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Japão inaugura usina osmótica: ela gera eletricidade a partir de água salgada, convertendo a diferença de salinidade em energia limpa para 220 residências

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 27/08/2025 às 09:01
Japão inaugura usina osmótica: ela gera eletricidade a partir de água salgada, convertendo a diferença de salinidade em energia limpa para 220 residências
Foto: Reprodução
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O Japão deu um passo inédito na Ásia ao inaugurar em Fukuoka sua primeira usina de energia osmótica. A novidade coloca o país na rota da chamada energia azul, que transforma a diferença de salinidade entre águas em eletricidade limpa e contínua, sem depender de sol ou vento.

O Japão inaugurou em Fukuoka sua primeira usina de energia osmótica, tornando-se o segundo país do mundo, depois da Dinamarca, a operar essa tecnologia em larga escala.

O feito representa um marco não apenas para a Ásia, mas também para a expansão da chamada energia azul, que começa a deixar os laboratórios e ganhar aplicação prática.

A planta foi promovida pela Agência de Água do Distrito de Fukuoka e iniciou suas operações em 5 de agosto.

A usina deve produzir cerca de 880.000 quilowatts-hora por ano. Essa energia será destinada diretamente a uma instalação de dessalinização que abastece Fukuoka e regiões vizinhas, garantindo fornecimento elétrico limpo, estável e livre de emissões de carbono.

O Japão, portanto, abre caminho para o uso de um recurso praticamente inesgotável: a diferença de salinidade entre águas doces e salgadas.

Como funciona a energia osmótica

A energia osmótica se baseia em um princípio simples: a diferença de sal entre duas massas de água. No caso da usina japonesa, uma membrana semipermeável separa a água tratada de uma estação de esgoto da água do mar concentrada.

Quando a água doce atravessa a membrana em direção ao lado mais salgado, ocorre pressão. Essa pressão é suficiente para movimentar uma turbina e gerar eletricidade continuamente, sem depender de sol ou vento.

Diferente da energia solar e eólica, a osmótica funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, com operação estável.

O processo ainda está em desenvolvimento, mas já apresenta avanços importantes. Por isso, especialistas apontam a tecnologia como um complemento viável para as redes renováveis existentes.

Obstáculos e avanços tecnológicos

Um dos maiores desafios históricos dessa fonte de energia está nas membranas. Elas precisam ter grande área de superfície e são sensíveis a atrito e perdas de pressão. Isso reduzia a eficiência e a viabilidade econômica dos projetos.

Nos últimos anos, porém, empresas como a japonesa Toyobo desenvolveram soluções mais robustas. Em Fukuoka, foram usadas membranas de osmose direta de fibra oca, criadas para maximizar o fluxo de água e reduzir perdas de energia.

Outro avanço importante foi a adoção da salmoura residual de usinas de dessalinização em vez de água do mar convencional. Essa solução aumenta o gradiente de salinidade e, portanto, a pressão osmótica disponível para conversão em eletricidade.

A experiência internacional

A planta japonesa segue a inauguração, em 2023, da primeira usina comercial de energia osmótica em Mariager, na Dinamarca. Antes disso, Noruega e Coreia do Sul haviam testado projetos-piloto.

Além desses países, universidades e startups da Espanha, Catar e Austrália desenvolvem protótipos. Entre os destaques está a francesa Sweetch Energy, que aposta na chamada Difusão Nano Osmótica Iônica (INOD). Essa tecnologia usa materiais de base biológica e estruturas nanométricas para melhorar a seletividade iônica e reduzir perdas. Ainda em fase de validação, promete impacto econômico e ambiental positivo.

Potencial de expansão

Apesar da capacidade atual ainda modesta — a usina de Fukuoka conseguiria abastecer aproximadamente 220 residências por ano — o potencial global é expressivo. Estimativas indicam que deltas, estuários e regiões costeiras poderiam gerar até 2.000 terawatts-hora anuais. Isso equivale a quase 10% da demanda mundial de eletricidade.

Outra vantagem é a possibilidade de integração com estruturas já existentes, como estações de tratamento de água e usinas de dessalinização. Essa estratégia pode reduzir custos, aumentar a eficiência e fornecer eletricidade limpa diretamente nas comunidades locais.

Vantagens ambientais e estratégicas

A energia osmótica não depende de combustíveis fósseis, não gera emissões diretas e apresenta baixo impacto ambiental. Seu funcionamento constante a torna ideal para apoiar a transição energética em locais onde solar e eólica têm limitações.

Além disso, sua implementação em áreas urbanas costeiras oferece a chance de descentralizar a geração elétrica, fortalecendo a segurança energética e diminuindo a dependência de grandes centrais.

O Japão, ao adotar a tecnologia, sinaliza ao mundo a busca por alternativas que conciliam sustentabilidade e estabilidade no fornecimento.

Caminhos para o futuro

Para que a energia osmótica se torne competitiva, especialistas apontam três frentes principais. Primeiro, o investimento contínuo em pesquisa e desenvolvimento de membranas mais eficientes e acessíveis.

Segundo, a formação de parcerias com operadores de água para instalar usinas em estruturas já disponíveis. E terceiro, a criação de regulamentações que reconheçam oficialmente a energia osmótica como estratégica para a matriz renovável.

Projetos-piloto em regiões fluviais urbanas e áreas com alta produção de salmoura também são vistos como oportunidades para acelerar a validação comercial.

Portanto, mesmo que ainda esteja nos primeiros estágios, a energia osmótica mostra potencial significativo. Se receber apoio adequado, pode se transformar em peça-chave para diversificar a matriz energética mundial e reforçar a sustentabilidade em larga escala.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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