Inadimplência no rotativo do cartão atinge 57,6% no Brasil, nível historicamente alto. Juros abusivos e uso para despesas básicas agravam o problema.
A inadimplência no rotativo do cartão de crédito atingiu 57,6% no Brasil, segundo dados consolidados do Banco Central e analisados pela Genial Investimentos. Apesar de uma leve queda de 1,2 ponto percentual no mês, o índice ainda permanece em um nível historicamente alto e preocupa bancos, fintechs e reguladores.
O rotativo é acionado quando o consumidor paga apenas o valor mínimo ou parte da fatura, acumulando o saldo restante com juros que chegam a ultrapassar 450% ao ano nos bancos tradicionais. Com taxas tão elevadas, qualquer atraso prolongado cria um efeito multiplicador da dívida, colocando milhões de brasileiros em situação de risco financeiro.
Rotativo do cartão: o crédito mais caro do país
O cartão de crédito é a modalidade mais cara do mercado. Quando o cliente não paga a fatura integral, o saldo vai para o rotativo, que tem prazo máximo de 30 dias por determinação do Banco Central. Depois desse período, o valor é obrigatoriamente parcelado, com juros mais baixos que o rotativo puro, mas ainda muito acima de outras linhas de crédito.
-
Governo muda regras de contratação de serviços e mistura aumentos de até 43% com cortes e flexibilização trabalhista
-
Dívida pública: Brasil pode perder capacidade de investir em até cinco anos se dívida seguir crescendo no ritmo atual
-
Brasil puxa a fila dos corredores andinos e provoca efeito dominó com calendário de rotas, integração nacional e atalhos logísticos rumo aos portos do Pacífico
-
Fintechs desafiam bancos tradicionais e cobram quase três vezes menos juros no cartão — diferença expõe custo abusivo do mercado tradicional
Na média, as fintechs oferecem condições melhores: juros anuais no rotativo de cerca de 167%, contra 451% dos bancos tradicionais. Ainda assim, o custo elevado mantém a inadimplência alta, já que a maioria dos consumidores não consegue quitar o saldo rapidamente.
Por que a inadimplência está tão alta?
Analistas apontam uma combinação de fatores que explicam o índice de 57,6%:
- Desaceleração econômica: o poder de compra das famílias está comprometido pelo custo de vida elevado, empurrando mais pessoas para o uso do crédito como complemento de renda.
- Acesso fácil ao cartão: a emissão facilitada e os limites iniciais relativamente altos estimulam o uso sem planejamento.
- Uso para despesas básicas: supermercados, contas de energia, água e internet cada vez mais pagos no crédito, o que acumula valores difíceis de liquidar.
Impacto para bancos e consumidores
Para o sistema financeiro, uma inadimplência tão elevada significa aumento nas provisões para devedores duvidosos e risco de queda nas margens. Para os consumidores, representa a escalada de dívidas impagáveis e a possibilidade de negativação, que restringe o acesso a novos créditos.
Mesmo com a política do Banco Central para limitar o tempo no rotativo, o problema não diminuiu significativamente, mostrando que a questão vai além da regulamentação e está ligada ao uso recorrente do cartão como extensão da renda.
Como sair do rotativo e evitar o endividamento
Especialistas recomendam priorizar a quitação total da fatura, negociar a dívida com o banco para buscar taxas mais baixas e, se possível, migrar para modalidades como crédito pessoal ou consignado, que costumam ter juros menores. Além disso, reduzir o número de cartões ativos e manter um controle rígido das despesas pode evitar o acúmulo no rotativo.
Se nada mudar, a inadimplência no rotativo pode seguir pressionando o sistema financeiro e dificultando a recuperação econômica de milhões de famílias. A grande questão é se bancos e emissores de cartão vão repensar suas estratégias de crédito — ou continuar lucrando com juros recordes enquanto consumidores se afundam em dívidas.