A COP 30 foi pauta em workshop realizado no Rio de Janeiro com a participação da EPE e do ONS. O encontro destacou justiça energética, inovação digital, expansão dos data centers, energia limpa e sustentabilidade no setor elétrico, preparando o Brasil para os debates da conferência do clima em novembro
A COP 30 já começou a movimentar discussões importantes no Brasil, mesmo antes de novembro, segundo uma matéria publicada.
No último dia 24 de setembro, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) promoveram, no Rio de Janeiro, um workshop preparatório que reuniu especialistas para tratar de temas que estão no centro da agenda mundial: justiça energética, inovação e sustentabilidade.
O encontro buscou aproximar o país dos desafios da conferência do clima e apresentar caminhos práticos para tornar o setor elétrico mais justo, eficiente e preparado para o futuro.
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O evento contou com mesas de debates que mostraram como projetos, estudos e indicadores podem ajudar a reduzir desigualdades no acesso à energia, além de trazer soluções para demandas crescentes, como a expansão dos data centers e o uso de novas tecnologias.
As falas dos especialistas da EPE e do ONS apresentaram dados, previsões e estratégias que estão sendo trabalhadas para tornar o Brasil mais competitivo e preparado para a transição energética.
Justiça energética e o combate à pobreza energética
A COP 30 terá como uma de suas pautas centrais a justiça energética, e esse foi o foco da participação da superintendente de Estudos Econômico-Energéticos e Ambientais da EPE, Carla Achão.
Durante a mesa da manhã, ela apresentou o projeto Tecendo Conexões, desenvolvido em conjunto com o Ministério de Minas e Energia (MME) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
O projeto busca monitorar e enfrentar a pobreza energética no país. Esse conceito é definido como a situação em que famílias ou comunidades não conseguem acessar uma cesta básica de serviços energéticos ou não têm suas necessidades supridas de forma adequada.
Segundo a EPE, acabar com esse problema é um dos objetivos do Plano Nacional de Energia (PNE) 2055 e também do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 7 (ODS7), que trata do acesso universal à energia limpa.
Carla destacou ainda a importância do Observatório Brasileiro de Erradicação da Pobreza Energética (OBEPE), que reúne dados e indicadores capazes de mostrar como o problema está distribuído pelo país e quais estratégias podem ser adotadas.
Essa iniciativa reforça o papel da EPE no planejamento de longo prazo e conecta a justiça energética ao debate que será intensificado durante a COP 30.
Inovação digital e os desafios dos data centers
A segunda mesa do workshop trouxe como foco a relação entre a COP 30, a inovação digital e o crescimento dos data centers.
Daniel José Tavares de Souza, consultor técnico da Superintendência de Transmissão de Energia da EPE, apresentou números que mostram a dimensão desse desafio.
A previsão é que a demanda de energia para data centers no Brasil alcance 19,8 GW até 2038, sendo a maior parte concentrada em São Paulo, que sozinho soma 33 pedidos de conexão à Rede Básica, contra 29 nos outros estados.
Daniel explicou um impasse conhecido como “problema do ovo e da galinha”: os investidores só aplicam recursos em grandes plantas de carga se houver garantias de conexão à rede, mas a rede só é expandida se houver confirmação desses investimentos.
Para superar essa dificuldade, a EPE tem realizado estudos prospectivos de expansão da transmissão, permitindo antecipar soluções e incluir novas obras no planejamento do setor elétrico.
Segundo o especialista, esse movimento é fundamental porque a explosão do uso da inteligência artificial tende a aumentar a demanda por data centers, tornando o tema um desafio global que a COP 30 ajudará a colocar em debate.
Energia limpa e armazenamento no sistema interligado
Outro ponto em destaque no workshop foi a relação entre a COP 30 e o avanço das fontes de energia limpa no Brasil.
André Makishi, analista da Superintendência de Geração de Energia da EPE, reforçou que o armazenamento de energia será cada vez mais importante para dar suporte à expansão das renováveis.
Ele citou que esse recurso já começa a ser incorporado em estudos de planejamento e aparece como alternativa relevante para garantir segurança ao sistema elétrico interligado.
Entre as medidas, Makishi mencionou o Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP) como um instrumento que abre espaço para a inserção do armazenamento de energia na matriz elétrica.
Esse processo permitirá equilibrar o crescimento das fontes renováveis e a estabilidade da rede, mostrando que inovação e sustentabilidade caminham juntas no planejamento da transição energética que será debatida na COP 30.
Sustentabilidade e infraestrutura no centro dos investimentos
O workshop também mostrou como a COP 30 está conectada à discussão sobre sustentabilidade e infraestrutura no setor elétrico.
Segundo Daniel Souza, os grandes projetos de data centers demandam centenas de megawatts e dependem de regiões com infraestrutura robusta. Isso explica por que a região metropolitana de São Paulo e Campinas concentram o maior número de investimentos.
O especialista destacou, porém, que a rede existente não foi planejada para atender cargas tão elevadas. Por isso, torna-se essencial prever com clareza onde e quanto de energia será necessário no futuro, garantindo que os estudos da EPE possam orientar novos investimentos.
A previsibilidade será chave para atrair capital e criar um ambiente mais sustentável, pontos que estarão em evidência durante a COP 30.