Petrobras volta ao pódio global das petroleiras mais lucrativas com forte avanço operacional, após salto de 140% no lucro no 1º semestre de 2025, em meio a recorde de produção e efeitos cambiais que impulsionaram o resultado.
A Petrobras voltou ao pódio das petroleiras mais lucrativas do planeta no 1º semestre de 2025.
A estatal brasileira fechou o período com lucro líquido de US$ 10,7 bilhões, avanço de 140% sobre igual intervalo de 2024, e ficou atrás apenas da Saudi Aramco e da ExxonMobil.
Com isso, superou rivais europeias como Shell e TotalEnergies e registrou seu melhor posicionamento desde 2020.
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Recorde de produção compensa queda do Brent
O ganho ocorreu em um cenário de queda de cerca de 15% no preço do Brent. Mesmo assim, a companhia compensou o ambiente de preços com um salto na produção de óleo e gás.
Em julho de 2025, a produção média alcançou 2,47 milhões de barris por dia, número 380 mil barris acima do observado no 4º trimestre de 2024.
Segundo a própria estatal, a tendência permite projetar o fechamento do ano próximo ao limite superior da meta anual de 2,8 milhões de boe/d (barris de óleo equivalente por dia).
Ainda que o resultado contábil tenha surpreendido, parte do desempenho decorre de efeitos classificados como não recorrentes — itens que não refletem a operação típica do negócio.
A companhia informou ganhos de US$ 5,2 bilhões com variação cambial no semestre.
Sem esse impulso extraordinário, o lucro ajustado soma US$ 8,1 bilhões, o que representa queda próxima de 25% na comparação anual.
Indicadores financeiros mostram pressões
Do ponto de vista operacional e financeiro, os números do semestre apontam direções distintas.
O Ebitda ajustado, desconsiderando eventos exclusivos, ficou em US$ 20,9 bilhões, retração de 14% frente ao 1º semestre de 2024.
O recuo foi atribuído à combinação de petróleo mais barato e despesas maiores, inclusive com provisões ligadas a acordos de individualização da produção.
Na linha do lucro, a fotografia também muda quando se retira o efeito de itens não recorrentes.
Embora o lucro líquido reportado tenha mais que dobrado, o lucro ajustado recuou e sugere um ambiente de margens mais apertadas.
Em outras palavras, a rentabilidade estrutural não cresceu na mesma proporção do resultado final divulgado.
Especialistas pedem cautela com os resultados
Para José Mendes, consultor de finanças corporativas na StoneX, o balanço requer uma análise cuidadosa.
Segundo ele, “sem esses efeitos, o lucro ajustado cai para US$ 8,1 bilhões, queda de quase 25% versus o lucro ajustado do 1º semestre de 2024, mostrando pressão sobre a rentabilidade estrutural”.
O especialista acrescentou que, apesar do avanço no número principal, “o resultado ajustado reflete pressões relevantes – como queda do preço do Brent, aumento de despesas e provisões ligadas a acordos de individualização da produção. A performance operacional foi consistente, mas o número contábil precisa ser interpretado com profundidade”.
Na avaliação de mercado, leituras desse tipo costumam separar o que é efeito de volatilidade de câmbio e preços de commodities do que deriva do desempenho recorrente da empresa.
Petrobras retoma 3ª posição no ranking global
No comparativo internacional, a estatal retomou a 3ª posição entre as gigantes do setor no 1º semestre de 2025.
A Saudi Aramco manteve a liderança, com US$ 22,8 bilhões em lucro, seguida pela norte-americana ExxonMobil, com US$ 18,2 bilhões.
A Petrobras apareceu logo depois, à frente da Shell (US$ 7,3 bilhões) e da TotalEnergies (US$ 7 bilhões).
O movimento contrasta com o desempenho de 2024, quando a brasileira havia caído para a 7ª colocação, pior marca em seis anos.
Esse reposicionamento resulta de uma combinação de produção elevada, ganhos de escala em projetos maduros do pré-sal e fatores pontuais como a valorização cambial no período.
Em paralelo, grupos europeus foram afetados pela normalização das margens de refino e pela sazonalidade do gás, o que ajudou a estreitar a distância no ranking.
Produção em alta sustenta metas de 2025
O dado de julho reforça a tendência de recuperação do volume extraído.
A companhia vem indicando que a performance do parque de plataformas, somada à entrada de novos poços e à gestão de paradas programadas, tende a manter a produção próxima do topo da meta anual.
Nesse ritmo, o resultado operacional deve seguir robusto no segundo semestre, desde que não ocorram interrupções não planejadas de grande porte.
A parcela de gás natural acompanhou o avanço do óleo e contribuiu para o mix de produção no período.
Ao mesmo tempo, a curva de investimentos permanece concentrada em ativos de maior produtividade, estratégia que, segundo executivos do setor, reduz custo unitário e suaviza o impacto de oscilações do Brent nas margens.
Rentabilidade estrutural ainda enfrenta desafios
Apesar do impulso operacional, a compressão do Ebitda ajustado indica que a rentabilidade enfrenta obstáculos.
Entre os vetores de pressão estão a despesa financeira, a atualização de provisões associadas a individualização de áreas com óleo e gás e a normalização das margens de derivados após picos observados em 2022 e 2023.
Em um ambiente de preços internacionais mais baixos, a disciplina de custos e a eficiência logística ganham centralidade para preservar o caixa.
O comportamento do câmbio permanece como variável-chave. No semestre, a apreciação do real ante o dólar gerou efeito positivo na linha de resultado financeiro.
Entretanto, trata-se de um componente volátil e, por definição, não recorrente.
Para mensurar a geração de valor recorrente, analistas tendem a se apoiar em métricas como Ebitda ajustado, fluxo de caixa livre e alavancagem, além da execução das metas de produção.
O que esperar para o segundo semestre
Com as principais operações puxadas pelo pré-sal, a Petrobras entra na segunda metade do ano com um conjunto de riscos e catalisadores conhecidos.
Entre os riscos, figuram variações abruptas no Brent, eventuais paradas não programadas e a evolução de custos operacionais.
Do lado positivo, a continuidade do rampa-up de sistemas de produção, a estabilidade operacional das unidades existentes e a gestão de portfólio podem sustentar volumes elevados.
No plano competitivo, a manutenção do pódio de lucratividade dependerá também do desempenho das rivais.
A Aramco se beneficia do perfil de custos e do mix de produtos no Golfo Pérsico, enquanto a ExxonMobil tem entregado ganhos consistentes com projetos em águas profundas e shale.
Já Shell e TotalEnergies vêm ajustando portfólios e priorizando retornos de capital, movimentos que podem reconfigurar o ranking dependendo do ciclo de preços.
Síntese dos resultados
O balanço do 1º semestre expõe uma fotografia de força operacional combinada a efeitos contábeis relevantes.
O lucro reportado avançou e recolocou a Petrobras entre as três mais lucrativas do mundo, enquanto os indicadores ajustados apontam uma realidade mais austera, com margens espremidas por Brent mais fraco e despesas maiores.
Em paralelo, a produção recorde sustenta a narrativa de escala e eficiência, criando espaço para a estatal buscar suas metas de 2025 mesmo em um cenário externo menos favorável.
Diante desses sinais mistos, a pergunta que fica para o investidor e para o leitor é direta: a combinação de produção crescente e disciplina de custos será suficiente para manter a Petrobras no pódio global caso os efeitos não recorrentes diminuam no próximo semestre?