Javali avança sem controle no Brasil, ameaça lavouras e rebanhos, pressiona o Congresso e coloca em debate descentralização, bonificação e aproveitamento da carne
A presença descontrolada de javalis e javaporcos nas áreas rurais brasileiras voltou a acender um alerta no Congresso Nacional e entre entidades do agronegócio. Considerada uma das maiores pragas invasoras do país, a espécie destrói lavouras, ameaça a biodiversidade e coloca em risco a sanidade dos rebanhos.
Estudos mostram que o Brasil precisará abater mais de um milhão de javalis em 2025 para reduzir os danos.
Em 2024, foram eliminados cerca de 500 mil animais, mas esse número não foi suficiente para frear o avanço populacional.
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Segundo a Associação Brasileira de Caçadores Aqui Tem Javali, a população segue crescendo de forma descontrolada.
Esses animais podem causar prejuízos de até 40% em lavouras de milho e soja em algumas regiões. Além disso, degradam o solo, comprometem nascentes e ameaçam espécies nativas.
O mais preocupante, no entanto, é o risco sanitário: o javali transmite doenças como peste suína clássica e febre aftosa.
Isso pode comprometer o status sanitário do Brasil como país livre da aftosa e afetar a competitividade do agro nos mercados internacionais.
Bomba-relógio para o agronegócio
Para Rafael Salerno, presidente da Associação Brasileira de Caçadores Aqui Tem Javali, a situação já se tornou uma “bomba-relógio contra o agro brasileiro”.
Ele afirma que é um erro comparar o controle de javalis com a caça ilegal de espécies nativas, como capivaras ou onças.
“Graças à incompetência e complacência das autoridades tornou-se impossível extinguir esses animais. O esforço deve ser direcionado a reduzir ao máximo os danos, como já ocorre em outros países”, disse. A visão dele reforça a urgência de políticas públicas específicas.
Descentralização do controle
O deputado Alceu Moreira (MDB-RS), coordenador institucional da Frente Parlamentar da Agropecuária, tem sido uma das vozes mais firmes nessa discussão.
Em entrevista ao Compre Rural, ele destacou o Projeto de Lei 4253/2025, que busca retirar o controle exclusivo do Ibama e descentralizar o manejo para estados e municípios.
Segundo Moreira, quem vive nas regiões afetadas conhece melhor a realidade e deve ter autonomia para agir. “Não é correto imaginar que autoridades municipais sejam menos responsáveis que o Ibama. Elas têm meios locais para fazer o controle. Precisamos de uma regulamentação nacional que dê liberdade conforme as necessidades sanitárias e populacionais”, afirmou.
Bonificação de caçadores
Outro ponto defendido pelo deputado é a criação de um sistema de bonificação para caçadores credenciados.
A ideia é transformar o combate em uma política pública eficiente, dando escala ao manejo. Esse modelo já é adotado em países como Alemanha e Estados Unidos.
“Se o javali ameaça a economia e a saúde pública, o controle deve ser dever do Estado, assim como no combate à dengue. Mas, se o Estado não assume sozinho, precisa remunerar quem faz. Só com incentivos será possível garantir um controle efetivo e em larga escala”, explicou.
Aproveitamento da carne dos javalis
O parlamentar também defende o aproveitamento da carne de javali. Para ele, descartar uma proteína de qualidade seria um desperdício.
Com fiscalização adequada, o abate poderia abastecer frigoríficos regionais e atender à demanda alimentar.
“Se o javali abatido estiver saudável, basta uma inspeção veterinária bem feita. Essa carne pode ser destinada ao consumo humano. É um recurso que não deve ser tratado como inservível, especialmente em um país com tantas pessoas precisando de proteína”, argumentou.
Resistência e entraves ideológicos
Apesar da urgência, Moreira reconhece que há forte resistência ideológica em torno do tema. Setores contrários ao uso de armas e à atividade dos caçadores dificultam a aprovação de medidas mais abrangentes.
“Existe a desconfiança de que, autorizando a caça do javali, o caçador vá caçar outras espécies. Isso é um absurdo. O país não pode ser regulado pela desconfiança”, declarou.
Segundo ele, caçadores de javali seguem regras, estão em associações e não querem perder seus direitos. Ignorar a gravidade do problema por preconceito ideológico seria uma irresponsabilidade capaz de colocar toda a economia em risco.
Pressão por mudanças no controle dos javalis
O javali já não é apenas um problema ambiental. Tornou-se uma ameaça direta ao agro, à segurança alimentar e à sanidade dos rebanhos.
A proposta defendida por Alceu Moreira aponta para uma nova política baseada na descentralização, na bonificação de caçadores e no aproveitamento da carne.
A pressão de parlamentares e entidades do setor indica que o Congresso pode acelerar a tramitação dos projetos. Caso contrário, o país corre o risco de enfrentar uma crise sanitária de grandes proporções.
Com informações de Compre Rural.