meses, desde a criação até a implantação no mar. Isso mostra um avanço em termos de agilidade e viabilidade operacional.
Além disso, o sistema desenvolvido pela empresa é compacto e eficiente.
Ao atingir recordes nos quesitos de tamanho, peso e consumo de energia, o sensor se mostra compatível com o uso em embarcações reais e pronto para missões de defesa.
A Marinha Real Australiana pôde acompanhar de perto a performance dessa tecnologia em uma situação prática. O sistema precisou funcionar de forma autônoma, sem nenhum suporte externo, exatamente como seria necessário em uma missão real.
A navegação por gravidade, validada pela Q-CTRL em parceria com a Marinha da Austrália, representa uma solução promissora para um problema que afeta operações militares e civis em todo o mundo.
Com sensores quânticos cada vez mais adaptados ao uso fora dos laboratórios, abre-se espaço para um novo padrão de segurança, especialmente em ambientes onde o GPS se mostra instável, ineficaz ou comprometido.