Em entrevista, Lula defende exploração de petróleo pela Petrobras na foz do Amazonas, apesar das críticas ambientais e da meta mundial de redução de combustíveis fósseis. Presidente reforça que nenhum país está pronto para abrir mão do petróleo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou em entrevista à BBC News Brasil, nesta quarta-feira, 17/09, que o abandono definitivo dos combustíveis fósseis, como o petróleo, não é uma realidade viável no presente. Para Lula, a transição energética precisa ocorrer de forma responsável e adaptada às necessidades de cada país.
“Eu quero saber qual é o país do planeta que está preparado para ter uma transição energética capaz de abdicar do combustível fóssil”, afirmou o presidente, destacando que a exploração planejada na Margem Equatorial não contradiz os compromissos ambientais assumidos pelo Brasil.
Projeto da Petrobras na Margem Equatorial
A Petrobras conduz um projeto de prospecção de petróleo na Margem Equatorial, localizada a cerca de 500 km da foz do rio Amazonas e a mais de 160 km da costa do Amapá. O objetivo é perfurar um poço exploratório em águas profundas, iniciativa que já recebeu aprovação do plano de prevenção do Ibama, mas que ainda depende da conclusão do processo de licenciamento ambiental.
-
ABESPetro confirma novo conselho de administração para o biênio 2026/2028 com reforço estratégico da Baker Hughes e Subsea 7
-
Estoques de Petróleo Bruto dos Estados Unidos caem em 9,3 milhões de barris: o impacto nos preços do WTI e Brent
-
Saiba tudo sobre o próximo Leilão da Petrobras, que conta com áreas de petróleo no pré-sal da Bacia de Santos
-
Petrobras aposta em Macaé com projeto bilionário para capturar 100 mil toneladas de CO₂ por ano e acelerar a corrida rumo a 2050
A estatal defende que a confirmação de reservas significativas de petróleo nessa região pode abrir uma nova fronteira energética estratégica para o Brasil. Segundo a companhia, essa expansão também pode contribuir para que a transição energética do país seja realizada de maneira “justa, segura e sustentável”.
Apesar da defesa do governo federal e da Petrobras, a exploração na foz do Amazonas gera polêmica. Ambientalistas alertam para os riscos de um possível vazamento de petróleo em uma região altamente sensível, com ecossistemas únicos e diretamente conectados à Amazônia.
O tema também expôs divergências internas. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, já declarou ser contrária à iniciativa. Contudo, reforçou que a decisão será tomada com base em critérios técnicos, e não políticos.
Lula, por sua vez, argumenta que a Petrobras possui a “melhor tecnologia de prospecção em águas profundas” e ressalta o histórico da empresa. “Nunca teve um incidente”, disse o presidente, afirmando que, caso haja qualquer problema, o governo será responsável por adotar as medidas necessárias.
Pressões internacionais e metas globais
A posição de Lula contrasta com recomendações da Agência Internacional de Energia (AIE), que defende a suspensão imediata de novos projetos de petróleo e gás como parte da estratégia global para alcançar a neutralidade de carbono até 2050. Essa medida é considerada essencial para limitar os efeitos das mudanças climáticas e reduzir a dependência dos combustíveis fósseis.
Críticos da exploração na Margem Equatorial afirmam que insistir em abrir novas frentes de produção de petróleo enfraquece os compromissos climáticos internacionais e pode prejudicar a imagem do Brasil como liderança ambiental.
A COP30 e a vitrine amazônica
A entrevista também trouxe reflexões sobre a realização da COP30 em Belém (PA), marcada para novembro. Lula reconhece os desafios logísticos e os altos preços de hospedagem na capital paraense, mas reforçou a importância simbólica da escolha.
“A COP foi escolhida para ser feita na Amazônia porque eu quero que o mundo, ao invés de falar sobre a Amazônia, conheça a Amazônia”, declarou. O presidente afirmou ainda: “Eu quero que as pessoas que estão preocupadas com as florestas venham conhecer a floresta. É muito fácil fazer uma COP em Paris, em Dubai.”
Segundo Lula, a conferência será a maior já organizada pelo Brasil e deve se tornar uma vitrine para mostrar ao mundo tanto os desafios ambientais quanto os avanços na transição energética nacional.
Durante a entrevista, Lula buscou reforçar o diferencial do Brasil em relação a outros países. Ele destacou que cerca de 90% da matriz elétrica brasileira é limpa, composta por hidrelétricas, energia eólica, solar e biomassa.
“Nós estamos fazendo a maior revolução na transição energética que algum país está fazendo”, afirmou. O presidente defendeu que esse perfil já coloca o Brasil em posição de liderança mundial na área, mesmo enquanto mantém projetos de exploração de petróleo em andamento.