Publicação no Instagram atribuiu à jovem americana Alyssa Carson uma missão da NASA para Marte, mas informações oficiais desmentem a narrativa e mostram que não há seleção nem anúncio de voo humano confirmado.
A publicação que circulou nesta quarta-feira (24) no Instagram, atribuindo à americana Alyssa Carson, 24 anos, um convite da NASA para integrar “a primeira missão tripulada para Marte, só de ida”, é falsa.
Não há anúncio oficial de missão humana a Marte com data definida, nave designada, orçamento aprovado, cronograma público e tripulação nomeada.
Tampouco há confirmação de que Carson faça parte do corpo de astronautas da agência norte-americana.
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A NASA mantém estratégia e estudos para o objetivo “Lua para Marte”, mas isso não equivale a um manifesto de voo com nomes e prazos fechados.
NASA e planos de voo para Marte
Além da ausência de plano de voo, a checagem em registros públicos mostra que Carson não integra a lista de astronautas ativos da NASA e não aparece nas turmas mais recentes de candidatos apresentadas pela agência.
A relação oficial de astronautas e os anúncios das turmas de 2021 e de 2025 não trazem o nome dela.
A agência detalha uma arquitetura de longo prazo para levar humanos ao planeta vermelho, com etapas que passam pelo retorno sustentado à Lua, validação de sistemas de suporte de vida, proteção radiológica e integração de cargas e veículos.
Esses documentos descrevem objetivos e elementos do programa, não um voo específico nem uma tripulação definida.
Em outras palavras, tratam da infraestrutura e do caminho tecnológico, não de uma missão “só de ida”.
Projetos de “ida sem volta”, por sua vez, não estão em curso na esfera institucional.
A iniciativa privada Mars One, que prometia colonização marciana sem retorno, foi à falência em 2019, sem tirar nenhuma missão do papel.
Postagem no Instagram com informações falsas viralizou:
Quem é Alyssa Carson
Carson ganhou visibilidade desde a adolescência ao declarar o sonho de ser a primeira pessoa em Marte.
Participou de programas educacionais, de acampamentos e de simulações privadas ligadas a STEM e exploração espacial, atuação que a projetou como divulgadora do tema.
Isso, porém, não a torna astronauta de carreira, nem candidata selecionada pela NASA para uma missão.
Fichas biográficas e verificações independentes reforçam que ela não é afiliada à agência e que conteúdos que a descrevem como “astronauta em treinamento” com a NASA reproduzem um rótulo incorreto.
Narrativa sem lastro técnico
A narrativa viral combina traços biográficos reais — interesse de longo prazo pela exploração espacial e atuação como divulgadora — com um elemento inexistente: a seleção para um voo humano a Marte.
Publicações institucionais que anunciam tripulações costumam trazer janela de lançamento, veículo, objetivos, perfil de nave e manifesto de voo.
Nada disso aparece em canais oficiais no caso citado.
A própria arquitetura “Moon to Mars” explicita que não é “um manifesto, nem um conjunto de requisitos” de uma missão específica.
Enquanto isso, a agenda tripulada próxima da NASA está concentrada nas missões Artemis, que visam orbitas lunares e retorno à superfície da Lua como etapa anterior a Marte.
Essa sequência pública contrasta com a ideia de um salto direto, imediato e sem volta ao planeta vermelho.
Como a desinformação ganhou alcance
O post brasileiro no Instagram reuniu milhares de interações e comentários com leituras díspares.
Uma usuária escreveu “To quase fazendo o mesmo que ela”, em adesão hipotética.
Outra associou o suposto “só de ida” a sacrifício vocacional: “Gente, tem que amar mesmo essa profissão… segundo o Google, são 9 meses até chegar lá”. Também houve ironia e desabafo: “Não tá perdendo nada… Faria o mesmo”.
Perguntas recorrentes sustentaram o alcance: “Agora uma dúvida: por que ela nunca mais vai voltar pra Terra?” e “Será que ainda tem vaga? Paga passagem?”. Outros demonstraram inquietação com isolamento e saúde: “nossa, ia ser tão solitário… morre lá e não tem um hospital”.
As menções políticas apareceram, assim como comentários de vida cotidiana.
Em meio à multiplicidade de vozes, um perfil resumiu pontos de checagem e resgatou o histórico de projetos fracassados: “A moça da foto… não foi escolhida para ir a Marte… O que existiu… foi o Mars One… cancelado”.
Como identificar posts enganosos
Em conteúdos com pretensão de oficialidade, a conduta segura é conferir, nos canais da própria agência, se existe anúncio institucional com janela de lançamento, veículo, orçamento, objetivos, cronograma e tripulação nomeada.
A NASA publica de forma transparente a lista de astronautas ativos e divulga as novas turmas de candidatos, o que permite checar se determinado nome consta ou não do quadro.
A inexistência desses elementos é sinal de alerta.
Também é útil identificar se textos sobre “missão a Marte” citam documentos operacionais básicos, como manifesto de voo, plano de integração e testes, perfil de nave e descrição de objetivos.
Ausências sucessivas sugerem se tratar de narrativa viral construída sobre traços biográficos verdadeiros e suposições não verificadas.
Verificações jornalísticas anteriores já desmentiram versões parecidas envolvendo Carson, reforçando que não há seleção oficial para um voo humano a Marte envolvendo a jovem.
O caminho técnico até Marte
Missões tripuladas para além da órbita da Terra exigem validação de sistemas críticos: suporte de vida por meses, blindagem contra radiação, logística de cargas, reentrada com segurança e capacidade de manutenção remota.
A própria literatura técnica e as comunicações oficiais da agência deixam claro que o caminho passa por degraus tecnológicos e operacionais até que um voo tripulado a Marte seja viável — e de ida e volta.
Quando um post ignora essa sequência e surge sem documentos, tende a estar desconectado da prática da exploração espacial contemporânea.
Resultado da checagem
Com base nas informações públicas mais recentes, não há missão humana a Marte anunciada com tripulação, data e arquitetura de “só de ida”.
Não há registro oficial de que Alyssa Carson tenha sido selecionada como astronauta da NASA. E o projeto mais citado quando se fala em “ida sem volta”, o Mars One, não existe mais desde 2019.
A publicação que viralizou, portanto, não encontra lastro documental e induz a erro ao sugerir que uma “jovem de 24 anos” foi escolhida e teria “aceitado” não voltar à Terra.