Uma planta industrial da Kia Motors na Índia se torna cenário de um esquema de furtos de peças. Mistério e falta de pistas geram um alerta global para o setor automotivo.
Um dos maiores escândalos industriais recentes envolve a montadora sul-coreana Kia Motors e a sua fábrica na Índia, onde mais de 900 motores desapareceram misteriosamente ao longo de quase cinco anos sem levantar suspeitas imediatas.
A planta localizada em Penukonda, no distrito de Sri Sathya Sai, no estado indiano de Andhra Pradesh, é responsável por produzir centenas de milhares de veículos anualmente.
No entanto, uma auditoria interna realizada no encerramento das operações de 2024 revelou o sumiço de centenas de motores, indicando um esquema altamente organizado que pode ter envolvido diversos funcionários.
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Auditoria revela um golpe silencioso
A revelação veio à tona apenas após uma revisão minuciosa dos inventários, feita como parte do balanço anual de 2024, segundo informações do jornal Times of India.
A auditoria levantou inconsistências que, posteriormente, foram atribuídas ao desaparecimento sistemático de motores inteiros — componentes volumosos, pesados e de alto valor.
Desde então, a polícia indiana intensificou as investigações, com foco especial em funcionários e ex-funcionários com acesso direto aos setores de logística e montagem.
Um porta-voz da polícia, em entrevista à agência PTI, confirmou que os furtos começaram em 2020 e foram sendo executados ao longo de cinco anos, sem que nenhum alarme fosse disparado ou irregularidade fosse detectada por sistemas internos de controle.
Foco na linha de montagem e logística interna
Inicialmente, havia a hipótese de que os motores estivessem sendo desviados durante o transporte entre unidades fabris.
Contudo, as investigações indicam que o esquema foi executado diretamente dentro da própria fábrica, aproveitando-se de brechas na logística e no controle de estoque.
A planta de Penukonda abastece o mercado local com modelos populares da Kia como Sonet, Seltos, Carens e o recente Syros, um SUV voltado ao público jovem.
Com uma produção anual que varia entre 300 mil e 400 mil unidades, o volume de peças em circulação é tão grande que um desaparecimento pontual poderia facilmente passar despercebido, sobretudo em um ambiente com processos altamente automatizados e equipes rotativas.
Ainda assim, especialistas do setor afirmam que é incomum que um volume tão expressivo de componentes desapareça sem deixar rastros concretos.
Suspeita de atuação interna e mercado paralelo
As autoridades acreditam que os motores tenham sido vendidos ilegalmente no mercado paralelo, onde há alta demanda por peças originais de montadoras renomadas.
Motores completos são itens de grande valor, podendo render dezenas de milhares de dólares no mercado negro, especialmente se revendidos para oficinas clandestinas ou exportados para países vizinhos com menor rigor fiscal.
A polícia trabalha com a hipótese de que o esquema envolvia não apenas o desvio físico dos motores, mas também a falsificação de registros, de modo a mascarar as perdas como defeitos ou sucatas reaproveitadas.
Esse tipo de crime corporativo exige conhecimento técnico, acesso privilegiado e, principalmente, um planejamento sofisticado.
Kia ainda não se pronunciou oficialmente
Apesar da gravidade da situação, a Kia Motors ainda não divulgou um comunicado oficial detalhado sobre o caso.
A empresa limitou-se a confirmar que uma auditoria detectou inconsistências e que está colaborando com as investigações.
Segundo especialistas em segurança industrial e logística, o caso representa um alerta preocupante para a indústria automotiva global, onde o crescimento da produção e a digitalização dos processos não garantem, por si só, o controle absoluto sobre o inventário físico.
Empresas com cadeias produtivas extensas e múltiplas unidades operacionais estão especialmente vulneráveis a fraudes internas, e casos como o da Kia mostram que a supervisão humana ainda desempenha papel crucial, mesmo em ambientes com forte presença de tecnologias automatizadas.
Repercussão no setor e investigações em andamento
O caso tem gerado repercussão internacional e sido acompanhado de perto por especialistas do setor automotivo.
Embora a perda financeira estimada ainda não tenha sido divulgada, acredita-se que o prejuízo ultrapasse os 5 milhões de dólares, considerando o valor médio de cada motor e os custos associados ao transporte, seguro e auditoria.
Enquanto isso, a polícia segue mapeando os movimentos logísticos da fábrica e entrevistando funcionários que atuaram na planta nos últimos anos.
A complexidade do caso, porém, exige tempo: trata-se de uma operação criminosa de longa duração, com possíveis ramificações fora da Índia.
Não está descartada, inclusive, a possibilidade de envolvimento de intermediários internacionais na receptação das peças, o que pode elevar o caso à esfera de investigação federal e até mesmo internacional, caso haja evidência de exportação ilegal.
Outras montadoras reforçam sistemas de segurança
Diante do episódio, outras montadoras que atuam no território indiano, como Hyundai, Tata Motors e Mahindra, estão reavaliando seus sistemas internos de rastreamento e controle de estoque.
Algumas delas já anunciaram o reforço de seus sistemas de vigilância, com a adoção de tecnologias como etiquetas RFID (Identificação por Rádio Frequência), sensores de pesagem em tempo real e algoritmos de detecção de anomalias.
Empresas do setor alertam que a prevenção de furtos internos deve envolver não apenas a tecnologia, mas também a capacitação constante dos funcionários, auditorias frequentes e uma cultura organizacional que valorize a transparência e a ética.
Um sinal de alerta para a indústria global
O caso da Kia expõe uma vulnerabilidade que vai além da empresa sul-coreana.
Em um mercado globalizado, onde fábricas são terceirizadas e linhas de montagem operam com ritmo frenético para atender à demanda, o controle rigoroso de peças e insumos torna-se um desafio crescente.
Especialistas alertam que a automatização não elimina a necessidade de vigilância humana — pelo contrário, pode mascarar lacunas que criminosos internos aprendem a explorar com o tempo.
Agora, o setor automotivo observa com atenção o desenrolar do caso. A expectativa é de que, nos próximos meses, novos desdobramentos revelem a extensão exata do esquema e seus impactos para a imagem da Kia, bem como para o modelo de produção fabril moderno.
Você acredita que outras fábricas ao redor do mundo também estão vulneráveis a esquemas como esse? Já imaginou como tantos motores podem ter sumido sem chamar atenção?